Educação e músic erudita na favela: Teatro Baccarelli é a vitória de todos nós

Teatro Baccarelli (foto: divulgação)

O espaço era deles e pra eles, mas ainda assim era intimidador. Havia muita estranheza porque as pessoas da comunidade se sentiam estranhas naquele ambiente bonito e burguês, para “ricos”. Mas era só a impressão inicial. E o conforto e a emoção varreram os sentimentos de não pertencimento para outro lugar.

Quando as lágrimas jorraram quando a música começou, todos, músicos e familiares, já se sentiam em casa. Aquele teatro ra deles, e para sempre. Uma menina exibia com orgulho uma camiseta com as frases “Educação Liberta, Conhecimento É Poder”.

Se alguém tem dúvidas sobre o poder de transformação da cultura, corra para ver, por fora o teatro Baccarelli, na favela de Heliópolis, a maior de São Paulo. Depois, assista a um concerto de música erudita executada pela orquestra dos jovens da comunidade. Impossível não chorar, não se emocionar e não se orgulhar.

A primeira casa de espetáculos construída e inaugurada em uma favela brasileira merece ser notícia mundial pelo ineditismo e pela ousadia da façanha, por mais que isso realce a extrema desigualdade social de um país desumano e perverso.

Quem não conhece a história vai achar que é mais uma obra beneficente bancada por uma presa qualquer em busca de abatimentos ou benefícios fiscais travestidos de caridade. Ainda que fosse, não tiraria os méritos da iniciativa, mas a história é muito mais bela e bem maior do que se supõe.

O Instituto Baccarelli mantém há mais de três décadas a escola de música na favela de Heliópolis, que se tornou um farol de libertação da pobreza e da discriminação. Deu visibilidade a uma população marginalizada e também esperança de que as coisas podem mudar. Deu um futuro mais promissor a quem, não tinha a menor perspectiva.

Cada lágrima de pai, mãe, avós, tutores ou amigos significou que tudo valeu a pena. Cada sacrifício e persistência de ver os garotos no palco executando uma sinfonia. Cada nota extraída dos instrumentos escancarava o V” da vitória de todos eles – múicos, parentes e gestores do instituto.

Pena que estejamos celebrando o ineditismo de uma prática que deveria ser comum e obrigatória em favelas e periferias – a oferta de cultura em mais alato grau em equipamentos de ponta e de amplo conforto, para que obras de Johan Bach, Heitor Villa-Lobos, Chico Buarque, Jorge Aragão e Ney Matogrosso possam ser apreciadas, assim como peças de William Shakespeare, José Celso Martinez Correa, Nelson Rodrigues e Bertolt Brecht.

O Teatro Baccarelli é uma daquelas vitórias gigantes da cultura e da sociedade, que dá orgulho de resistir e insistir em educação e arte. Mostra que investimentos sociais, chamados de “gastos” por conservadores de inspiração fascista, dão resultados.

O teatro custou R$ 45 milhões e foi inaugurado dias depois que a bailarina Ingrid Silva esteve no Brasil pata divulgar suas marcas e seus projetos sociais. Carioca, foi aluna de programas e projetos sociais e educacionais implantados por ONGs (organizações governamentais) nos morros do Rio de Janeiro.

Talentosa demais, foi indicada e depois recrutada aos 17 anos por uma companhia de dança de Nova York, para onde foi aos 17 anos sem falar inglês. Tornou-se respeitada e admirada no mundo todo. Suas sapatilhas viraram peça de museu como representação da perseverança e da diversidade étnica da arte mundial (negra, ela não se conformava de não encontrar sapatilhas da cor de sua pele, pois as fábicas no mundo só faziam nas cores brancas; rebelde, passou a pintar as suas sapatilhas de marrom com batom ou qualquer cosmético que estivesse à mão).

Bailarina de sucesso, tornou-se educada, professora de dança, influencer e escritora, além de empresária. Em ótima entrevista ao programa “Roda Viva, da TV Cultura, deu uma aula de cidadania, persistência e resistência ao enfatizar como a educação e a arte lhe deram um rumo na vida e de outras tantas crianças carentes atendidas elos projetos sociais nas comunidades cariocas.

As vitórias de Baccarelli e Ingrid Silva são as nossas vitórias e da sociedade que queremos por meio da educação e da valorização da cultura., para a desespero do mundo fascista, racista e preconceituoso em geral.

Compartilhe...