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 Marcelo Moreira

Um mundo novo, mas certamente nem um pouco admirável. Mais do recomeçar do zero, o setor de entretenimento precisará de uma reconstrução em todos os sentidos, apostando em novos conceitos e em estratégias diferenciadas para sobreviver e avançar em uma era pós-pandemia. A questão agora é: quando vislumbraremos alguma perspectiva?

Enquanto a devastação do vírus segue derrubando casas de espetáculos, não se sabe como e onde começará a essa reconstrução. 

Alguns poucos enxergam possibilidades de investimento e oportunidades, com dinheiro em caixa, mas a imensa maioria já sabe: o mundo novo será espartano e restrito no recomeço.

Em São Paulo, o maior símbolo da destruição é o fechamento do antigo Credicard hall, a maior casa fechada da cidade especializada em espetáculos, com uma capacidade de 7,5 mil pessoas. 

No interior do Estado, foram várias as casas encerrando as atividades, a principal delas o Bar do Montanha, em Limeira, que colocou a cidade no roteiro de shows internacionais de pequeno e médio portes. 

Em pouco se tornou um dos “points” roqueiros mais importantes do Brasil, mas pandemia de covid-19 corroeu as finanças dos proprietários. Sem apoio financeiro e linhas de crédito que possibilitassem algum fôlego, 20 anos foram transformados apenas em lembranças.

Em Belo Horizonte (MG), a baixa foi o Stonehenge, tradicional refúgio de roqueiros atrás de som autoral e boas bandas de versões (covers). Foram anos de excelentes serviços prestados e é mais uma casa tragada pela pandemia.

Se antes faltavam locais para que artistas de jazz, blues e rock pudessem manter as atividades sem ter de se sujeitar a situações vexatórias, agora o cenário é desolador. 

São recorrentes os relatos de empresários que buscaram alguma ajuda financeira, oficial ou não, para adquirir fôlego para alguns meses, mas foram olimpicamente rejeitados. 

Enquanto o mundo discute se abre ou não templos e igrejas, as casas de shows e bares que recebem espetáculos ficam à míngua, com nenhum crédito disponível. 

O nefasto governo federal diz que existe a grana, mas os bancos simplesmente ignoram fato, impondo tamanhas dificuldades que acaba sendo menos traumático fechar as portas. 

Isso é política de Estado de auxílio a quem precisa? Cadê o (des)governo para cobrar os bancos e exigir a liberação do dinheiro? 

Onde estão os recursos da Lei Aldir Blanc que não chegam aos artistas e profissionais do setor cultural que mais precisam? Por que esse desinteresse em investigar os descaminhos por onde o dinheiro escapa?

A volta dos shows passa por mais isolamento social e vacinação em massa. Se as coisas estiverem mais ou menos parecidas com a normalidade que um dia tivemos talvez possamos ver alguma possibilidade no horizonte, sempre sabendo que o segmento de shows, gastronomia e artes em geral será o último a alcançar algum tipo de estabilidade.

Diante de tamanha incerteza, como será possível reconstruir o nosso mundo? São as respostas que todos perseguem em mais de um ano de pandemia e cancelamento total de shows. 

A Austrália, que lentamente retoma as atividades culturais, talvez seja o parâmetro a partir de agora, mas sempre com cautela. Ainda é cedo, infelizmente, para sonhar com o nosso admirável mundo novo, que talvez nem seja admirável e nem tão novo…