Foi melancólico, mas foi em paz. A turbulenta trajetória da banda de heavy metal Angra terá uma pausa muito ansiada pelos integrantes, mas nem tanto pelos fãs. Teremos algum dia a banda de volta, nem que seja como uma formação diferente?
Essa foi uma pergunta recorrente ao final do show que a banda realizou em 3 de agosto, em São Paulo, no encerramento da “Temple of Shadows Tour”. Depois de um show tecnicamente perfeito e bem descontraído, a interrogação permanece: por que o hiato por tempo indeterminado?
A banda brasileira que rivalizou internacionalmente com o Sepultura chega aos 35 anos de existência no seu terceiro auge. Depois do lançamento de seu melhor disco com o vocalista italiano Fabio Lione, “Cycle of Pain”, o Angra comemorava a estabilidade nunca antes vista – dez anos com a mesma formação, a mais duradoura dos 35 anos.
Se era a melhor fase e mais tranquila, por que parar? Ninguém fala abertamente, nem nas entrelinhas. O guitarrista Rafael Bittencourt diz apenas que era o momento certo de pausar e respirar para curtir novas experiências. O baixista Felipe Andreoli, o outro veterano da banda, vai pelo mesmo caminho.
A estabilidade que a banda desfrutou desde 2015, quando o guitarrista Kiko Loureiro saiu e foi para o Megadth, é louvada pelos membros do conjunto, mas não foi um período sem solavancos.
A relação com o empresário Paulo Baron, embora firme, proveitosa e respeitosa, teve idas e vindas, e a decisão de anunciar um hiato na carreira ocorre poucos anos depois do retorno do empresário, que teve participação efetiva no planejamento dos próximos passos.
A “pausa” era uma ação temida pelos fãs, que temiam uma debandada por conta dos projetos paralelos. “É melhor parar agora do que desintegrar e manchar o legado”, disse uma garota chorosa ao final do show motivo de São Paulo.
Ela tina alguns motivos por temer mudanças radicais. Andreoli oca também no Matanza Ritual, que cresce rapidamente após o lançamento do primeiro álbum; o baterista Bruno Valverde se mudou para Los Angeles, nos Estados Unidos, e toca na banda Whom Gods Destroy e no projeto Smith-Kotzen (dos guitarristas Richie Kotzen e Adrian Smith, este do Iron Maiden); Fabio Lione iniciou shows solo pelo mundo e voltou a cantar com antigos companheiros italianos de vez em quando.
Há quem diga que a parada forçada é um preparativo para p retorno d Kiko Loureiro, algo desmentido por este e por Bttencourt – que volta à carreira solo ainda neste mês, em show no Sesc Avenida Paulista. Em todo esse roteiro, o guitarrista Marcelo Barbosa mantém-se quieto e segue dando aulas em Brasília, onde mora.
Em nota publicada nas redes sociais, a banda comunicou que esse é o momento de uma pausa necessária — ou como definiram poeticamente, um interlude.
“Vamos sentir saudades dos palcos com certeza, já que estamos há 13 anos sem parar, e precisamos desse tempo de descanso. Mas já estamos imaginando quais podem ser as próximas aventuras para curtir com vocês”, escreveram Rafael Bittencourt, Felipe Andreoli, Fabio Lione, Marcelo Barbosa, Bruno Valverde e o empresário Paulo Baron.
A turnê internacional passou por mais de 20 países na América do Norte, América Latina, Europa e Ásia, com destaques como o cruzeiro 70.000 Tons of Metal, datas esgotadas no Japão e uma extensa agenda no Brasil. Ao todo, foram 98 shows que reafirmaram a força e relevância do Angra como um dos pilares do metal brasileiro no cenário mundial.
O comunicado também traz um agradecimento especial aos fãs, à equipe técnica e à Top Link Music, produtora e escritório que acompanhou todos os detalhes da estrada. “Amamos todos vocês, amamos o que fazemos, amamos a música! Esperamos que essa pausa não seja longa e que voltemos em breve. Não queremos colocar datas, mas que seja quando tenha que ser.”