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“Sou um músico que precisa tocar, estar constantemente em ação. É assim que o Saxon sobrevive, é assim que ganhamos dinheiro. Paul “Biff” Byford não economizou na realidade de uma das bandas mais importantes do heavy metal. 

Comentando o momento do grupo inglês em rápida entrevista por e-mail ao Combate Rock, no ano passado, o cantor afirmou que sabe do grande legado que sua banda criou, mas não se cansa em dizer que precisa seguir em frente, mesmo caminhando para os 70 anos de idade. “Nunca gostei de dizer que ‘preciso’ trabalhar. Eu e o Saxon precisamos tocar, eu tenho de cantar. É da minha natureza e que bom que assim tem sido.”

Com o Saxon aproximando-se dos 50 anos de existência, Byford não se lembra de ter trabalhado tanto como nos últimos dois anos, período que compreende a trágica covid-19 e a pandemia que causou. Depois de “Thunderbolt”, de 2018, o Saxon deu uma pausa para retomar os trabalhos com turnê mundial e disco novo em 2020. A pandemia, no entanto, não deixou.

Em casa, com o filho Seb, tratou de se manter ativo para manter a roda girando e fazer algum dinheiro. Abanda entrou de cabeça e então surgiu “Inspirations”, o primeiro volume de versões de clássicos do rock. 

O segundo volume está praticamente gravado, mas deve sair somente em 2023, já que a vez é de “Carpe Diem”, 23º álbum da carreira do Saxon, que reúne 10 faixas inéditas e foi lançado com exclusividade no Brasil pela gravadora paulista Heavy Metal Rock. E ainda teve, em 2021, o primeiro disco do projeto Heavy Water, em, que Byfford toca baixo e divide os vocais com Seb, que é guitarrista.

“Carpe Diem” segue na linha de “Thunderbolt”, que foi um disco que olhou mis para os anos 80, mas com uma roupagem moderna e timbres de guitarra trovejantes. 

O novo disco vai pelo mesmo caminho, embora as canções não sejam tão impactantes quanto as de “Thunderbolt”, que corre sério risco de ser o melhor trabalho do quinteto neste século.

Saxon em 2022: da esq. para a dir., Paul Quinn (guitarra), Doug Scarratt (guitarra), Biff Byford, Nigel Glockler (bateria) e Nibbs Carter (baixo)

Produzido por Andy Sneap (Judas Priest, Exodus, Accept) no Backstage Recording Studios, em Derbyshire, Inglaterra, com a participação de Byford na mixagem e masterização, “Carpe Diem” também permite, pela primeira vez, a participação de Seb Byford fazendo vocais adicionais. Outros dois estúdios também foram utilizados para algumas partes vocais e de bateria.

De certa forma, a música é quase a mesma, mas a mensagem é poderosa, sobretudo na melhor canção do álbum. “Remember the Fallen” é um dos mais contundentes ataques aos negacionistas e aos que desdenham adas vacinas. 

É uma canção derivativa de “Forever Free”, a canção-título do álbum de 1992, com a mesma estrutura e o mesmo padrão harmônico, tudo recauchutado com timbres mais modernos. Entretanto, a letra, direta e incisiva, é uma pancada, mencionando diretamente os heróis da saúde no mundo e os heróis que caíram na batalha, ou seja que não sobreviveram à devastação do vírus.

“Carpe Diem” é um álbum bacana de se ouvir. Por mais que a banda se repita e recicle padrões próprios do início da carreira, como a veloz “Living on the Limit” ou na “requentada” “All For One”, ainda assim soa interessante em um momento em que as bandas do estilo abusam do ultraprocessamento sonoro na produção e soem muito parecidas.

Há, como sempre, uma boa dose épica, com a lenta e densa “The Pilgrimage”, que parece carregar todo o fardo Saxon na sua luta quase diária para fazer música na pandemia. Os solos de Paul Quinn e Doug Scarratt estão entre os mais belos já executados pela banda.

A faixa-título também tem pouca originalidade, mas retoma com sucesso alguns dos melhores momentos do Saxon dos anos 80 e 90, com riffs poderosos, agindo em dobradinha com a canção seguinte, “Age of Steam”, esta que poderia estar em discos clássicos como “Crusader”, “Rock the Nations” ou “Forever Free”.

Liricamente, é possivelmente o disco mais politizado da banda em muitos anos. mais até do que “Call to Arms” (2011) e “Sacrifice” (2013), quando alguns temas quentes da época foram mencionados, mas de forma velada.

“Remember the Fallen” é uma pancada contra aqueles que “não ligam para as milhares de mortes e o milhões de infectados pelo mundo”, como comentou o vocalista Biff Byford no material de divulgação do álbum.

Com o auxílio luxuoso o filho Seb nos vocais de apoio, Byford afirmou que o mundo jamais poderá esquecer do que passou nos último dois anos e que é necessário aprender com os erros e com os recados que a natureza está nos dando.

“Eu queria escrever uma música sobre a covid, sobre as pessoas que morreram, e dar minha visão de como isso me afetou”, diz o vocalista. “Certos aspectos de tudo isso são bastante misteriosos e, claro, não terminou ainda, não é? Todos devemos nos lembrar daqueles que morreram como um grupo de pessoas que realmente não souberam por que morreram. Não tiveram a informação necessária e ainda foram bombardeados com informações falsas.”

Andy Sneap, o produtor, é um velho conhecido dos roqueiros ingleses e atualmente toca guitarra nos shows do Judas Priest substituindo Glenn Tipton. A escolha não poderia ser mais apropriada m razão da experiência do produtor, que é fã do Saxon.

“Andy é obviamente um guitarrista muito bom”, diz Biff. “Mas ele não é um guitarrista de blues como nossos caras, ele é mais um músico de estilo moderno. E isso significa que os meninos (Paul Quinn e Doug Scarratt) adoram trabalhar com ele porque, novamente, é tudo sobre a intensidade. Andy está sempre empurrando o time, é rigoroso, não os deixa escapar impunes de nada. Eles têm que jogar de verdade, a toda velocidade. Ele consegue um ótimo som, e nós queremos aquele som Gibson/ Marshall dos anos 80, mesmo que não sejam Gibsons e Marshalls. Tentamos manter aquele som de guitarra de metal britânico que criamos para o Saxon,”

Nem tudo, no entanto, está tranquilo para a banda britânica. A pandemia e as novas variantes ainda pairam sobre as cabeças de todos, segundo ele, o que deve afetar a continuidade dos trabalhos em 2022, embora ele não perca o otimismo.

“Estaremos bastante ocupados este ano. Estamos fazendo uma turnê no Reino Unido no final deste mês, há festivais que foram remarcados de dois anos atrás, estamos pensando em ir para a América, também vamos fazer uma turnê na Europa. Claro, tudo isso se as questões sanitárias permitirem”, torce o músico. “Como todo mundo, estamos apenas mantendo os dedos cruzados para que tudo dê certo e possamos fazer tudo. Também estamos gravando o segundo álbum do ‘Inspirations’, e enquanto fazemos isso, nunca se sabe, podemos escrever algumas músicas para um outro álbum do Saxon…”