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Rolling Stones em Altamont (Reprodução DVD)

Nunca sequer imaginei que Taylor Swift seria objeto de um texto aqui neste Combate Rock, mas ok, ela chegou lá. Mas não por méritos dela, nem por deméritos, ela não tem culpa nenhuma deste deslize (aparecer por aqui) em sua carreira. A culpa é da T4F, que promove seus shows aqui no Brasil.

Ok, Taylor Swift é um fenômeno global, ostenta uma marca de quase 40 milhões de álbuns vendidos pela carreira, atrai multidões onde quer que vá, tem uma base de fãs muito mobilizada e está capitaneando a turnê mais lucrativa da história, The Eras Tour. E, claro, chegou ao Brasil, para se apresentar pela primeira vez.

Desde o momento que se anunciou os shows, início de venda de ingressos (que se esgotaram rapidamente), tudo foi euforia e ansiedade, tanto por parte de fãs como de pais de alguns desses fãs. Tenho um amigo que passou dias desesperado atrás de um ingresso para sua filha (não sei se conseguiu comprar).

Ok, ontem foi a noite do primeiro show. Depois de muita ansiedade, expectativa e tudo mais, os fãs lotaram o estádio Nilton Santos, no Rio de Janeiro. E aí, o que eles encontraram foi uma câmara de tortura: tapumes fechavam todas as entradas de ar do estádio e público foi proibido de entrar com garrafas de água.

Com a situação, já prevista, de calor extremo em boa parte do país, o resultado não poderia ser outro: sensação térmica de mais de 60 graus, mais de mil fãs passando mal com o calor. Uma delas, infelizmente, morreu. De calor, por falta de água. Os que foram socorridos no PS do local, ao invés de hidratação, recebiam Rivotril, remédio tarja preta, para tratamento de ansiedade. As pessoas estavam desidratadas, passando mal com o calor, não ansiosas.

A T4F impediu as pessoas de entrarem com água porque o mesmo produto era vendido dentro do estádio. A T4F, mesmo ciente das altas temperaturas que assolam o país, fechou todas as entradas de ar do Nilton Santos pra impedir que as pessoas pudessem circular por áreas do estádio, ou seja, para que quem pagou por um preço menor o ingresso, pudesse assistir o show em um setor de maior valor. Por ganância, a T4F acabou fazendo com muitas pessoas passassem mal por conta do calor e uma delas acabou morrendo.

Por mais que tenhamos em nosso histórico de shows no Brasil, situações em que mais pessoas acabaram morrendo (talvez o exemplo mais trágico tenha sido o da Boate Kiss, em Santa Maria, em 2013), o caso ocorrido noite passada nos remete diretamente ao festival de Altamont, organizado pelos Rolling Stones em 1969.

Mal planejado, mal organizado, o evento reuniu muito mais gente do que se imaginava, em um autódromo próximo à cidade de São Francisco, nos EUA. Para economizar, Mick Jagger, pessoalmente, decidiu contratar os Hell’s Angels como seguranças do evento e negociou parte do pagamento deste pessoal em cerveja.

Ao longo do dia, tendo misturado diversas drogas com bebida, a gangue de motoqueiros passou a tratar o público (também com a cabeça cheia de aditivos) com violência. Marty Balin, guitarrista do Jefferson Airplane, uma das atrações da noite, foi nocauteado por um “segurança”.

O ápice da tragédia, aconteceu durante a apresentação dos Stones: Meredith Hunter, um jovem que estava na plateia, sacou um revolver e foi esfaqueado por outro Hell’s Angel. Ao fim e ao cabo, Altamont acabou simbolizando o fim da era “flower power”, que tinha atingido seu apogeu no festival de Woodstock, menos de seis meses antes.

Voltando para os fatos do show no Rio, o Ministério da Justiça determinou que água seja distribuída gratuitamente em shows assim e agora, esperamos que a T$F trate de não negligenciar segurança e conforto aos que pagam (e não pagam pouco) para assistir os eventos que eles promovem.

ATUALIZAÇÃO: Em mais uma lambança de organizadores e da artista, o segundo show de Taylor Swift no Rio, previsto para este sábado (18), foi adiado para segunda-feira (20). Só que a decisão foi anunciada cerca de 90 minutos antes do começo da apresentação, quando o este texto já estava no ar.

A decisão foi estapafúrdia, ainda que fizesse sentido em relação à saúde pública por conta das temperaturas extremamente altas. Mas isso tinha de ter sido feito de manhã, quando as pessoas ainda estavam torrando nas imensas filas. Adiar quando todos já estavam dentro do estádio foi o ápice do desrespeito ao público.

O que diz a T4F

Nas redes sociais, a empresa que organizou o show no Rio de Janeiro confirmou a morte da espectadora Ana Clara Benevides, de 23 anos, antes do final do show de Taylor Swift. Em nota pública, descreveu que a moça passou mal e desmaiou durante a apresentação, sendo encaminhada ao posto médico e, em seguida, a um hospital, onde morreu. Leia o texto da nota:

“É com muita tristeza que informamos o falecimento de Ana Clara Benevides Machado, 23 anos. Na noite de ontem, Ana Clara se sentiu mal e foi prontamente atendida pela equipe de brigadistas e paramédicos, sendo encaminhada ao posto médico do Estádio Nilton Santos para o protocolo de primeiros socorros. Diante do quadro, a equipe médica optou pela transferência ao Hospital Salgado Filho, onde, após quase uma hora de atendimento emergencial, infelizmente veio a óbito. Aos familiares e amigos de Ana Clara Benevides Machado nossos sinceros sentimentos”.

A produtora T4F também informou por meio das redes sociais que vai oferecer água gratuita na fila e em todos os acessos ao Estádio Nilton Santos, local da apresentação.

A empresa autoriza o público a entrar com garrafas plásticas flexíveis. A regra já vale para o show de hoje, que acontece no Engenhão, no Rio.