A jornalista de TV segurou o cjoro por apenas dez segundos. As imagens brutais das câmeras de segurança tinham mais de um minuto e mostravam uma mulher chamada Tainara sendo atropelada por um carro e sendo arrastada por um quilômetro – foi uma tentativa do feminicídio por um ex-namorado inconformado pelo “desprezo”.
A jornalista chorou compulsivamente por dias ao acompanhar a agonia de Tainara, que passou por cirurgias e a amputação das duas pernas. Mãe de dois filhos aos 31 anos, morreu duas semanas depois em razão dos ferimentos. O choro se tornou ódio profundo quando o caso virou feminicídio.
Segundo dados de institutos de estudos de segurança pública, ocorreram dez casos por dia em 2025 de tentativas de feminicídio. Quatro mulheres morreram diariamente apenas pelo fato de serem mulheres neste país violento e infeliz. “Foram tantos casos de feminicídio desde novembro que perdi a conta, mas o de Tainara foi demais. Não deu pra aguentar”, disse ao Combate Rock a jornalista, que pediu para não ser identificada. “A música ‘Fear’, d banda Malvada, não sai da minha cabeça. Estou com medo de sair de casa e andar sozinha.”
“Fear” (medo, em português é uma das primeiras canções da banda paulista Malvada, formada por mulheres. Está no segundo disco do grupo, que está acentuando o processo de internacionalização do nome. A letra da canção é genérica e fala sobre muito tipos de medo. Fica bastante dramática na ótima interpretação da vocalista Indira Castillo, uma das coautoras.
Muitas mulheres imediatamente associara, ou adotaram a canção como um, grito de socorro e basta em relação à violência contra elas. “Tenho medo/Não consigo respirar/É um medo constante/Não consigo dormir”.
Ainda que não tenha sido essa a intenção dos autores d música, a canção se encaixa bem no momento crítico em que vivemos, n momento em que medidas protetivas não são suficientes para evitar que homens matem as mulheres por ciúme, machismo ou simplesmente por perversão.
Se a música da Malvada é um grito por socorro, “Fofo e “Mantra”, da banda Eskröta, reforçam a necessidade de combater a violência contra as mulheres de forma mis incisiva. ainda que seja necessário bate e frente e usar a força.
“Eu nasci para ser quem eu quiser”, berra a guitarrista e vocalista Yamsin Amaral em “Foro”, uma mistura de hardcore e thrash metal. O clipe e a faixa de “Mantra” têm a participação da MC Taya é um primor de ativismo e engajamento feminino e defesa das liberdades individuais.
Em um mundo em decomposição, não basta apenas combater a violência contra as mulheres. Não basta também punir e condenar os criminosos. Não basta também um esforço para ensinar respeito; é preciso mais do que massificar a civilidade.
É preciso mais amor e música sem ódio e sem fascismo. Mais inteligência e nenhuma burrice. Veja mais algumas canções que celebram o empoderamento feminino.
– “Selvática” (punk, 2015) – Karina Buhr, André Lima, Bruno Buarque e Mau-
Baiana radicada em Pernambuco, Karina Buhr divulgou uma impactante carta relatando os abusos sexuais que sofreu de um líder religioso em 2019, na esteira das denúncias contra João de Deus que culminaram com a prisão do estuprador charlatão.
– “Respeita” (pop rock, 2017) – Ana Cañas – Canção que remete diretamente ao hit universal “Respcet”, imortalizado por Aretha Franklin. Tem letra poderosa e incisiva, que é direta e sem rodeios. “Ela vai, ela vem/ Meu corpo, minha lei/ (…) Respeita as mina, porra”, desabafa.
– “Desconstruindo Amélia” (pop rock, 2011) – Pitty – A Amélia que era mulher de verdade, submissa e calada como queria a canção antiga e asquerosa do cancioneiro brasileiro, recebeu uma pancada bem dada em contraposição. A música original foi composto por Mário Lago e Ataulfo Alves – “Ai, Que Saudades da Amélia” foi composto em 1942. Pitty resolveu levar a protagonista do samba à forra, atualizando a narrativa e dando uma volta no machismo daqueles costumes criados sob uma sociedade patriarcal. Foi uma porrada na cara do conservadorismo e do machismo que acham que podem se apoderar de corpos femininos .
– “A Carne” (samba/MPB, 2002) – Uma das maiores de todos os tempos, Elza Soares ressignificou a canção que pode ser tanto associado ao racismo como á violência contra as mulheres. “A carne mais barata do mercado” soa perfeita para o momento tenebroso m que vivemos em quase todos os sentidos;