Um crime contra a saúde pública que impacta diretamente o mundo das artes e do entretenimento. A crise das bebidas contaminadas com metanol foi fulminante para músicos em geral: em menos de uma semana bares e casas noturnas ou suspenderam ou cancelaram shows por causa da incerteza a respeito das investigações policiais e das autoridades de saúde.
Com a previsível queda de movimento, os estabelecimentos estão se antecipando ao corte d custos e suspenderam qualquer atividade artística. Os empresários viram aterrorizados o pronunciamento do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, recomendando que ninguém consuma bebidas alcoólicas destiladas nos próximos dias até que a crise do metal esteja contida.
“Irresponsável! Essa fala ajuda a quebrar um setor inteiro da economia. Bares e restaurantes vão fechar e haver´[a desemprego!”, esbravejou um outrora sensato comerciante de São Bernardo do Campo (ABC paulista).
Assustado, ele e outros que pensam da mesma maneira não estão raciocinando direito diante da gravidade da proliferação de casos de intoxicação na inacreditável crise de saúde pública. E músicos também encampam essa “indignação” por causa da suspensão, ainda que temporária, do som ao vivo nos bares.
Irresponsabilidade é pensar dessa forma e colocar os aspectos econômicos à frente da saúde e dos riscos de morte que a população está correndo. Dane-se a economia e as empresas que possam quebrar, com funcionários sendo demitidos. Que seja assim se for necessário para preservar a saúde pública. Esse tipo de dilema, que surgiu também na época da pandemia de covid-19, não existe.
Em apenas um dia dobrou o número de casos suspeitos de intoxicação por metal após o coum,op de bebidas alcoólicas. Mais de 100 casos em cinco estados, com ao menos dez mortes -e a atendência é de explosão de ocorrências nas próximas duas semanas.
Em um país em que todos os dias a polícia anuncia a prisão de todo o tipo de golpistas, o fundo do poço parece não existir. Quando se imaginava que não poderia haver nada mais sórdido e asqueroso do que o bilionário golpe de descontos ilegais nos pagamentos de aposentados. Surge a torpeza da adição de metanol em garrafas de bebidas falsificadas.
Imaginava-se que esse tipo de crime tinha sido debelado ou, ao mens, contido, pois se tornou raro neste século. Depois do surto de contaminação ocorrido na Grande São Paulo, em 1992, quando duas pessoas morreram e mais de 200 ficaram intoxicadas, a fiscalização aumentou.
Sempre existiram fábricas clandestinas que falsificavam bebidas falsificadas, parecia ter havido o entendimento de que a menor presença de metanol naqueles ambientes era suficiente para inviabilizar negócio.
Por que será que o entendimento mudou, especialmente depois da pandemia? O que será que ocorreu para que os criminosos aceitassem novamente o risco de matar e de serem presos? Seria o suposto afrouxamento da fiscalização?
Até dá para entender que músicos e artistas que vivem do dinheiro gasto em bares e restaurantes estejam preocupados e que busquem discutir alternativas para que não percam rendimentos, mas o foco agra não é esse. É preciso que vidas sejam preservadas para que possam voltar a gastar no futuro.
A crise do metal também joga luz, pela enésima vez nos últimos anos, para o profundo abismo ético em que a sociedade brasileira está mergulhada. Não bastassem as ameaças de golpe de Estado – com simpatia de mais de 30% da população -, os vários flertes com a impunidade geral e com o roubo acintoso nas aposentadorias, temos de encarar a proliferação de bebidas falas com veneno.
Há gente usando metanol deliberadamente para aumentar o volume do produto para baratear custos e turbinar vendas. O pântano é tão denso profundo que não é possível enxergar soluções no médio prezo, em um futuro perigoso embriagado pelo mortal metanol.