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Ricardo Gozzi – do site Roque Reverso

“Appetite for Destruction” saiu nos Estados Unidos em 1987. Os tempos, porém, eram outros. O grande hit radiofônico do álbum de estreia do Guns N’ Roses – “Sweet Child O’Mine” – estouraria no Brasil somente em 1989.

Quando isso aconteceu, o segundo álbum da banda californiana – “GN’R Lies” – já estava disponível na loja de disco mais próxima – eram muitas, creia-me.

Com o lançamento da MTV Brasil, em 1990, o Guns N’ Roses tornou-se uma febre entre os adolescentes da época, principalmente pelo videoclipe de “Patience”, que liderou o Top 10 da emissora por anos a fio.

A quantidade de jovens que passava nas lojas de disco só pra perguntar quando sairia o próximo disco do Guns – para os íntimos – era tamanha que não seria de estranhar se algum vendedor pendurasse uma plaquinha anticomercial na vitrine: NÃO, NÃO TEMOS O NOVO DISCO DO GUNS N’ ROSES, PORRA!

Apenas dois anos separaram “Lies” de “Use Your Illusion”, que completa 30 anos neste dia 17 de setembro de 2021. E o intervalo era incomum. Pela filosofia da indústria fonográfica da época, quando um artista fazia sucesso, um intervalo superior a um ano entre um disco e outro significa o risco de queda no esquecimento.

Aqueles dois anos, porém, pareciam uma década. “Sweet Child O’Mine” e “Patience” eram executadas à exaustão nas rádios, em detrimento de músicas hoje consideradas clássicas do Guns N’ Roses.

Para mitigar o risco de que a banda caísse no esquecimento, a gravadora Geffen promoveu duas ações bastante pontuais entre 1989 e 1991: emplacou o cover de “Knockin’ On Heaven’s Door” na trilha sonora do filme “Dias de Trovão”, estrelado pelo então superstar Tom Cruise, e liberou uma versão editada de “Civil War”, que teve a bateria gravada por Steven Adler em sua última atuação em estúdio antes de sua conturbada saída da banda.

A propósito, dizem que não era fácil fazer parte do Guns N’ Roses na época. Adler sucumbiu às pirações de Axl Rose. Slash e Duff McKagan passavam os dias chapados com heroína correndo nas veias. E Izzy Stradlin’ havia ficado careta e não queria reincidir no vício em heroína por nada no mundo.

O fato é que o disco seguinte do Guns N’ Roses era uma joia em lapidação pela indústria fonográfica, mas as informações disponíveis na época eram pra lá de escassas.

Hoje se sabe que Axl Rose estava pirando com o estrelato – e também com os sintetizadores da época – e estava no nível de implicar com os solos de Slash, que nos meses finais produção enviava as fitas (sim, fitas) por motoboy para não ter que trombar com Axl no estúdio.

No meio desse processo, em janeiro de 1991, Roberto Medina trouxe o Guns como atração principal do Rock In Rio II. Os shows foram catárticos. E proporcionaram novos vislumbres do que estava por vir.

Diversas canções inéditas foram executadas ao vivo pela primeira vez nos dois shows que o Guns fez no festival. Logo em seguida, “You Could Be Mine” apareceria na trilha sonora do filme “O Exterminador do Futuro II” com um videoclipe revolucionário para os padrões da época.

Nos meses seguintes, as informações surgiam em pílulas. Primeiro falou-se em um disco duplo. Falou-se em seguida no lançamento simultâneo e mundial de dois discos duplos.

Entre os fãs brasileiros, a única apreensão era de falta de dinheiro em um cenário de inflação fora de controle.

E na mesma semana em que os discos foram distribuídos às lojas brasileiras, a gravadora espertamente enviou os discos às rádios.

Em São Paulo, a 89FM tocou os dois álbuns duplos inteiros na sequência na noite em que os recebeu. Eu os gravei em fitas de cromo de 90 minutos, as quais mantive por anos.

Trinta anos se passaram e é como se os “Use Your Illusion I” e “Use Your Illusion II” estivessem tocando em looping desde então.

E foi naquele dia que o Guns N’Roses passou, aos olhos do mundo, de uma banda promissora a uma banda consagrada.