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Ricardo Gozzi – do site Roque Reverso

Era o início dos anos 1970 e o Led Zeppelin encontrava-se nos últimos degraus da escada para o céu que faria a banda dispor acesso irrestrito a praticamente qualquer coisa que desejasse.

Ainda restavam alguns degraus a serem galgados, porém.

Lançado em outubro de 1970, “Led Zeppelin III”, como sabemos hoje, foi a antessala da apoteose da banda britânica.

Mas quando tudo está acontecendo ao mesmo tempo agora, a única certeza é a do momento que se está vivendo. O resto é conjectura.

Lançado o terceiro álbum, a banda fez algo impensável para a época: deu um tempo nas turnês e se embrenhou num sítio para avaliar o trabalho feito até ali e decidir como prosseguir.

O blues, o rock pesado, a lisergia e a música folclórica foram os elementos explorados separadamente – e com êxito – nos três primeiros discos do Led Zeppelin. O desafio da banda passara a ser amalgamá-los.

Mas era 1970 ninguém dava um tempo. Era tudo ou nada. Agora ou nunca. As bandas seguiam na estrada e lançavam um disco por ano ou acabavam. Havia ainda uma hipótese pior: cair no limbo do ostracismo.

Robert Plant, Jimmy Page, John Paul Jones e John Bonham internaram-se em Headley Grange, no interior da Inglaterra, e levaram consigo a famosa – e concorrida – unidade móvel de gravação dos Rolling Stones.

Os executivos da Atlantic Records ficaram com a pulga atrás da orelha. Não havia bares na região e, segundo John Paul Jones, o local carecia de “opções de lazer”. Cada um interprete como preferir. O Led Zeppelin só queria juntar as pontas.

No sossego de Headley Grange, eles compuseram quase todas as músicas do álbum conhecido como “Led Zeppelin IV”, que foi lançado em 8 de novembro de 1971.

“Black Dog” deixa o ouvinte de queixo caído logo de cara. O nome da música é homenagem a um cachorro preto que zanzava pelos arredores do sítio.

“Rock and Roll” é o que o próprio nome diz, o rock’n’roll em estado puro, definitivo.

“The Battle of Evermore” traz a paz que as guerras são incapazes de produzir e a única vocalização feminina em uma canção do Led Zeppelin em toda a sua trajetória. Sandy Denny, vocalista do Fairport Convention, empresta sua bela voz à banda em um sensacional dueto com Robert Plant.

O Lado A termina com “Stairway to Heaven”, sobre a qual qualquer comentário é desnecessário.

Estruturado quase do mesmo modo, o Lado B começa no embalo de “Misty Mountain Hop” e emplaca uma desabalada carreira em “Four Sticks” até ser contido por “Going to California”.

O disco é encerrado com a magistral apropriação pela banda de “When the Levee Break”, clássico do blues raiz gravado originalmente por Memphis Minnie e Kansas Joe McCoy.

Mas como comentei lá no começo, o Led Zeppelin estava prestes a ter o mundo a seus pés, mas ainda não tinha.

A banda entrega uma obra-prima e começam a surgir os engenheiros de obra pronta. A gravadora queria um disco com nome. Aquele negócio de Led Zeppelin I, II e III não soava bem, segundo os executivos.

Pois a banda resolveu que o disco não teria nome mesmo. Não seria “Led Zeppelin IV”, apesar de assim ter entrado para a posteridade, nem seria mais nada.

Os músicos bateram o pé e a única inscrição no encarte é a dos quatro símbolos desenhados a mão escolhidos um por cada membro.

“Vai ser suicídio profissional”, decretou um ‘Zé Ruela’ qualquer a Jimmy Page em meio às discussões provavelmente acaloradas sobre o nome – ou falta de – do disco.

Pois o suposto suicídio profissional do Led Zeppelin completa nesta segunda-feira, 8 de novembro, meio século desde seu lançamento com mais de 37 milhões de cópias vendidas no mundo todo.

É o maior sucesso comercial da história da maior banda de rock de todos os tempos.