Como o Marillion se reinventou depois do sucesso de ‘Misplaced Childhood’

FOTO: DIVULGAÇÃO

O escocês Derek Dick faz parte de uma linhagem de cantores que associaram definitivamente a sua voz e imagem a uma banda, por mais que tenha ficado apenas sete dos mais de 40 anos do no grupo que o catapultou à fama. Conhecido como Fish, gravou os primeiros álbuns do Marillion, a principal banda do movimento neoprogressivo dos anos 80.

Aos 66 nos, prometeu e cumpriu a promessa: está se aposentando e afirma que não é mais um músico. Fechou sua loja virtual, seu selo e acabou com um podcast concorrido onde falava de tudo.

Não é uma notícia boa, pois seus mais de 36 anos de carreira solo são de muita boa qualidade sempre foi reconhecido como um artista íntegro e sem concessões ao mercado.

Nas poucas entrevistas que deu sobre o assunto, afirmou que não via mais sentido no mundo de hoje em manter uma produção ativa. Tinha perdido o prazer de trabalhar e viver de música. Sua última atividade foi no ano passado, ao relançar os discos “Vigil in a Wilderness of Mirrors” (1990) e “Internal Exile” (1991) como os projetos finais da gravadora própria Chocolate Frog Record Company. O último álbum solo é de setembro de 2020, quando lançou “Weltschmerz”.

A síndrome do cantor que ficou maior do que a banda. Caso clássico de ego inflado ou choque de visões artísticas diferentes e incompatíveis?

À semelhança da banda brasileira Barão Vermelho, que quase implodiu em 1985 com a saída do vocalista Cazuza, o grupo britânico Marillion passou por um terremoto ao final de 1988 com a partida do cantor Derek “Fish” Dick.

E, assim como ocorre com os brasileiros, ha uma parcela furiosa de fãs que não aceita a trajetória da banda posterior à saída do corpulento vocalista – e lá se vão 36 anos…

Fish era parte crucial da ascensão meteórica do Marillion em nome gigante do rock nos anos 80; Era uma banda aspirante a um lugar ao sol em 1981 na esfera do hard rock e logo foi alçada a líder de um novo movimento, o neoprogressivo inglês com o lançamento a estreia, “Script for a Jester’s Tear”, em 12983, um clássico que indicava a ressurreição do rock progressivo.

Imagens de capa e encarte do á ‘Misplaced Childhood’

Mais do que isso, indicava os primeiros passos do metal progressivo, que ganharia forma no ano seguinte com o surgimento, nos Estados Unidos, do Queensryche e do Fates Warning.

A sequência alucinante de álbuns d sucesso tornaram o Marillion grande, especialmente com os discos “Fugazi” (1984) e “Misplaced Childhood” (1985).

O estouro mundial foi consolidado pela balada romântica “Kayleigh”, uma escamoteada para não revelar que o nome da “amada” era Kay Lee. Junto com as canções “Lavender” e “Pseudo Silk Kimono”, formou uma das mais celebradas “suítes” do rock.

“Clutching at Straws”, de 1987, já apontava o cansaço da vida insana na estrada e de sucesso extremo e trazia músicas mais intrincadas e herméticas, bem ao gosto do guitarrista Steve Rothery e do baixista Pete Trewavas, mas que desagradava ao vocalista Fish. O afastamento era visível.

Quando vieram as férias de um ano e o lançamento do duplo ao vivo “The Thieving Mafpie – La gazza Ladra”, em 1988, todos sabiam que Fish estava fora e já engatilhava o seu primeiro álbum solo antes mesmo de anunciar a sua saída.. E a banda não perdeu tempo e já se ajeitava com o substituto, o desconhecido, mas correto e sereno Setev Hogarth.

Menos expansivo e exuberante do que o vocalista anterior, Hogfarth era conhecido por ser bom compositor e um nome de respeito no cenário folk. Mudou completamente o estilo do grupo, que passou a fazer um rock mais acessível a partir de “Seasons End”, a estreia do Marillion com nova voz, em 1989.

As críticas vieram e de foram pesada, acusando a banda de se vender e se abusar das balada. O quinteto nem ligou e seguiu em frente. O disco de estreia da segunda fase vendeu horrores, mas o sucesso jamais foi o mesmo nos últimos 35 anos.

Entretanto, Hogarth segue firme e liderando o Marillion em álbuns excelentes e em canções de sucesso, como a linda balada “Beautiful”.

A banda chegou ao nível de ser considerada uma instituição do rock, e metralhar Hogarth por conta da idolatria ao antigo vocalista, que ficou na banda por apenas cinco anos e quatro álbuns, é de uma crueldade e de uma injustiça intoleráveis.

O Marillion merece ser louvado e celebrado por conta de uma carreira de alto nível e por uma fileira de grandes trabalhos. Esqueçam as acusações de que é uma cópia do Genesis, e que Fish nunca passou de um genérico de Peter Gabriel (vocal do Genesis) menos inspirado. Negas essa influência é absurdo, mas mputar o “crime” de cópia é injusto e desonesto.

A virada da banda completa 35 anos e mostra que o Marillion foi muito além dos cinco anos da fase com o cantor Fish. Contnia sendo o grande nome do movimento neoprogressivo britânico dos anos 80.

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