Descontraída e descompromissada, reunião da Alice Cooper Band não decepciona

Parecia aquele velho encontro de amigos e não tão amigos assim dos tempos de descola décadas depois. Houve uma demora eterna pra reunir odos, uns não queriam outros queriam, demais, mas sempre alguma coisa travava o evento, até houve um consenso: 50 anos depois, Alice Cooper Band voltaria ao estúdio para gravar um álbum, ainda que desfalcada.

No ano em que completa 77 anos de idade e 60 de carreira, Vincent Furnier topou revisitar o passado e destravar as coisas para reunir a banda original que fez o nome da banda – e que depois virou o seu nome – como uma das coisas mais legais do rock.

Furnier, que incorporou o personagem Alice Cooper, , finalmente aceitou uma reunião s´ria com os ex-companheiros para gravar The Revenge of Alice Cooper”. O tom era de reconciliação, e deu muito certo.

O é datado? Claro, e tinha de seer, como são todas as reuniões de ex-colergas de ensino médio e fundamental. E todo mundo curtiu o clima e a presença do figurão, aquele que se deu melhor na vida e se tornou uma figura planetária.

De certa forma, é possível sentir aquele clima fantástico e fantasioso do começo dos anos 70, com os instrumentos soando vintage, por mais moderna que a produção seja. É um túnel do tempo, e isso é um elogio.

Surgida em 1968, Alice Cooper Band impressionou a sua Detroit com um som sujo, pesado, com,o um blues de acelerado e beira de estrada. Alice Cooper era um personagem de histórias de terror criado para ser assustador e que, nas apresentações teatrais pioneiras no rock, morria a cada espetáculo para ressuscitar e aterrorizar no shpw seguinte.

O sucesso foi estrondoso por sete anos e uma sequência ótima de álbuns, como “School’s Out” e “Billion Dollar Babies”, e o desbravamento de terras desconhecidas, com direito a show absurdo em São Paulo em 1974.

Ídolos mundiais, Alice Cooper Band ficou enorme e quase inadministrável, só que com um problema adicional: Alice Cooper, o misto de vocalista e personagem, ficou ainda maior. O racha foi inevitável em 1975.

Alice Cooper Band (FOTO: DIVULGAÇÃO)

A separação não foi exatamente amigável, mas foi civilizada, ainda que desequilibrada: Furnier assummiu definitivamente o nome e a personalidade Alice Cooper, e os outros integrantes ficaram com algumas migalha, o que gerou muito ressentimento.

Alice Cooper, o artista, cresceu muito, virou ícone, e os outros quatro – os guitarristas Michael Bruce e Glen Buxton, o baixista Dennis Dunaway e o baterista Neal Smith – tentaram seguir juntos, mas não certo e se dispersaram.

Ressentimentos e a falta de interesse de Alice Cooper impedira a reunião nos últimos 50 anos, tempo em que houve o desfalque dde Buxto, morto em 1997. Até participaram de eventos juntos, mas nunca houe uma conversa realmente séria para uma reunião.

“The Revenge if Alice Cooper” não tem a pretensão de recuperar tempo perdido ou o que quer que seja. É uma reunião de septuagenários que foram grandes juntos, querendo relembrar como eram bons no que faziam.

“Wild Ones” e “Up All Night”. os dois primeiros singles, resgatam um clima bacana de música pesada do finalzinho dos anos 60 – são rápidas, bem humoradas e descontraídas, com aquele leve sabor de sacanagem, que hoje pode parecer pueril, mas fazia sentido quase 60 anos atrás.

Nem todo luminar da geração de Cooper consegue igualar suas reservas de vigor e carisma, portanto, esta reunião da heterogênea equipe original do horror rock também parece, de certa forma, um teste ainda maior para o baixista Dennis Dunaway (78), o guitarrista base Michael Bruce (77) e o baterista Neal Smith (77).

Com o novato Gyasi Hues, de Nashville, no papel de Buxton, e Bob Ezrin, produtor magistral de “Killer”, “School’s Out” e outros, de volta ao comando, “The Revenge Of Alice Cooper” “parece o álbum que deveria ter seguido ‘Billion Dollar Babies’ [de 1973]”, de acordo com o cantor em declaração à revista inglesa Mojo..

Há quem veja exagero ou empolgação demais , mas a verdade é que Cooper e os companheiros fizeram um trabalho honesto e interessante, com vislumbres ocasionais da velha magia.

A introdução acústica de 12 cordas de “Blood On The Sun”, a ressaca psicodélica e as trocas de marchas riffadas impressionam, e conseguem resgatar uma certa pegada que Bruce e Buxton impregnavam em “Killers”, por exemplo, um álbum até hoje cultuado nos Estados Unidos.

Analisar as performances e as composições com o olhar de hoje, exigindo que os quatro voltassem no tempo e entregassem uma obra-prima distorcer a realidade. A simplicidade das canções e a abordagem batida de temas batidos deixam claro que os caras só queriam se divertir. parece que conseguiram e fizeram um trabalho.

A aparição póstuma de Buxton em “What Happened To You”, cru e ao estilo de Eddie Cochran, também brilha, mas em outros lugares as coisas às vezes se tornam estereotipadas, com o horror e a guilhotina um pouco bruscos. Mas dá para reclamar disso em um revival tão descontraído?

Uma versão de “I Ain’t Done Wrong”, dos Yardbirds, parece um tanto desnecessária e deslocada, embora tenham sido influência fundamental, e esses caras certamente conseguem fazer melhor do que as ostentações de “Up All Night”.

O tempo é bastante cruel com todo mundo, mas há vrtd artistas que lidam melhor com isso. A banda de Alice Cooper dos anos 70 era mais assustadora, mais potente, mas seu som de 2025 está mais próximo da vibe mais “cartunesca” da produção solo de seu líder no final do período.

Não se trata de desmerecer, é uma constatação. Alice Cooper dos anos 70 hoje parece fora de contexto, assim como muita gente encara o Kiss mascarado como uma ppiada que perdeu graça l´nos anos 80. Mas quem se importa com isso?

pós sua apresentação no Hall da Fama do Rock and Roll em 2011 e as participações especiais de Dunaway, Bruce e Smith em álbuns solo de Cooper como “Paranormal”, de 2017, e “Detroit Stories”, de 2021, este retorno completo é algo que a banda de Alice Cooper vinha tateando há anos.

Reuniões de escola podem ser decepcionantes; uma tentativa ousada de recapturar o que os anos seguintes esgotaram ou apagaram alguns bons momentos que ainda podem ser vividos. 

Alicc Cooper Band se divertiu em sua reunião de 50 anos e produziam momentos interessantes em um trabalho meio descompromissado. Encarando assim, não haverá decepção.

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