Ainda existem, rádios que tocam rock em São Paulo. São só duas emissoras, só que parecem estar vinculadas a uma cápsula do tempo, fossilizadas nos anos 80 e 90 parado perpetuamente. Para esse mundo nostálgico, nem mesmo Coldplay e Radiohead, bandas com mais de 30 anos, parecem existir.
Em duas longas viagens de táxi pela Grande São Paulo durante a semana foi o suficiente para perceber como o rock parece ter parado no tempo, a julgar pelo que tocou nas duas tais emissoras dedicadas ao rock, A música mais recente exibida durante a tarde tinha sido lançada em 1996.
As programações das duas rádios são o retrato perfeito do que é o apreciador de rock da atualidade – conservador, preguiçoso e avesso a inovações. É saudosista e sem disposição alguma para conhecer artistas novos. É o ouvinte que não cansa de ouvir todo os dias “Smoke on the Water”, do Deep Purple, e “Meu Erro”, dos Paralamas do Sucesso”.
Uma das emissoras, pelo menos, tem a desculpa de ter sido fundo com a premissa de se dedicar ao rock clássico – um conceito que sirgiu nos Estados Unidos com a rede de emissoras chamada Kiss e que só tocava artistas que tinham lançado músicas entre 1960 e 1985m nas isso não faz mais sentido em termos mercadológicos na São Paulo de hoje.
A outra emissora, a 89 Rock, de tempos em tempos passa por reformas na programação procurando valorizar conteúdos específicos e segmentados em busca de um público jovem e mais antenado. Pena a programação musical não reflita essa tendência. Parece que não existem mais lançamentos e artistas novos no rock brasileiro.
Em pouco mais de uma hora de audição no rádio do raro taxista que ouve uma rádio rock, hits dos anos 80 de Paralamas e Capital Inicial soaram, assim como de The Cure e Echo and the Bunnymen. E ainda teve velharias de The Pretenders e a mesma de sempre dos Beatles.
Ainda que tenha dado mais espaço para programas de entrevistas e de conteúdos diversos, não faz sentido ignorar o que s e faz de mais atual no rock. Quem ouve as duas emissoras não deve saber da existência de Greta Van Fleet, Blues Pills, Black Pantera, Boogarins, Bike, Terno Rei e muitos outros artistas que brilham no mundo real.
Se esse tipo do programação engessada e fossilizada permanece é porque o público quer e os anunciantes percebem isso. É muita falta de ousadia e ambição – o rock morre um pouquinho cada dia enquanto essa miopia que que ainda perdura.
O rádio ainda resiste como meio importante de comunicação mais de 100 anos depois e seu surgimento. Cinema, televisão, TV por assinatura, internet, nada foi capaz de derrubar a potência radiofônica. Diante de tal resiliência, é surpreendente que inovação passe longe a ponto de evitar as músicas mais novas lançadas na atualidade.
Mas qual é a importância das emissoras de rádio nos dias de hoje? Continuam sendo relevantes e bastante ouvidas, seja em casa, nos automóveis ou em espaços públicos. É o único veículo de comunicação capaz de chegar a todos os lugares. Por isso é inexplicável que a visão distorcida e a resistência ao novo e às novidades predomine em relação rock,
A internet se revelou um veículo fundamental para disseminar músicas e artistas novos, seja em podcasts, seja em web rádios ou programas específicos. Não são suficientes, no entanto, para superar a importância do rádio.
É possível atestar essa importância nos programas específicos e segmentados que existiam até há pouco na própria Kiss FM. Clemente Nascimento, dos Inocentes, e o cantor e humorista Bruno Sutter apresentavam programas em que tocavam bandas recentes e que ganhavam destaque, com resultados relevantes de audiência.
Inexplicavelmente, nunca foram estimulados e os artistas novos que eles exibiam nunca ganharam chance na programação fossilizada da emissora. Quando se fala em outros gêneros musicais, é possível constatar que carreiras artísticas explodem ou ganham consistência quando as canções ganham destaque nas rádios – nem vamos considerar a questão do “jabá”, a prática de pagar para impulsionar execução das músicas.
Só resta lamentar a falta de espaço para artistas novos nas programações em horários nobres das emissoras d rock em São Paulo. E pensar que o meio de comunicação já foi o principal veículo de disseminação do rock no Brasil…