A importância do Golpe de Estado no rock nacional


“Você estava no show do fim do ,undo!!!” Era assim que Nelson Brito me cumprimentava quando nos encontrávamos pelos teatros e casas de show em São Paulo.

O baixista do Golpe de Estado, fundador da banda, orgulhava-se de fazer parte da história de vida de muita gente e tinha na memória a apresentação de 15 de março de 2020, no parque Salvador Arena, em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo), um dia antes da decretação de um severo lockdown. Era o começo da pandemia e covid-19, eu duraria por meses, quase um ano…

Pacato, como todo baixista, concentrado ao extremo no show, com sua cara de mau, derretia-se todo à mesa de um bar, tomando cerveja, ao contar as peripécias de seu amado Golpe de Estado. Era um arquivo vivo da história do rock nacional.

Ele escreveu e protagonizou parte dessa história ao lado do companheiro Helcio Aguirra, o guitarrista que o acompanhou na aventura em Londres no começo dos anos 80 e que chegou a fazer parte do Harppia na volta. M<as os dois estavam destinados a tocar juntos.

Aguirra saiu do Harppia e Brito e o baterista Paulo Zinner saíram dos escombros do Fickle Pickle, trio de blues pesado que tinha André Christóvam na guitarra e nos vocais. E então surgiu um jovem aspirante a Jim Morrison chamado Catalau para os vocais… Era 1985 e o rock finalmente começava a ser grande no Brasil.

O Golpe de Estado foi uma banda importante porque representou a antítese do que era o chamado BRock 80. Sem recorrer ao punk ou cair no heavy metal, era ultrajante e ofensivo a sua maneira, usando um linguajar diferente, direto e abusando do sarcasmo e da ironia. E era uma banda política, com suas letras de cunho ecológico e até progressista, dependendo do ponto d vista.

Resumindo, o Golpe era rock demais para o mercado nacional de música pop, que privilegiava o som mais acessível e inofensivo de bandas como Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho e RPM.

E ainda por cima fazia rock pesado e debochado. Aí era demais… Já bastavam os Titã com o maravilhoso “Cabeça Dinossauro”, LP furioso com forte cunho sociopolítico. No máximo, era aceitável a crítica social genérica dos Paralamas em Selvagem?”.
Golpe de Estado era rock and roll demais pesado demais e incontrolável demais. Era independente além da conta e, por isso, era marginalizado na mesma proporção em que era admirado.

Çonge de ser vanguardista no estilo, ainda assim a banda estava à frente de seu tempo, até mesmo nas presepadas. O comportamento instável dos integrantes autossabotou a banda, mas até nisso o Golpe se diferenciou da concorrência mais famosa e estrelada.

O show do fim do mundo: Gope de Estado em São Bernardo em março de 2020 (FOTO: MARCELO MOREIRA)

O gruo autoincinerou-se e implodiu, com brigas internas e públicas, repetindo The Who, mas também manifestou tamanho respeito por seu público que se recusava a não fazer show, fosse qual fosse o motivo. Não podia dar certo por muito tempo…

Depois de quatro álbuns obrigatórios para quem gosta e quer conhecer o rock nacional, veio a conta pesada. O megassucesso não veio e os integrantes se ressentiram. Os desentendimentos aumentaram e a implosão era inevitável.

Afundado nas drogas e álcool, Catalau saiu em 1994 para várias reabilitações e, depois, para ser pastor evangélico. Hoje mora nos Estados Unidos. Paulo Zinner entrou para a banda de Rita Lee e acumulou os postos até 2009, quando brigou cm Brio e Aguirra.

O guitarrista se tornou, em paralelo, um especialista em amplificadores e um dos mais importantes técnicos da área no país. Manteve a banda unida até a sua morte, de ataque cardíaco, em 2014, aos 56 anos.

Brito quis acabar com abanda ao fina daquele ano depois de uma série de shows em memória do amigo morto, mas não resistiu aos apelos do público e reformou a banda menos de um ano depois.

Foram amis dez anos, um álbum de inéditas e dois a vivo, mas a banda oscilava em relação ao seu futuro. Ora parecia estar em pleno vapor, ora cambaleava. A entrada da empresa TC7  no gerenciamento melhorou muitoas coisas, mas Nelson Brito já demonstrava saúde frágil. Morreu em 2024 aos 64 anos.

O Golpe de Estado, sem nenhum dos integrantes originais e fundadores, se despede de forma digna e honrada depois de 40 anos. O legado da banda é imenso a ponto d inspirar praticamente todas as bandas de hard rock brasileiras que vieram desde os anos 90.

SERVIÇO:

O Último Golpe

Show de despedida do Golpe de Estado

Participação de ex-integrantes da banda

Dia 21/12 à partir das 18:00

Carioca Club (Rua Cardeal Arcoverde 2899- Pinheiros – São Paulo)

Ingressos em www clubedoingresso.com

www.instagram.com/bandagolpedeestado

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