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O veterano cantor inglês Paul “Biff” Byford está se reinventando à beira dos 70 anos de idade. Consagrado como vocalista do Saxon, nome gigante de heavy metal, lançou-se em carreira solo em 2019 com um álbum de boa qualidade e agora ressurge com uma parceria com o filho guitarrista, Seb.

O projeto Heavy Water une pai e filho em um hard rock básico e cru, com sonoridade mais moderna e urgente, sem nenhum rebuscamento. “É uma espécie de volta às origens do rock pesado, mas com algo diferente e atual, bem de acordo com as influências de meu filho”, afirmou Biff em entrevista por e-mail ao Combate Rock.

“Red Brick City”, o disco do Heavy Water, pode ser considerado um disco da pandemia, mesmo com a maioria das canções prontas ou encaminhadas antes da fase de lockdowns pelo mundo.

Tocando baixo e dividindo os vocais com Seb, Biff empresta um “molho local” às canções, repletas de referências à infância e à região onde vive e naquela onde cresceu, exatamente como fez no disco solo “School of Hard Knocks”.

Quem conseguir dissociar Biff do Saxon vai encontrar em “Red Brick City” um hard rock agradável e básico, bem direto e despojado, com uma base de blues e guitarras sedimentadas em riffs retos, com poucos solos. Seb canta bem e aproveita os vários espaços deixados pela potente e experiente voz do pai. Os duetos entre os dois são o ponto alto do disco, que saiu no Brasil via Heavy Metal Rocks.

Econômico e direto, Biff se mostrou empolgado, de certa forma, como o projeto ao lado do filho e, na entrevista ao Combate Rock, projetou ovo álbum de inéditas do Saxon em 2022, que sucederá “Inspirations”, de 2020, que é uma obra de versões de clássicos do rock.

Biff Byford e o filho Seb (dir.) formam o Heavy Water (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Em primeiro lugar, como vocês estão? Como enfrentaram o período de pandemia e lockdown?
Nós dois estamos bem, obrigado! Tem sido muito horrível, mas nos mantivemos positivos e usamos o tempo para escrever músicas e gravar este álbum, então isso é pelo menos algo positivo.

Dá para dizer que o primeiro álbum do Heavy Water é um legítimo produto da pandemia? Quais foram as dificuldades que vocês enfrentaram para compô-lo e gravá-lo?

Sim, você pode dizer isso, apenas algumas das canções foram escritas antes da pandemia atingir e terminadas durante a gravação enquanto estavam fechadas.

O projeto Heavy Water é uma novidade para vocês dois ou é algo mais antigo que só agora surgiu? Existe a possibilidade de termos mais álbuns do Heavy Water?

É um novo projeto. Meu pai e eu fizemos alguns shows ao vivo durante o início da pandemia via StageIt! As pessoas expressaram o quanto gostaram, então pensamos que seria ótimo gravar um álbum juntos.

No texto de apresentação do álbum “Red Brick City” o projeto se apresenta como uma mistura de blues moderno e hard rock, e é pesado em alguns momentos. Foi difícil não evidenciar algumas influências do Saxon nas canções?

Não realmente, há muita coisa acontecendo estilisticamente: nós tivemos a liberdade de escrever e gravar qualquer coisa que quiséssemos fazer, sem nos preocupar em nos encaixar em um determinado gênero ou estilo.

Assim como o álbum solo de Biff Byford, as canções de Heavy Water contêm uma série de referências ao passado e reminiscências da vida de vocês. Esse ambiente mais “intimista” e pessoal foi criado de forma intencional ou não era essa a intenção?

É tudo parte disso, as experiências pelas quais passamos muitas vezes se tornam parte das músicas. Com “Red Brick City”, por exemplo, Seb veio com o título e as letras são sobre se sentir preso em sua casa, sem shows ao vivo e sem trabalho … preso dentro da cidade!

O som das guitarras está bem nítido e com um timbre mais moderno. Em quais trabalhos ou gêneros musicais se basearam as pesquisas para atingir essa sonoridade?

Em termos de tom de guitarra, queríamos que soasse bem cru e difuso, uma espécie de vibração de White Stripes / Black Keys. Eu diria que há uma mistura de sleeze dos anos 70 com alguns grunge dos anos 90 jogados lá.

Podemos considerar uma novidade Biff Byford assumir o baixo em todo o álbum? Como foi essa experiência depois de mais de 40 anos praticamente apenas cantando no Saxon?

Pode ser uma novidade para os fãs, mas na verdade eu nunca parei de tocar baixo (embora eu não faça isso no palco com o Saxon), é como sempre me senti todos esses anos, desde que comecei a tocar aos 16 anos.

A música “Red Brick City” tem uma pegada bem stoner rock, mas também a algumas canções que foram gravadas por Motorhead, seja pelo baixo mais denso e que preenche todo o ambiente, seja pela guitarra mais crua e suja. Essas referências estão corretas? 

Seb é um grande fã de Soundgarden, Pearl Jam e Rage Against The Machine, então há um toque disso no álbum misturado com um estilo mais clássico.

Um grande mérito do álbum são os duetos vocais entre você e Seb, bem calibrados e valorizando as letras, pois são bem diferentes entre si. Na minha opinião, ajudou bastante a distanciar as canções das que Biff gravou em seu álbum solo e em várias canções do Saxon. Como vocês estruturaram a divisão das partes vocais em cada música? Qual foi o critério? 

Realmente demorou muito para ir e vir no estúdio. Nós conhecemos os vocais um do outro muito bem, então nós dois empurramos os limites um do outro; pressionamos para tentar coisas diferentes, mesmo quando um de nós não achava que iria funcionar … mas tentamos e percebemos que, na verdade, é exatamente certo. Você tem que confiar na pessoa com quem está trabalhando para trocar ideias, é muito importante.

10 – As canções não ultrapassam os quatro minutos; a maioria tem três minutos e pouco mais. Essa mensagem mais urgente e direta ajuda a aproximar a sonoridade de um público jovem que costuma dedicar menos tempo à apreciação de uma obra musical?
Até certo ponto.

Com as mudanças profundas que o mercado musical sofreu no século XXI, a forma como se produz e e se consome música mudou. Percebemos na América e no Brasil que a música, como arte, perdeu valor agregado justamente pela facilidade com que é obtida e descartada. Faz sentido gravar álbuns em 2021 diante de um público mis “acelerado” e pouco disposto a apreciar a obra?

De fato! E a capacidade de atenção das pessoas, especialmente das gerações mais jovens, sendo bombardeadas por todas as coisas eletrônicas, está ficando cada vez menor. Mas é importante ainda escrever e fazer álbuns, é importante divulgar a mensagem, que espero que se espalhe por toda a parte e seja ouvida em alto e bom som.

Em todos os mercados musicais, há um consenso de que nada mais será como antes por causa da pandemia de covid-19. Vocês estão preparados para esse novo mundo, com regras sanitárias e exigências de vacinas em locais de shows?

É um momento crítico da história e todos os tempos difíceis trazem algum tipo de mudança. Estaremos prontos, custe o que custar!
A retomada das atividades do Saxon a partir de 2022 já está definida? Haverá novo álbum e turnê?

Haverá um novo álbum saindo no início de 2022 e em turnê, mais serão anunciados em breve.

Quanto ao Heavy Water, a divulgação do disco será realizada apenas via imprensa ou há a previsão de algumas apresentações ao menos no Reino Unido?

Não planejamos datas para Heavy Water ainda enquanto as coisas ainda estão se acomodando no front ao vivo, mas se as pessoas gostam do que ouvem e querem ver a apresentação da banda, por que não?!