Vozes do blues: a sutil e delicada viagem retrô de Carol Carmin

Carol Carmin (foto: divulgação)

Compor e cantar blues em português, muitas vezes, é a arte do impossível e duplamente difícil, disse certa vez o guitarrista brasileiro André Christóvam. É preciso achar o tom certo, as palavras certas e, principalmente, o sentimento preciso para entoar s canções do gênero.

Conseguir fazer tudo isso em seu primeiro EP é uma façanha e tanto, e a autora é a médica paulista Carol Carmin, que acaba de lançar “Azul Car,om. Na verdade, já faz algum tempo que a artista não atende mais pacientes em clínicas e hospitais, os palcos e o blues não deixam.

Uma das vozes mais belas d cenário de São Paulo, Carol encarna com propriedade a diva impenetrável e enigmática vivida por artistas dos chamados anos de vaudeville nos Estados Unidos dos anos 20 do século passado.

“O jazz feminino é muito rico e sempre fui apaixonada pelas cantoras que demonstravam personalidade e força”, diz a canora em entrevista ao Combate Rock. “A figura da pin up, a mulher sensual e empoderada, me fascinou desde sempre e acho que consegui recriar essa atmosfera.”

Conseguiu com eficiência. As quatro canções do primeiro EP recriam o clima de cabaré esfumaçado tão típico das casas de jazz. Em português, Carol Carmin entrega um trabalho que chama a tenção pelos detalhes e pela beleza de arranjos. Seu vocal é versátil, capaz de agregar sentimentos diversos e passear por figuras de linguagem como sarcasmo, ironia mesmo em canções com conteúdo denso, como “Meu Silêncio”.

Ela une o jazz tradicional ao mundo moderno com competência e, um terreno arriscado, mas que costuma recompensar bem os ousados e audaciosos. Nada como ter como referência os mestres Christóvam e os Blues Etílicos, mas Carol vai além,

“A temporada de estudos nunca termina e gosto de pesquisar todos os detalhes para oferecer um trabalho completo”, explica a moça. “É bom ter como espelho as divas americanas do blues e do jazz, mas sempre olhando para o presente e o futuro. As cantoras brasileiras são maravilhosas e ensinam bastante. Esse emaranhado de influências será fundamental para que eu crie o meu próprio estilo.”

A opção pelo português foi bastante natural, por mais que cante divinamente os clássicos em shows por São Paulo. Não precisou de uma forma de adaptação e nem teve dificuldade para se expressar e encaixar suas ideias. “Creio que nossa língua tem uma sonoridade melodiosa que cabe no jazz e no blues. Eu me sinto bastante confortável e o público aprecia e se surpreende.”

O show atual conta com as canções novas e um misto de canções que privilegiam duas de suas principais influências. Carol Carmin recria o espírito dessas artistas, num show onde o público poderá sentir a ebulição do soul de Etta e o desabafo cru de Amy em arranjos que exaltam o blues, o jazz e o groove.

Etta James e Amy Winehouse nasceram em épocas diferentes, mas traziam a mesma verdade: a de que o amor pode ser tão doce quanto devastador. Ambas transformaram a dor e a vulnerabilidade em em arte e música, duas vozes intensas que desenharam sua carreira artística com a alma ferida e o coração em chamas.

Dois singles do EP são ompanhados por videoclipe, onde o público pode conhecer não só a música de Carol, mas também sua presença artística: “Meu Silêncio”, uma parceria com o guitarrista Dan Marques, e “Blues da Rejeição”, um blues clássico com participação especial de Sérgio Duarte, um dos principais nomes da gaita blues no Brasil.

‘Azul Carmin’ nasceu e foi nomeado na fusão simbólica entre o azul da melancolia e o vermelho da raiva, já revelando nuances de experiências emocionais e ambivalências.

As letras em português são de sua autoria, com lirismo e sua visão feminina sobre amor, rejeição, raiva e luto. A sonoridade mistura influências clássicas do blues com um toque contemporâneo.

A produção foi feita em parceria com o guitarrista Dan Marques, parceiro também nas composições das melodias do disco, as gravações contaram com um time completo de músicos, na bateria, baixo acústico, teclado e naipe de metais.

Além da participação especial de Sérgio Duarte. Carol teve inspiração tanto na força, quanto na vulnerabilidade das divas do blues, das décadas de 1940 e 1950.

“Em ‘Azul Carmin’ rejeito os arquétipos da mulher passiva ou salvadora, meu desejo foi apresentar um retrato honesto e cru da condição humana. Em meio à dor, há espaço para o riso irônico, o deboche elegante e a beleza trágica das emoções mal resolvidas. É também uma homenagem às mulheres que ousaram cantar suas feridas em voz alta, com coragem e refinamento”, conta Carol.

Carol Carmin carrega uma “alma vintage”, como ela mesma admitiu, não só no visual retrô “pin-up”, a cantora mistura influências clássicas do blues e estilos como o jazz, com um toque contemporâneo, pop e rock.

A cantora e compositora traz uma trajetória artística incomum, trocou a medicina pelos palcos para seguir sua paixão, depois de atuar por 10 anos como médica. Também é intérprete e faz releituras cheias de personalidade, disponíveis em seu canal no Youtube.

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