Elegância e sofisticação marcam os novos trabalhos de Edu Gomes e Lari Basilio

Edu Gomes (FOTO: DIVULGAÇÃO/ARQUIVO PESSOAL)

Tocar guitarra como um ourives ou joalheiro obcecado pelo timbre nítido e cristalino, além da eterna busca pela nota perfeita. É difícil não se emocionar com músicos desta estirpe, como os jazzistas John Scofield, Joe Pass, Wes Montgomery ou os roqueiros Jeff Beck, John McLaughlin e Steve Howe.

A tradição brasileira neste quesito é longa e brilhante, com Helio Delmiro, Heraldo do Monte, Olmir “Alemão” Stockere, Michel Leme e Marcos Ottaviano, entre outros. Essa galeria tem também nomes cintilantes como os paulistas Edu Gomes e Lari Basilio, menos conhecidos, mas que honram a tradição.

Figura expressiva do blues e do rock, Edu Gomes ficou mais de 20 anos no combo Irmandade do Blues e desenvolveu uma prolífica carreira instrumental solo, onde apostou no jazz, no blues e na música brasileira, além de ser o coautor da série “Concertos a Cura”, ao lado do pianista Adriano Grineberg, em que investe em música atmosférica e climática.

“Caos Calmaria” é o seu oitavo álbum solo, que traz algumas mudanças sutis, mas importantes. Se os outros anteriores, como “ventura”, eram mais “reflexivos” r contemplativos”, para ouvior serenamente, o novo trabalho deve ser ouvido em alto volume, com predominância do rock e dos riiffs mais rápidos, apesar de elborados.

“Caos” é um rock vigoroso e moderno, com certo peso e uma pegada enérgica, tudo ambientado com arranjos mais sombrios e urgentes. “Calmaria” serve de contraponto, com uma bela melodia e uma sequência harmônica bastante elegante.

“Cosmo” é progressiva e busca uma expansão de horizontes, buscando saídas mais experimentais, assim como a breve e instigante “Caminho”, em que Gomes traça uma linha melódica forte e densa, com fraseados impetuosos e marcantes.

Edu Gomes e a Pirâmide, a banda que o acompanha, são aristas de uma linhagem rara, a de músicos que têm uma estética muito pessoal que valoriza cada sentimento em ada nota – e é possível perceber isso nas canções interpretadas por Lari Basílio e Tatiana Pará.

Gomes gravou “Caos Calmaria em seu estúdio próprio e, além do amigo e parceiro Gribeberg, contou pela primeira vez com toda a família – o baterista Caio Gomes, se filho, o baixista Nelson Gomes Júnior, seu irmão, e a fotógrafa e designer gráfica Sheila Oliveira, a esposa, nos vocais. O guitarrista também dividiu os trabalhos técnicos com o amigo onipresente Daniel Lanchinho.

Lari Basilio está radicada há mais de 15 anos nos Estados Unidos e passeia com muita habilidade e facilidade do jazz ao rock pesado, incorporando influências de gente como Joe Satriani e Steve vai, para ficar nos mais evidentes.

Edu Gomes sempre se orgulhou por ser conhecido coo um músico com feeling apurado; Lari Basilio certamente vai enaltecer a sofisticação de sua técnica. Para ela, tocar em alto rstilo parecer muito fácil, como demonstra em seu novo álbum, “Redemption”.

A faixa-título é de uma sutileza e elegância inacreditáveis, quebrando paradigmas e explorando áreas surpreendentes dentro da mesma canção. Consegue ser pop e cessível ao mesmo tempo em que realça a sofisticação de sua arte. A canção é linda e soa como se fosse uma suprema homenagem a Jeff Beck, morto em 2023.

Se em “Your Love”, o álbum anterior, a moça parecia estar em busca de seus caminhos, por mais que o trabalho fosse excelente, em “Redemption” ela avança com louvor. “The Way Home”, a imponente faixa de abertura, é um show de técnica e bom gosto em uma peça de rock pesado que escancara todas as suas influências.

“Seasons” é jazz puro com a adição de pitadas de técnicas roqueiras – tem um Eddie Van Halen aqui, tem Satriiani ali, com fraseados que também remetem a Pat Metheny, Há muito bom gosto jazzístico ainda nas esplendorosas “Bliss”, “Seven” e “Forever”.

Com carreira internacional consolidada, Basilio lança o seu melhor trabalho e se credencia para estar entre as melhores instrumentistas dos Estados Unidos.

Fica a esperança de podermos vê-la em palcos brasileiros e, em trabalhos futuros, escutar mais toques de brasilidade nos temas. 

Para “Redemption”, ela teve duas alterações na banda de apoio: o baterista continua o mesmo, o monstro Vinnie Colaiuta, e chegaram Leland Sklar no baixo e a paulista Mari Jacintho no piano e teclados. Essa formação toca em quase todas as músicas. O que não muda é a indefectível guitarra roxa, onipresente em quase todos os vídeos de Lari Basilio.

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