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Titãs em 2022 (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Quarenta anos e roda não para. Reduzidos a um terço do que eram, os Titãs na maturidade ainda buscam fugir do óbvio, como na ópera-rock “12 Flores Amarelas”, mas gostam bastante de beber em um passado glorioso, como no mais recente single, “Caos”, onde misturam crítica política e muito bom humor. 

De alma leve e mostrando ainda grane carisma, a banda mantém a relevância e com uma estrutura que a diferencia de seus contemporâneos, É essa visão diferente que foi abordada em interessante texto do jornalista Julio Maria, publicada recentemente no jornal O Estado de São Paulo e em seu site – www.estadao.com.br.

Mais do que um grupo proeminente do rock brasileiro, os Titãs são um fenômeno estrutural de 40 anos sem nenhuma referência parecida em outra organização grupal do rock no planeta. 

Nove integrantes eram uma ousadia quando trios e quartetos estavam em alta (aliás, isso nunca foi diferente): Paralamas do Sucesso, RPM, Legião Urbana, Engenheiros do Hawaii, Ultraje a Rigor, Camisa de Vênus, Ira!, Plebe Rude. 

O rock nacional reproduzia o sistema da redução eletrificada do que um dia foi uma extensa big band. Aos poucos, o baixo acústico saiu dessa redução para o elétrico entrar e o piano foi substituído por duas guitarras, base e solo, para, algum tempo depois, voltar reencarnado em forma de teclados

Mas os Titãs eram nove criaturas criativas, nove bandleaders colaboradores, nove caras prontos para assumirem a frente de qualquer projeto paralelo. Que outro grupo foi assim? 

O rock se fortaleceu com estruturas centralizadoras e lideranças, de preferência, messiânicas. Renato Russo, a maior delas por aqui, se foi para mostrar o outro lado dessa moeda. 

Um grupo escorado a uma figura central de tamanha força será imediatamente extinto assim que perder seu líder. Sem Nasi não existiria o Ira!; sem Marcelo Nova, não haveria Camisa de Vênus; sem Humberto Gessinger, os Engenheiros seriam inviáveis. 

Mas sem Arnaldo Antunes, sem Marcelo Fromer, sem Nando Reis, sem Paulo Miklos e sem Charles Gavin, os Titãs ainda pulsam Não como antes, assim como o Ira!, com os originais Nasi e Scandurra, não pulsam como antes, mas ainda pulsam.


Ao decidirem não corporativizar a marca, ou seja, não preencher suas vagas abertas pela evasão de talentos com músicos novos, os Titãs foram desidratados mas não se distanciaram de si mesmos. 

E o normal, mostra a história, não é esse: o Whitesnake, depois de um entra e sai danado, contabiliza 64 integrantes. O Iron Butterfly, também 64. O Guns N’ Roses, 23. O Fleetwood Mac, 18. 

Uma necessidade de palco e de dinheiro insana que, muitas vezes, os fizeram soar desfigurados. Mas o rock admite reinos bipartites, desde que seus agentes tenham funções bem definidas. Mick Jagger é o 1, Keith Richards, o 2. Axl Rose o 1, Slash, o 2. Paul o 1, John, e isso não poderia mesmo ir muito longe, outro 1. 

Cazuza era o 1, e o que salvou o Barão Vermelho do fim depois de sua saída foi ter um 2 tão competente quanto. Frejat assumiu e até melhorou a banda, mas nunca teve um 2, e o que aconteceu com o Barão depois de sua saída foi, apesar dos esforços de um vocalista substituto, algo parecido com o fim. A vida descentralizada dos Titãs até parecia uma festa, mas não era.”