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 Marcelo Moreira

A pandemia de covid-19 obrigou artistas e bandas e ficarem em casa inventando coisas pra fazer. Foram milhares de lives, ensaios abertos e transmitidos ao vivo e entrevistas longas e tediosas com fãs, quando não meros vídeos enfadonhos e sem conteúdo.

Alguns aproveitaram para finalizar álbuns, outros compuseram inspirados na pandemia e mais alguns decidiram desengavetar projetos sempre engatilhados para momentos de falta de inspiração.

Entre os projetos que costumam sair em tempos difíceis estão os famigerados acústicos e os álbuns de covers (versões para canções de outros artistas), que sempre quebram o galho.

Duas bandas boas partiram para a segunda opção, que é mais rápida e barata de operar nos intervalos proporcionados por crises mundiais ou de inspiração. 

No começo de janeiro o cantor Sammy Hagar (ex-Van Halen) lançou o álbum gravado remotamente com sua banda de apoio, The Circle repleto de versões de respeito. Tocam ele Michael Anthony no baixo (outro ex-Van Halen), Vic Johnson nas guitarras e Jason Bonham na bateria.

“Lockdown 2020” tomou forma ainda no ano passado, como o nome do álbum evidencia. Para passar o tempo, com cada um dos músicos em seus estúdios particulares, o grupo fez uma versão bem bacana de “Won’t Get Fooled Again”, de The Who, canção que já havia sido registrada ao vivo pelo Van Halen em 1993.

O clima foi tão bom, assim como o resultado, que os quatro registraram mais algumas canções para o disco de covers, uma forma mais em conta de manter o trabalho em alta.

Tudo bem que Hagar não deixou barato e regravou três canções de seus tempos de Van Halen – “Good Enough”, “Right Now” e “Don’t Tell Me (What Love Can Do)”, em versões muito reverentes e parecidas com as originais.

“Won’t Get Fooled Again”, já citada, perde em energia e parece ter sido gravada de forma indolente – certamente foi a versão inicial a registrada neste álbum.

Já “For What It’s Worth”, do Buffalo Springfield, é mais interessante, com um vocal mais bem trabalhado e uma guitarra cheia de groove que acrescentou algo de novo a esse clássico.

Outra boa ideia foi “Heroes”, de David Bowie, bem fiel à original, mas com um molho meio diferente, também com bastante groove e um baixo mais proeminente. Merece destaque ainda uma versão mais festiva e menos pesada de “Whole Lotta Rosie”, do AC/DC. Um belo passatempo, mas que deverá interessar somente aos fãs de Hagar e de sua fase no Van Halen.

Mais uma banda de veteranos, a inglesa Saxon, arquivou o projeto de disco novo no começo da pandemia, em 2020. Não foi difícil encontrar uma saída por conta da paralisação do mundo por conta doença. O tão sonhado disco de covers finalmente saiu do papel.

“Inspirations”, que deve sair em março e com versão física brasileira por conta da Hellion Records, terá 11 canções de bandas gigantescas, como Beatles, Rolling Stones, Deep Purple, Led Zeppelin, Black Sabbath e Motorhead.

A banda, em princípio, tentou fugir do óbvio, como em “Paperback Writer”, dos Beatles, mas acabou caindo no lugar comum no caso do Deep Purple”, com “Speed King”, muito gravada por meio mundo.

 Foi o segundo segundo single a ser lançado e ficou muito reverente à original, com guitarras menos agressivas do que de costume. O primeiro single, “Paint It Black”, dos Stones, outra obviedade, também ficou devendo, pois merecia ter o peso característico do Saxon, e isso ficou faltando.

Portanto, é para temermos a versão de “Immigrant Song”, do Led Zeppelin, caso venha com a mesma falta de vigor, ou “The Rocker”, do Thin Lizzy, que é uma canção fantástica e extremamente agressiva.

Do Motorhead, a banda promete uma versão de “Bomber”; de Jimi Hendrix, a bombásticas “Stone Free”; do AC/DC, a sacana e sarcástica “Problem Child”. Que as primeiras versões já divulgadas não sejam a tônica deste esperado álbum de covers do Saxon.