O acerto de contas do Angra indica que a banda está no fim

Um acerto de contas com o passado para definir o futuro, mesmo que seja para não termais futuro. A banda brasileira Angra anuncia mudanças que dão toda a pinta de preparação para uma retirada estratégica de cena.

Foram três fatos que aceleraram todo o tipo de boato e especulações: a parada por tempo indeterminado, o show de reunião com ex-integrantes em 2026 e a saída definitiva do vocalista Fabio Lione, anunciada neste final de novembro. A sucessão de notícias, estrategicamente colocada no mercado, embaralha o jogo, mas também esclarece muitas coisas.

Se artisticamente é um grupo coeso e de alta qualidade, em termos de gestão o Angra é barril de pólvora, com esqueletos demais para manter no armário e problemas cotidianos demais para que decisões sejam tomadas sem sequelas.

O empresário da banda, Paulo Baron, da empresa Top Link, deixou posto anos atrás e foi convencido a voltar diante das imensas dificuldades que os músicos encontravam para manter tudo de pé. Nos bastidores, conta-se que teria sido dele a ideia de parar por um tempo ou mesmo acabar tudo.

Não se sabe exatamente se s dificuldades de continuidade são mercadológicas, de gerenciamento de egos e recursos ou têm a ver com questões financeiras.

O fato é que o único membro do formação original ainda no conjunto, o guitarrista Rafael Bittencourt, não escondia que o Angra continuava turbulento mesmo promovendo o excelente álbum “Cycles of Pain”, de 2023.

Com shows requisitados no Brasil e uma extensa turnê mundial para o novo álbum, o Angra parecia estar retomando o rumo, mas a profusão de projetos paralelos dos integrantes acendeu o alerta: como conciliar as agendas?

O baixista Felipe Andreoli está na banda Matanza Ritual, um sucesso absoluto de público e que tem carteira de shows lotada, sobrando pouco tempo para ouras coisas. Fabio Lione, morando na Itália, divide-se entre shows com antigos companheiros de Rhapsody e shows solo com orquestra. E tem Bruno Valverde, que mora em Los Angeles, na Califórnia, se dividindo entre as bandas Smith/Kotzen e Whom Gods Destroy. Como evitar a desagregação?

Também surge dos bastidores um dos motivos do desalento sobre o futuro: o fim dos planos para a sonhada reunião com o ex-vocalista André Matos. O cantor morreu em 2019 em meio a negociações sobre ao menos um show com a banda.

Algumas fontes garantem que Paulo Baron estava muito otimista com a empreitada, abortada com a morte precoce do artista. Teria sido um balde de água congelada para o empresário, que lentamente se afastava d banda – e a pandemia de covid-19 piorou tudo no meio do caminho.

Poucas pessoas sabem, explicar por que Baron desconfiava da viabilidade artística a longo prazo do Angra, ainda que tenha participado ativamente das conversas de reconciliação de Rafael Bittencourt e o ex-vocalista Edu Falaschi. Os músicos estavam rompidos desde a saída do cantor, em 2011 e trocavam farpas públicas por conta de divergências sobre dreitos autorais e supostas dívidas.

Resolvidas as pendências, Barom imaginava que pudesse explorar novas possibilidades, mas, ao que parece, encontrou obstáculos inesperados em todos os lados. Aparentemente cansado, sugeriu a parada por tempo indeterminado ao observar o risco de desagregação e sentindo a iminente saída de Fabio Lione.

O anúncio do show de despedida de Lione em 2026 com as participações do cantor Edu Falaschi, do guitarrista Kiko Loureiro e do baterista Aquiles Priester, ex-integrantes, tem toda a cara de um bem-vindo acerto de contas com o passado que pavimenta um eventual anúncio de fim definitivo das atividades.

Caso isso realmente aconteça, não podemos deixar de reconhecer a magnanimidade de Rafael Bittencourt ao topar a reunião e abrir as portas para reconciliações. Não que seja questão de consertar o que quer que seja, mas de remover sentimentos ruins e promover a música acima de tudo.

Um acerto de contas precedendo o fim faz todo o sentido, e a saída de Lione evidencia que esse planejamento está m, andamento. De forma tortuosa, o Angra segue para o seu epitáfio, e forma bem diferente do Sepultura. É o rock clássico pesado brasileiro perto do fim.

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