Uma banda nova com 33 anos de existência? Uma banda nova que decide fundir rock progressivo e MPB para criar um som diferente? Temos isso e mais um pouco no cenário de final de ano em relação ao rock nacional. Kavla e Naimaculada aceleram as agendas para aproveitar o bom retrospecto de suas novas músicas.
Os paulistanos do Kavla estão prestes a celebrar 33 anos de história, m são apenas três álbubs no período – “Dream or reality”, de 1995, com o vocalista Gerson Greco, era puro hard rock em inglês; “Surreal”, com Tiago Ciccilini cantando, era power metal em pleno ano de 2004; “Intenso”, recém-lançado, é hard’nheavy cantado por Allan Ortona em português. São três bandas diferentes, mas enfim…
Em uma decisão difícil, a opção pelo português vem em momento em que há poucas bandas com uma sonoridade fazendo rock neste idioma – Sinistra, Malvada e mais algumas pouca.,
A sonoridade mudou, está mais pop, em especial nos refrões e nos riffs com um molho hard dos anos 80. É o caso de “Um Solitário Sem Querer”, em que as duas guitarras casam bem com a estrutura melódica pop.
O destaque de “Intenso” são as guitarras dos irmãos Fabio e Sandro Silva, em perfeita sintonia e dado o toque heavy m quase todas as canções, como em “Business”, a mais pesada, que soa frenética e urgente com letra irônica e sarcástica (nem tanto) sobre como nossas vidas são movidas por pressão dos negócios.
“Seja a Música” é uma ode à arte e resgata os tempos áureos do hard rock oitentista, da mesma forma que a balada “Há Cura”, com ótimo riff e solos bastante inspirados de guitarra.
Estranha mesmo é a versão de “Porto Solidão”, do cantor romântico Jessé, morto nos anos 80. Ortona e os irmãos Silva se esforçam, mas a canção não combina com os arranjos pesados e com os solos cheios de nota que procuram evidenciar a dramaticidade da música. A banda se dá melhor Na românticas desesperadas “Tango” e “Fica Comigo”.
A produ8ção enxuta e clara de Thiago Bianchi, vocalista do Noturnall e do Redy to Be Hated, deixa tudo bem equilibrado e com uma ambientação moderna para um som que remete aos anos 80 e 90. . O som é bem adequado para uma banda nova de 35 anos.

A banda Naimaculada, também de São Paulo, busca oferecer um oytro ripo de experiência dentro do rock, unindo rock progressivo, MPB e experimentalismo, navegando nas águas já desbravadas pela banda paraibana Papangu.
Em recente episódio do programa “Dharma Sessions”, apresentado por Gastão Moreira, Pietro Benedan, baterista e um dos fundadores, conduziu um relato sobre como cinco músicos com gostos aparentemente incompatíveis conseguiram forjar uma sonoridade autoral que captura a essência contemporânea de São Paulo.
Sem medo e sem preconceitos, combinamos de experimentar e ver o que combinava e o que dava certo. Testamos muito e assim funcionou”, explicou o músico.
Foi assim que resolveram acrescentar um saxofone em canções eu misturavam rock e jazz, lembrando muito o King Crimson dos nos 1971-1972, como no caso da boa canção “Epítome”, que abre o álbum “A Cor Mais Próxima do Cinza”.
O som tem experimentalismo, mas sem vanguardismo. Com um tema central girando em torno da vida moderna em uma metrópole, as canções conseguem transmitir as diferentes sensações de se viver em tamanha pressão e velocidade em um lugar frenético como São Paulo. É o tema central na crítica e pesada “Quatro Quina”, que tem um baixo percussivo que dialoga muito bem com várias flautas.
Com muitas referências à cidade de São Paulo, as músicas remetem a um ambiente em que trabsitaram muito bandas importantes como Rumo, Premeditando o Breque, Kíngua de Trapo, Velhas Virgens e até Voluntários da Pátria e Ira! Naimaculada prova que São Paulo é uma grande personagem.
“A Cor Mais Próxima do Cinza” demonstrao como a diversidade estética pode se transformar em força criativa quando canalizada através de um propósito comum
Com a formação atual composta por Ricardo Paes nos vocais, Samuel Xavier na guitarra, Luiz Viegas no baixo, Pietro Benedan na bateria e Iago Tartaglia no saxofone, a banda exemplifica a riqueza da diversidade musical.
Pietro revelou o segredo da química grupal: “Cada integrante tem um gosto, um tipo de estilo diferente. A gente se encontra em poucas coisas que gostamos juntos”.
As convergências incluem referências como Beatles, Pink Floyd e o argentino Alberto Spinetta, enquanto as divergências criam tensões criativas produtivas. O baterista destacou ainda a substituição temporária do saxofonista original Frodo – que partiu para um intercâmbio na China para estudar novos instrumentos – por Iago Tartaglia, da aclamada Gastação Infinita.
“Luz/Sé”, uma canção emblemática, mostra como a banda consegue equilibrar experimentação sonora com acessibilidade melódica, criando paisagens urbanas que refletem a complexidade de São Paulo contemporânea.
O álbum “A Cor Mais Próxima do Cinza” emergiu como uma declaração de maturidade artística, evidenciando por que a formação representa uma das vozes mais autênticas da nova música brasileira. A entrada de Samuel Xavier como guitarrista – “ele é incrível”, enfatizou Pietro – completou a alquimia que permite à banda transformar suas diferenças individuais em coesão coletiva.
Mais uma vez, o Dharma Sessions, gravado no Dharma Studios de Rodrigo Oliveira, proporcionou uma janela privilegiada para a música brasileira emergente. A Naimaculada reafirma que a diversidade não é obstáculo, mas combustível para a criação autêntica, mantendo viva a tradição paulistana de reinvenção cultural através de gerações que se renovam sem perder suas raízes criativas.