Protestos contundentes encharcados de sarcasmo e ironia pata pisotear o cadáver asqueroso da ditadura militar. Ninguém tinha a coragem dos punks em 1985 para decretar a nova era e chutar a balde e a boca de conservadores e militares fascistas. E coragem a banda Garotos Podres tinha de sobra quando lançou seu primeiro álbum, “Mais Podres do Que Nunca”, há 40 anos.
Liderada pelo professor de história José Rodrigues “Mao“ Júnior, o grupo fazia críticas sociais e políticas demolidoras com viés progressista e uma tendência esquerdista.
O apelido “Mao” não é à toa – refere-se a Mao Tsé-Tubg, líder máximo da China comunista que comandou as tropas comunistas na vitória revolucionária no país em 1949. Especialista no assunto, escreveu livros importantes sobre as revoluções chinesa e cubana no século XX.
Com letras ácidas e bem humoradas, assustaram a sociedade com a ousadia de tocar em temas ainda sensíveis – “Mais Podres do Que Nunca”, com suas críticas fortes e pesadas, saiu meses depois do fim da ditadu4ra militar brasileira corrupta e assassina.
“Papai Noel Velho Batuta”, por exemplo, desmitificava e demolia a figura paterna e bonachona do bom velhinho que distribuía presentes. Para os garotos apodrecidos, não passava de um símbolo vil do capitalismo predatório mundial, que tirava dos pobres e aprofundava a pobreza para beneficiar os ricos.
No plano da política internacional, a banda foi acusada de antissemita e apologia ao nazismo quando compôs e gravou “Fuhrer” como provocação à comunidade judaica – três anos antes, |Israel invadira o Líbano e dava poio a milícias cristãs que matavam refugiados palestinos, como ocorreu nos campos de Sabra e Chatila.
Se bandas como Ratos de Porão, Olho Seco e Lixomanoa faziam, crítica social mais genérica, os Garotos Podres iam direto ao ponto, com bastante conteúdo e linguagem bastante acessível. Eram a banda punk por excelência.
“O movimento punk surgiu em um momento importante da história ocidental e os Garotos Podres fazem parte deste contexto, em qye a arte se tornou uma ferramenta crucial para contestar, questionar e valorizar o ser humano, a democracia e as dias progressistas”, di\ Mao.
Banda frequente no festival punk de Blackpool, na Inglaterra, mais importante do gênero no mundo, os Garotos Podres se tornaram símbolo do punk nacional e mantém a relevância e o prestígio fazendo o som mais original possível, sem mesclas com heavy metal ou acelerando para o hardcore. No máximo, uma concessão ao ska, ritmo de origem jamaicano.
“Mais Podres do Que Nunca” é uma obra fundamental da música brasileira porque é primordialmente a consolidação do punk nacional em termos fonográficos. É punk rock na sua mais pura essência,