Os hits do rock desapareceram – e a culpa é nossa

Imagem: divulgação/reprodução

Por que a música deixou de ser importante em nossas vidas? Nunc se consumiu música como nos últimos anos; nunca se vendeu tantos ingressos para shows; nunca houve tanta oferta de música em todos os estilos. Nunca foi tão fácil fazer e divulgar música. Então por que ela perdeu relevância em nosso cotidiano?

As mudanças drásticas no consumo de música neste século, aliadas à destruição da indústria fonográfica e de as tecnologia ter facilitado o acesso às canções, que ficaram gratuitas, colocam um desafio quase impossível de ser vencido: como superar a falta de temo e interesse do ouvinte moderno e como suplantar a onipresença do rock clássico, que sinaliza a predominância de um conservadorismo nocivo em quase tudo nestes tempos?

O desânimo bate sempre que alguém mal escuta 40 segundos de uma música nova, pulando sempre. para a velha e boa “Stisfaction”, dos Rolling Stones, ou “Smoke on the Water”, do Deep Purple.

E, quem diria, os próprios aristas de rock clássico são prejudicados por essa visão estreita – afinal de contas, quem é que lembra de uma música nova dos Stones ou do Purple, que lançaram discos novos em 2023?

A verdade é decidimos, no rock, não dar uma segunda chance a nenhuma música, seja de banda clássica ou nova. Não existem mais hits roqueiros porque nos recusamos a ouvir novamente grandes canções.

Você consegue se lembrar qual foi o grande sucesso do rock dos últimos seis meses, aquela música que te faz ir ás plataformas digitais para repetir a execução? Qual é o hit mis recene de Coldplay, Radiohead, Guns N’ Roses ou Maneskin? Qual foi o último sucesso do Iron Maiden que os fãs cantaram no estádio?

Será que esses mesmos fãs seriam capazes de dizer o nome de “Writing on the Wall”, o primeiro single que deveria ser a principal música do álbum “Senjutsu”, o último d banda?

Pode-se argumentar que o conceito de “hit” e “sucesso” mudou com os hábitos de consumo e com o avanço da internet, mas é fato que a relação ouvinte e fã está depredada

Falta uma emissora d rádio ou uma imprensa/mídia especializada que consiga identificar as melhores coisas e os melhores artistas? De forma simplista e saudosista, sim, mas isso não explica a perda veloz de valor da música.

Mesmo entre artistas populares de outros gênero, o envelhecimento precoce das canções é um sintoma da desvalorização e da pouca atenção que as canções recebem hoje.

Alguém se lembra da canção mais ouvida nas plataformas digitais n mês passado? E há três meses? E no começo do ano? E no ano passado?

Não existem mais hit, e menos ainda no rock, porque não damos nenhuma chance para que as canções amadureçam e se tornem clássicos.

No ano passado, a banda inglesa Judas Priest, com seus 56 anos de existência, ensaiou emplacar um, hit tímido, a excelente canção “Crown of Thorns”, a melhor canção do álbum “Invincible Shield”. Foi uma das poucas do álbum que entrou no repertório da turnê subsequente, mas sumiu dos shows neste ano. As pessoas só queriam escutar “Breaking the Law” e Painkiller”…

Coisa semelhante ocorreu com os Rolling Stones, que lançaram o aguardadíssimo “Hackney Diamonds” em 2023, que continha a belíssima “Sweet Sound of Heaven”, com um dueto entre Mick Jagger e Lady gaga.

A música até teve uma boa “longevidade – durou umas três semanas entre as mais ouvidas em plataformas digitais -, mas acabou sumindo tão rápido quanto surgiu e praticamente não foi tocada nos shows e hoje os fãs da banda três dificuldade de lembrar o nome da canção ou de quem dividiu os vocais com Jagger.

Não existe mais uma fórmula para se criar um clássico na música ou no rock. Não há interesse de público e artistas nisso, já que a prioridade é a produção em escala industrial e artificial, tornando tudo muito descartável.

E assim o rock repete rápido demais a trajetória do blues e do jazz, que sobrevive na memória das pessoas graças aos clássicos de B.B. King, John Lee Hooker, Muddy Waters, John Coltrane, Miles Davis Dizzy Gillespie.

Em 2050, os clássicos do rock continuarão os mesmos dos anos 60, 70 e 80 do século passado. Será altamente improvável que alguém se recorde de algum hit roqueiro dos anos 2010 ou 2020que seja do tamanho de “Hey Joe”, de Jimi Hendrix, ou de “Born in the U.S.A.”, de Bruce Sprigsteen, ou mesmo “Lilk a Virgin” d Madonna, ou “Simply the Best”, de Tina Turner.

A perspectiva é sombria: a música será reduzia a sons ambientes anódinos e amorfos, como os das antigas danceterias e discotecas, quando as músicas eram despejadas de forma artificial e o público não se importava em saber quem cantava ou tocava. Para resumir: música transforada em mero som ambiente e mais nada…

A salvação só ira se vierem novos hábitos de consumo de arte cultura que resgatem o valor da música e que recuperem o prazer de se ouvir e saborear boas canções. O rock está irando música de nicho, como jazz e o blues, e isso não é nada bom.

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