‘Chama Violeta’ resgata a contundência e a diversidade da guitarra de Edú Marron

pa de 'Chama Violeta', de Edú Marron

Não é preciso mais do que um skate e uma guitarra para garantir alguma liberdade. A fala corajosa vinha de um garoto tranquilo e sorridente, mas esperto e muito atento, que tinha acabado de tocar em uma exposição de instrumentos musicais.

Canhoto e habilidoso, tocou de tudo, do rock à la Jimi Hendrix ao blues com nítidas influências de hip hop – e fazia isso antes de Gary Clark Jr e Fantastic Negrito estourarem por aqui. Edú Marron, skatista e guitarrista negro, além de artista plástico e produtor musical, se apresentava definitivamente ao mundo em 2013.

Doze anos depois, o músico afirma que a liberdade é plena e total dento de um universo amplo e segmento – variado e diverso. Seu quinto álbum, “Chama Violeta”, é a maior expressão da tão almejada liberdade artística, ao menos ela, que não pode ser contestada.

É seu melhor trabalho e o mais contundente em termos de ativismo e engajamento – é político do começo ao fim. Se o Black Pantera vai direto ao ponto na agressividade e na violência sonora do heavy metal e do hardcore, Marron prefere ampliar o escopo das atividades e brincar com as sutilezas. Mas o recado é forte e contundente, como na densa e dramática “A Luz, a Fênix e a Cruz”, que é um rap furioso permeado por uma guitarra blueseira de altíssimo calibre, revelando uma influência direta d Gary Clark Jr. 

 Outras duas seguem a mesma toada, “Walking By My Side” e “Enquanto Isso”, que revelam ótimas ideias de arranjos em cima de bases gooveadas de hip hop e linhas de guitarra surpreendentes. A segunda canção tem um suingue brasileiro impossível de ser ignorado.



O blues rock mais tradicional aparece na estonteante “Light Up Your Minds”, com um clima de vodu haitiano encharcado de ocultismo, com uma guitarra malandra que remete a outro ícone da guitarra negra – e também canhoto -, o monstro Eric Gales.

O jazz de coloração nativa com DNA da MPB clássica aparece na malemolente “Mudo Barra Lisa”, que evidencia a perfeita sincronicidade dos muito gêneros musicais abordados.

Talentoso e dedicado, Edú Marron tem ótima leitura dos cainhos mais interessantes a serem trilhados e mostra isso na intrigante “Chama Violeta” – uma fusão de ritmos caótica que serve de trilha para uma abordagem crítica à loucura da vida moderna. É também uma música que tem forte denúncia de caráter sociopolítico.

Edú Marron é um nome em ascensão e precisa ser ouvido, principalmente na mensagem afiada como espada de samurai que fere fundo quando se escuta a paulada “A Luz, A Fênix e a Cruz”, que caberia de forma impactante em qualquer álbum dos Racionais.

Tem pouco rock esse “Chama Violeta”, mas há muita verdade incômoda e quase insuportável.

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