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George Harrison (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Sereno, resignado e em paz. Assim Paul McCartney descreve o último encontro que teve com George Harrison, seu ex-companheiro de Beatles, em Los Angeles, em sua autobiografia. Poucos dias depois, em 29 de novembro de 2001, Harrison morreria, aos 58 anos, em decorrência de um câncer no cérebro.

Autor de “Here Comes the Sun”, “While My Guitar Gently Weeps” e “Something” (esta última foi regravada por mais de 150 artistas, sendo a segunda música dos Beatles com mais interpretações, atrás de “Yesterday”), Harrison nasceu em Liverpool. Conheceu Paul McCartney no colégio e por este foi convidado, em 1958, a integrar o grupo The Quarrymen, que era liderado por John Lennon e se tornaria a banda The Beatles.

Mais novo do quarteto e tido como quieto, George Harrison surpreendeu o mundo com seu amadurecimento, sua paixão pela música indiana e por canções bem distintas das que imortalizaram a banda, como “Love Me Do”, “She Loves You”, “Help!” e outras.

Harrison foi um artista discreto, mas jamais ingênuo, como às vezes alguns biógrafos dos Beatles tentam passar. Tímido sim, mas silencioso não.

Nunca reclamou publicamente, na época, por ser o músico injustiçado enquanto os Beatles existiram, mas sempre se posicionou firmemente quando questionado sobre sua contribuição para a banda e sobre a qualidade de suas músicas.

Se o marketing não era o seu forte, por outro lado tinha a convicção forte de que sua obra falava por si.

Desde o primeiro álbum solo, o triplo “All Things Must Pass”, de 1971, até as músicas mais pop, como “When We Was Fab”, “All Those Years Ago” e “Got My Mind Set On You”, o guitarrista sempre deixou que o som ressaltasse a sua genialidade e a sua técnica incomum de execução do instrumento.

Ao mesmo tempo, desde o início se mostrou bem mais atento à cena musical do que os colegas de Beatles.

Enquanto Paul McCartney se deslumbrava com a cena multicultural de Londres nos anos 60 e John Lennon flertava com o cinema, pelas mãos do diretor Richard Lester (que dirigiu “A Hard Day’s Night” e “Help”), George preferia ficar à espreita do que tocava no rádio.

Não teve dúvidas em indicar os Rolling Stones para a Decca Records no comecinho de 1963 – a mesma gravadora que recusara os Beatles no ano anterior.

Também foi o primeiro a falar publicamente das qualidades das canções dos Kinks e da fúria dos Who, ainda em 1965; ficou muito amigo de Eric Clapton, amizade que durou até o fim de sua vida; seguia todos os passos de Jimi Hendrix, ajudado pelos relatos do amigo Clapton

Se não se entusiasmou com o que viu e ouviu, pelo menos teve o interesse de conferir os trabalhos de Steve Winwood, na época de Spencer Davis Group, e o Pink Floyd; e já na década de 80 não se importou em ser apenas mais um nos Travelling Wilburys, supergrupo que formou lado de Roy Orbison, Jeff Lynne (Electric Light Orchestra), Tom Petty e Bob Dylan.

Era evidente a sua desvantagem na competição interna para impor suas músicas e suas ideias dentro dos Beatles.

Mesmo quando as evidências apontavam para que tivesse mais espaço, pouco fez ou poucas oportunidades teve para mostrar que era tão prolífico e competente na composição quanto Lennon e McCartney. “All Things Must Pass” é a maior prova disso. Perderam os Beatles, perdemos nós.