Henrique Neal – especial para o Combate Rock
Entre o inconformismo, a indignação e a resignação com a notícia da parada do Angra por tempo indeterminado, há uma corrida para estancar as milhares de suposições e especulações, que invariavelmente esbarram nas fake news (notícias falsas).
Diante disso, não surpreende que o empresário d banda, Paulo Baron, tenha saído dos bastidores para explicar a decisão da banda e tentar conter a onda de boatos.
Após o anúncio da pausa por tempo indeterminado, Baron quebrou o silêncio e compartilhou um relato sincero sobre os bastidores da decisão. “Ainda estou assimilando tudo… Por isso demorei um pouco em postar sobre todo esse turbilhão de coisas que se passaram nos últimos tempos”, escreveu nas redes sociais.
Segundo ele, o grupo optou por encerrar temporariamente as atividades em um momento de alta: “Estávamos no melhor momento e, também, muito exaustos depois de tantas coisas que aconteceram nos últimos 13 anos.”
Baron reconhece que a pausa pode gerar estranhamento para os fãs. “Normalmente as bandas param quando estão em crise ou em decadência. No caso do Angra, a linha estava em total ascensão”, explicou.
Ele citou a demanda crescente por shows e a boa fase da banda como fatores que tornaram a decisão ainda mais difícil — inclusive financeiramente. “É difícil abrir mão de tudo isso, mas havia algo maior em jogo.”
O empresário relembra com emoção o convite feito por Kiko Loureiro em 2012 para assumir o comando da carreira da banda. “Depois de uma hora de conversa, resisti ao convite, mas ele disse que achava que a única pessoa que poderia assumir isso seria eu.”
A partir daí, Baron traçou o plano de reposicionar o Angra no cenário nacional e internacional. “Minha missão era fazer com que a marca estivesse acima de qualquer membro da banda.”
O empresário, proprietário da Top Link, tornou peça-chave na história recente do grupo. Ele enfatiza que o vínculo vai além da relação profissional: “A banda sempre me abraçou como um sexto membro, o que me fez guardar um lugar ainda mais especial em meu coração para todos eles.”
A decisão de pausar, segundo ele, foi tomada com sabedoria: “Isso que é o mais legal de quando se para bem. Sem pressa. Tudo dependerá de nós.”
Parceria vitoriosa
Quando Paulo Baron decidiu aceitar o convite de Kiko Loureiro para empresariar o Angra, sabia que estava assumindo uma missão desafiadora.
Em 2013, ele idealizou e montou a terceira edição do festival Live’n’Louder com um objetivo claro: ser o palco da volta do Angra. “Eu não tinha planos de fazer uma nova edição do festival, mas fiz especialmente para o Angra retomar com excelência”, contou.
O Angra foi co-headliner ao lado do Twisted Sister, marcando a primeira grande aparição da banda com sua nova formação. A partir dali, Baron iniciou uma estratégia sólida de reposicionamento.
A turnê comemorativa de “Angels Cry”, que no início enfrentou resistência de promotores, foi financiada de forma independente e resultou em um DVD histórico gravado no HSBC Brasil. “Foi o segundo passo na reconstrução que estávamos criando”, relembrou.
Outro momento-chave foi a entrada oficial de Fabio Lione. Apesar da ideia inicial de um reality show para escolher o novo vocalista, a banda decidiu seguir com o italiano, que já havia se apresentado no cruzeiro “70.000 Tons of Metal”.
“Tinha dado certo. A química estava lá. Era ele”, disse Baron. O resultado veio com o álbum Secret Garden (2014), lançado pela Universal Music e acompanhado de uma turnê de grande repercussão na Europa e Japão.
Mas nem tudo foi previsível. Quando Kiko Loureiro recebeu o convite para entrar no Megadeth, Baron entendeu o peso da mudança. “Apesar de dar os parabéns, para mim, um buraco se abriu na terra”, confessou. Ainda assim, transformou o desafio em oportunidade: uniu a despedida de Kiko à estreia de Marcelo Barbosa durante o Rock in Rio 2015. “Foi a melhor forma de nos despedirmos de um irmão e acolhermos outro”, comentou.
Com o lançamento de “Ømni” (2018) e mais de 100 shows em um único ano, o Angra entrou em uma fase intensa. “Foi lindo, mas esgotante. Me prometi nunca mais repetir isso”, afirmou.
A pandemia forçou uma pausa, mas também deu fôlego para a criação de “Cycles of Pain” (2023) e novas turnês. Tudo isso guiado por uma estratégia pensada a longo prazo. “Minha missão sempre foi fortalecer o nome Angra. E, olhando hoje, acho que conseguimos.”