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 Marcelo Moreira

O respeito existe, mas vai só até a página 20. A insistência em compor temas melosos e bregas ao longo de quase 45 anos de existência do Whitesnake fez o cantor e dono da banda, David Coverdale, ouvir ressalvas de fãs e de músicos que o admiram – tem sempre o “senão” em muitas das análises de sua obra, embora isso certamente não o preocupe nem um pouco.

E não é que vem do Whitesnake a melhor ideia de relançamento neste ano de 2020, peplo menos em relação ao segmento do classic rock/hard rock?

“The Rock Album (2020 Remix)” é uma coletânea que poderia passar como outra qualquer se não fosse por dois detalhes expressos no título – as palavras rock e remix.

Com uma canção inédita e 17 outros temas repaginados, Coverdale conseguiu passar a impressão aos ouvintes de que estamos diante de algo que, se não é novo, é bem diferente.

Sem as indefectíveis baladas, os rocks poderosos e insidiosos do Whitesnake rejuvenesceram. A mixagem mais moderada realçou as guitarras e o lado o bluesy de clássicos máximos do rock, agora sem os excessos de teclados e de produção que tanto fizeram a cabeça de ao menos duas gerações de roqueiros.

É muito surpreendente ouvir “Still of the Night” e “Judgement Day” despoluídas de camadas de teclados e de efeitos nas guitarras. O baixo soa mais pulsante e vivo e a bateria ganha contornos mais pesados e intensos.

“Love Ain’t No Stranger” passa pelo mesmo processo e soa mais “vintage”, podendo perfeitamente ter sido incluída em algum dos três ou quatro primeiros discos da banda, da segunda metade dos anos 70.

Não se trata de ficar defendendo qual o Whitesnake é o verdadeiro e mais legal, se aquele que vai de 1978 a 1984, quando predominou o blues rock, ou a banda que caiu de vez no hard rock, muitas vezes farofa, que veio a partir de 1985. Isso é papo de tiozão saudosista.

A questão aqui é reverenciar músicas ótimas a partir de outro ponto de vista e com uma mixagem mais modesta e despida de quase todo tipo de excessos. É um presente para quem gosta de rock.

“Here I Go Again” e “Slow An’ Easy” conseguiram a proeza de ficarem mais pesadas e intensas, com a valorização das guitarras e um espaço interessante para a cozinha se sobressaltar.

“Gimme All Your Love” e “Forevermore” ainda preservam algumas de suas características originais, mas receberam camadas de guitarras adicionais, como nas fitas originais da época de gravação. Soam frescas e renovadas, causando até mesmo certa estranheza na primeira audição. 

A música inédita, “Always the Same”, é nova e pouco acrescenta ao que a banda sempre fez e gravou, embora aqui também as guitarras mais limpas sejam o destaque.
“Todas as músicas foram revisitadas, remixadas e remasterizadas. Algumas foram embelezadas musicalmente onde meu co-produtor Michael McIntyre, meu novo ‘mixer’ Christopher Collier e eu achamos apropriado ou necessário para trazer o melhor dessas músicas”, disse Coverdale no texto de divulgação.
O projeto de revisitação do catálogo antigo tem ainda a previsão de lançamento de uma coletânea de baladas e outra de músicas mais puxadas para o blues, que devem ser lançadas nos próximos meses e com o mesmo conceito de mixagem de “The Rock Album”. “Love Songs”, aliás, já está no mercado.