Eddie Van Halen, 70: o último revolucionário da guitarra

Eddie Van Halen (FOTO: DIVULGAÇÃO)

A última revolução da guitarra no rock surgiu na pequena cidade holandesa de Nijmegen. Ou pelo menos é assim que boa parte dos críticos musicais tratam a maneira de tocar de Eddie Van Halen, que completaria 70 anos se estivesse vivo – sucumbiu a um câncer em meados de 2020..

Talvez os mesmos críticos pudessem olhar com um pouco mais de carinho para Dimebag Darrell, do Pantera, mas, de qualquer forma, não estão equivocados.

O líder do Van Halen surgiu como um furacão na Costa Oeste norte-americana em 1975, ano em que a banda Van Halen começou a chamar a atenção.

Com algum apoio de Gene Simmons, do Kiss, a banda que era Mammoth e virou Van Halen construiu base sólida no que se convencionou chamar de hard rock angariou seguidores de forma poucas vezes vistas no país. Quando “Van Halen”, o primeiro álbum, chegou às lojas em 1978, os portões foram arrombados.

Eddie redefiniu vários parâmetros na execução técnica e expandiu os limites da criatividade na busca por timbres e invenção de sons. Ninguém, nem remotamente, tinha chegado perto das experiências que o jovem holandês radicado na Califórnia resolveu fazer, muito menos nos resultados impressionantes.

Eddie Van Halen em um de seus últimos show, na Califórnia, em 2015 (FOTO? EDUARDO KANECO)

Ele absorvia de tudo, de Eric Clapton a Jimi Hendrix, de Jimmy Page a Brian May, de Ritchie Blackmore a Jeff Beck, e transformava em um som único e regado a inovação, inventividade e inteligência. 

“Runnin’ with the Devil”, “Ain’t Talkin’ ‘Bout Love”, a versão de “You Really Got Me”, dos Kinks e quase todas as faixas do álbum traziam uma série de inovações sonoras que poucos instrumentistas conseguiram no rock – e, quem sabe, na música.

Ainda que Steve Hackett, do Genesis, alegue ter sido um dos pioneiros da técnica do tapping, foi a maestria de Eddie que disseminou a então novidade e o transformou em um guitar hero, a ponto de ser recrutado para tocar com Michael Jackson nos anos 80.

O Van Halen se tornou um símbolo dos novos tempos, e deu uma injeção de ânimo e qualidade no hard e no heavy metal dos anos 80, ao mesmo tempo em que a New Wave of British Heavy Metal fazia o mesmo. O quarteto se tornou um colosso e contaminou o meio musical com as novas técnicas de guitarra e gravação.

Gigante e multiplatinado, o Van Halen sobreviveu com qualidade à saída do performático vocalista Dave Lee Roth em 1985, mas mudou radicalmente seu som com a chegada de Sammy Hagar, perdendo um pouco da espontaneidade e adquirindo um tom mais sério, mais AOR (Album Oriented Rock).

Van Halen em sua primeira e clássica formação: da esq. para a dir., David Lee Roth, Alex Van Halen, Eddie Van Halen e Michael Anthony (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Eddie continuou sendo admirado, mas já se notava uma perda de brilho a cada álbum da nova fase: continuava tocando muito, mas as composições já não seguiam mais o padrão de qualidade.

Depois de “Balance”, de 1995, e da subsequente saída de Hagar, a banda perdeu o rumo, ficou à deriva, perdeu tempo com o bom vocalista Gary Cherone (Extreme) e afundou no limbo.

Eddie ficou doente, teve de combater um câncer bucal enquanto tentava mais uma vez se livrar das drogas e do álcool no começo do novo século.

Novas tentativas com Roth e Hagar naufragaram, para que o renascimento viesse ao lado do irmão Alex, do filho Wolfgang no baixo (substituindo o agora ex-amigo Michael Anthony), que finalmente convenceram Roth a voltar.

Três turnês foram suficientes para que a banda decidisse reciclar ideias antigas e criar um novo álbum, “Different Kind of Truth”, em 2012, 14 anos após o último CD de inéditas. Funcionou, com o guitarrista tendo lampejos da genialidade do inicio de carreira. Os velhos truques de sempre (no bom sentido) estavam lá, embora houvesse a falta de um pouco mais de empolgação. Mas o mestre estava de volta.

A volta do Van Halen foi uma tapa na cara dos que enterraram banda por conta dos hiatos e das divergências internas. Mesmo acomodado, Eddie mostrou que gênio mesmo em um momento diferente e esquisito da carreira.

Quando ele toca, todos param para ver e escutar, da mesma forma que ocorre com Eric Clapton, Jeff Beck, Jimmy Page e alguns outros. O mago holandês está em boa companhia.



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