Como a entrada de Ron Wood, há50 anos, estabilizou e profissionalizou os Rolling Stones

Rolling Stones com Ron Wood na sessão de fotos para a capa do 'album "Black and Blue' (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Os sinais já eram evidentes, mas ninguém percebeu ou quis perceber. Por isso foi um choque quando o guitarrista Mick Taylor contou para Mick Jagger, o vocalista dos Rolling Stones, que estava saindo da banda. “Como assim? Vai sair d maior banda do mundo?”

A conversa dura ocorreu em uma festa em dezembro d 1974, segundo Taylor. Em um encontro depois de um ensaio no começo de 1975, segundo Jagger. “Ou eu saio ou eu morro”, afirmou o guitarrista, que comentou anos depois a conversa em uma entrevista à revista “Rolling Stone”. Fazia alusão ao estilo de vida perigoso e d excessos do grupo britânico.

Faz 50 anos que a saída de Taylor mudou definitivamente o som do Stones e a história da banda. O choque da mudança iniciou uma lenta, mas decisiva, alteração no gerenciamento e no comportamento dos integrantes. Tudo precisava ficar mais profissional.

A chegada de Ron Wood para substituir Taylor foi a consolidação da nova fase, trazendo estabilidade e iniciando o período em que a banda ganhou mais dinheiro até então. Com Ronnie na banda, finalmente os Stones entenderam que eram uma instituição tinham de se tornar uma corporação para sobreviver”, afirmou certa vez o empresário Bill Graham em uma declaração a uma emissora de rádio de Los Angeles (EUA).

Atropelados por Led Zeppelin, The Who, The Faces e Queen, os Stones estavam, deitados em berço de outo, mas experimentavam uma certa decadência artística em 1975. Os dois álbuns mais recentes eram apenas razoáveis e o único hit dos últimos três anos era “Iy’s Only Rock’n Roll *But I Like It)”.

Mick Taylor, que entrou no lugar de Brian Jones em 1969, demorou a se integrar ao grupo e se sentia sempre como o n “novo integrante” mesmo depois de cinco anos. Menos resistente que os colegas nos vícios diversos da estrada, não acompanhava o ritmo alucinante.

Viciado em drogas e em álcool, exausto de uma vinda insana, estava particularmente enfurecido com Jagger e Keith Richards, o outro guitarrista e fundador, pela falta de créditos nas composições. Todas as músicas eram creditadas a Jagger-Richards.

Taylor contestava e dizia que contribuía em várias canções. Depois que saiu, escancarou que era roubado e que seria o autor da maior parte da ótima canção “Time Waits For No One”.

Nunca deram bola para suas reclamações e então simplesmente resolveu partir, para a ira de Richards, que disparou na imprensa: “Como ele ousa sair? As pessoas só deixam os Stone dentro de um caixão. E ele ainda se achava no direito de querer ensinar a gente como tocar. Ninguém ensina um Stone como tocar!”

Mick Taylor se retirou, se tratou dos vícios e ensaiou uma volta aos palcos ainda em 1975 como guitarrista da banda do baixista Jack Bruce (ex-Cream). Apreciou a vida d músico de apoio, mas nunca mais atingiu ne de perto o patamar de sucesso e visibilidade que teve nos Stone. também fez bons trabalhos com a cantora de blues e country Carla Olson.

Com uma agenda pesada de shows no segundo semestre de 1975, Jagger e Richards chamaram à pressas o amigo Ron Wood, que estava de folga com o hiato dos Faces – que acabariam no final daquele ano.

Wood era o amigão da galera, conhecia todo mundo e não brigava com ninguém. Sua mansão nos arredores de Londres era ponto de parada de todo mundo a qualquer hora do dia e da noite a ponto de o dono ter construído um pub paracurtir com os amigos.

Era comum Eric Clapton ou e Richards passarem dias por ali de tão legal que o local era. Jagger e Richards compuseram algumas canções lá entre 1973e 1974. O ex-beatle George Harrison era tão assíduo que teria tido um caso com a primeira mulher de Ron Wood.

O convite não foi surpresa, e assim Wood foi ficando, mesmo avisado de que era provisório. Só que todo mundo se deu tão bem que a efetivação era dada como certa, mas Jagger quis ser Jagger e insistiu até não poder mais em uma “audição” para escolher” o novo guitarrista solo oficial.

Para não brigar de noivo, Keith Richards, mas sabotou o processo. Ron Wood já estava livre dos Faces em 1976 e se submeteu às audições nos estúdios alugados em Munique, na Alemanha, que também viram passar por ali Harvey Mandel e Eric Clapton.

Foram dias perdidos na Alemanha resumidos da seguinte forma por Wood e sua autobiografia: “Vários caras bons passaram or lá, mas eu estava havia mais de um ano com eles, sabia como tudo funcionava e sabia como Keith [Richards] tocava e trabalhava. Imagine outro medalhão batendo de frente com ele… Só eu para conseguir suportá-lo, ainda ue fôssemos bons amigos.”

A entrada de Ron Wood nos Rolling Stones e sua efetivação foram os eventos fundamentais e cruciais para que o grupo entrasse em uma fase estável e de recuperação da inspiração artística, ainda que turbulências tenham ocorrido entre 1979 1989.

Compartilhe...