Assim como Dire Straits e Sting queriam ter a sua “própria MTV” no hit “Money For Nothing”, todo aspirante a músico profissional sonhava em estar em uma gravadora ou ter a sua nos anos 70, 80 e 90. Na opinião geral do mundo, eram somente elas que viabilizavam lançamentos globais e impulsionamento de carreiras. Como viver sem as gravadoras financiando tudo?
Quase um quarto de século depois da devastação da indústria fonográfica, quando as gravadoras como conhecíamos desapareceram, a pergunta permanece sem resposta, mas o fenômeno de uma dependência econômico-tecnológica se reproduz neste século: como é possível um músico viver sem divulgar seu trabalho em plataformas que não sejam o Spotify, Deezer e YouTube?
Isso é apenas parte dos desafios que a arte enfrente no século XXI – como expandir as possibilidades de difusão da arte e da cultura ao mesmo tempo em que continuamos buscando a criação de um modelo negócios.
No entanto, o desafio que importa neste momento é tornar minimamente sustentável a produção musical – ou seja, que o processo criativo de composição seja devidamente valorizado e remuneração ao menos razoavelmente. É justamente o que não ocorre atualmente.
Não se trata mais de perguntar o porquê de as plataformas digitais pagarem quase nada pela execução de músicas ao mesmo tempo em que ficam cada vez maiores e mais ricas. A questão é saber como obriga-las a pagar mais e, mais ainda, de criar alternativas mais viáveis financeiramente para sustentar os artistas.
Questionar as grandes plataformas e big techs, com seus imensos poderes e onipresenças, é algo tão tolo de se fazer uandfo o Dom Quixote de Miguel de Cervantes investir contra as pás de moinhos? Não para alguns aristas, que estão batendo de frente com o Spotify, por exemplo. Até que ponto é possível prescindir de uma plataforma como o Spotify como forma de divulgação?
Várias bandas estão abandonando a plataforma de música e amis recente delas é a australiana King Gizzard and Lizard Wizard. A banda retirou o seu catálogo – e o motivo, além da parca remuneração, é o envolvimento de Daniel Ek, CEO da plataforma, com a empresa Helsing.
De acordo com a imprensa europeia, Ek investiu € 600 milhões (aproximadamente R$ 3,9 bilhões na cotação atual) na companhia de tecnologia sediada em Munique, na Alemanha, que produz drones, softwares e sistemas com o uso de inteligência artificial para fins militares. Diante das críticas, Ek se pronunciou afirmando que seu propósito é “proteger democracias de ameaças externas”.
O cantor canadense Neil Young já havia feito o mesmo em 2021 por conta de posturas questionáveis do Spotify. A plataforma apoiava e financiava um podcast de um negacionista americano que bradava contra a ciência, as vacinas e, em última instância, contra a democracia. Young reclamava mito também da baixa remuneração pela execução de suas músicas, mas acabou, de forma lenta, a oferecer seu catálogo novamente na empresa.
“Um alerta para quem não sabe: o CEO do Spotify, Daniel Ek, investe milhões em tecnologia de drones militares com IA. Acabamos de remover nossa música da plataforma. Será que conseguimos pressionar esses vilões da tecnologia a melhorarem? Juntem-se a nós em outra plataforma”, publicou a banda nas redes sociais.
Ainda que incipiente e tímido, o movimento é importante roque expõe uma insatisfação artística que vai além da questão financeira. A postura ética começa a ser levada em consideração e transcende a situação de ter pouco espaço para divulgar o trabalho em um momento em que quatro ou cinco grandes plataformas dominam o mercado.
Dá para viver fora do Spotify? King Gizzard vai experimentar na prática, o que outros nomes importantes do 6ubderground vivenciam. No Brasil, bandas como Dorsal Atlântica e macaco Bong atuam sem a necessidade de estar na plataforma, assim como outros nomes relevantes.
Já Neil Young, um artista gigante, retornou por pressões comercial – mesmo com a remuneração pífia, ainda assim o volume financeiro era representativo no conjunto de faturamento do artista. Será mesmo que um músico consagrado como Neil Young te de se amarrar ao Spotify para continuar operando?
Como o mundo da música ainda não descobriu um modelo de negócio que seja bom para todos, mmas principalmente para os artistas, a discussão ganha ares utópicos até certo ponto – afinal, os emresários que gerem o dominam as plataformas digitais ficcaram bilionários em menos de dez anos, enquanto existe apenas um músico bilionário – Paul McCartney, ex-beatle que tem 65 anos de carreira.
O debate parece utópico ou ainda prematuro para saber se há mundo musical viável fora dessas plataformas digitais onipresentes? Talvez, mas é preciso prestar muit atenção a esse movimento ético-financeiro, ainda tímido, que assola o Spotify. É possível que esteja sendo criado um paradigma mercadológico e artístico nas relações entre músicos e empresas.
Além do mais, precisamos aplaudir a coragem de bandas como Kig Gizzard and Lizard Wizazrd e Dorsal Atlântica O rock continua sendo atitude e contestação, além de progressista e em prol da justiça social.