O tempo castigou as maiores vozes do rock em um processo inexorável, mas cruel. Mick Jagger (Rolling Stones), Roger Daltrey (The Who), Ian Gillan (Deep Purple) e Robert Plant (Led Zeppelin), oitentões ou quase, tiveram, de se readaptar como vocalistas ou mesmo mudar de estilo por conta da idade afetar a potência ou o alcance vocais.
Aparentemente, quatro cantores ingleses parecem resistir ao tempo e manter a potência e a cristalinidade da voz: Rob Halford (Judas Priest, 77 anos), Glenn Hughes (ex-Deep Purple, 74 anos), Paul Rodgers (ex-Free e Bad Company, 76 anos) e Graham Bonnet (ex-Rainbow, 78 anos).
Este último é o caso mais impressionante, pois é quase octogenário e tem a voz mais potente de todas. Conseguiu a proeza de inutilizar dois microfones da TV Estadão, em 2009, durante uma visita a São Paulo, de tão alto que cantou – era apenas ele, voz e violão no estúdio em meio à redação do centenário jornal paulistano.
Imparável e inesgotável, o americano Bonnet e sua banda lançaram mais um álbum ao vivo desfiando hits de mais de 60 anos de carreira no hard rock. Como convém a um lorde da nobreza do pop, mantém a tradição de cantar trajando terno e gravata para interpretar canções como “Since You Been Gone”, de Russ Ballard que o próprio Bonnet a ressignificou ao gravá-la com o Rainbow do guitarrista Ritchie Blackmore
“Lost in Hollywood Again” chega pela Frontiers Music Srl. Gravado no dia 29 de agosto de 2024 no lendário Whisky a Go Go, em Los Angeles, o show também foi filmado diante de uma plateia entusiasmada, celebra a trajetória de Bonnet e mostra a química de sua atual formação.
“Lost In Hollywood Again” reúne faixas de diferentes fases da carreira do cantor, passando por clássicos do Rainbow, Michael Schenker Group e Alcatrazz, além de compo6sições da Graham Bonnet Band.
Extraordinário músico, passou por inúmeros grupos nos anos 60 antes de migrar para Los Angeles e se integrar á cena de hard rock setentista. Foi lá que Ritchie Blackmore, então ex-guitarrista do Deep Purple, o encontrou para substituir Ronnie James Dio no Rainbow, onde seu nome finalmente ficou conhecido mundialmente.
Gravou apenas um álbum com a banda, “Down to Earth”, mas foi o suficiente para reposicionar o Rainbow no mercado em 1079. Tocou pouco também com o guitarrista Michael Schenker, ex-UFO, e consolidou sua voz marcante com a banda Alcatrazz, que teve como guitarristas o sueco Yngwie Malmsteen e o americano Steve Vai.
Como artista solo, estabilizou a carreira em meados dos anos 90, mesmo sofrendo com as constantes mudanças na formação da banda de apoio. A atual Graham Bonnet Band conta com Beth-Ami Heavenstone (baixo), Alessandro Bertoni (teclados) e os brasileiros Conrado Pesinato (guitarra – ex-P.U.S., Alcatrazz) e Francis Cassol (bateria – Rage in My Eyes, ex-Scelerata e Holyfire).
Nas entrevistas para divulgar o novo trabalho, Bonnet ressaltou a estabilidade na formação da banda e como se sente realizado com o atual trabalho, indicando que não vai deixar os palcos. Também comenta sobre como elaborou o repertório e a importância das músicas que escolheu.
“Nem é preciso dizer que ‘Since You’ve Been Gone’ deveria ser o primeiro single do nosso novo DVD ao vivo. Foi a música que colocou o Rainbow no mapa e impulsionou minha carreira. É uma canção excelente, e eu queria ter escrito junto com o Russ Ballard”, disse o músico. no dia de lançamento do primeiro single. justamente “Since You Been Gone”.
Bonnet é um gentleman e um apaixonado pela arte. Em conversa informal com um grupo de jornalistas/fãs na visita que fez redação do jornal O Estado de S. Paulo, o cantor mostrou uma visão extraordinária do mercado da música.
Muito bem informado e culto, costumava incomodar com sua visão contestadora – quem o vê cantando trajando terno e gravada o toma como um Frank Sinatra do rock, talvez um artista bem comportado.
5″Minha carreira é anterior ao Rainbow e muita gente esquece isso – ou ignora de propósito. faz parte, mas tenho orgulho do que contribuí nas bands Rainbow, Alcatrazz e Michael Schenker Group, entre outros projetos. Creio que meu ciclo no rock é completo”, disse à época em que esteve em S]ão Paulo;
Ao vivo, as músicas são robustas e estrondosas, sem muito espaço para nuances. E talvez seja injusto afirmar que Bonnet atingiu o auge da carreira com o Rainbow, mas, se alguma coisa, este show comprova isso.
O álbum começa e termina com “Eyes Of The World” e “Lost In Hollywood”, com “All Night Long” e “Since You’ve Been Gone” logo no início. Bonnet se entrega totalmente a ótimas canções de rock, combinadas com a energia e o barulho característicos de uma apresentação ao vivo.
Entre as músicas não tão estouradas estão “Imposter” e “Desert Song” – selecionadas de seus álbuns solo e de sua passagem pelo Schenker. Sem dúvida, sua voz ainda é potente, ele controla firmemente as melodias vocais e interpreta com emoção e convicção. E, ao fazer isso, consegue fundir passado e presente. as mudanças de rumo.
Para quem admira e e venera Ian Gillan, Rob Halford, Dio, Robert Plant e Glenn Hughes, é imperativo ouvir os principais trabalhos de Graham Bonnet. um dos gigantes da voz no rock pesado.