Autoconfiança nunca faltou para o inglês John McLaughlin. Com um sorriso quase permanente no rosto e uma compenetração espantosa, o guitarrista chegou a Nova York nos anos 60 e derrubou quaisquer restrições que os norte-americanos pudessem ter em relação a sua competência e habilidade. “O jazz que esse cara toca é assombroso”, teria dito Jimi Hendrix no final daquela década.
Esse monstro da guitarra, que se tornou uma espécie de “outsider” da música instrumental internacional após os anos 80, incorporou de tal forma a palavra excelência na forma de tocar que passou a personificar o termo naquele pântano perigoso – e maravilhoso – chamado jazz rock.
Aos 83 anos, continua desfilando a sua elegância pelos palcos do mundo ao lado da afiadíssima banda 4th Dimension, que o acompanha há mais de 20 anos. E não há palco mais nobre do que o Montreux Jazz Festival para celebrar essa excelência musical.
A apresentação mais recente do músico no festival suíço foi lançada em áudio e em CD no começo de agosto e resume de forma brilhante a qualidade de seu trabalho. De certa forma, os adjetivos existentes são insuficientes para expressar a beleza de as música. E foi mais uma vez na inspiradora Montreux que o guitarrista deixou a sua marca.
Não são poucos os que atribuem a McLaughlin a criação do jazz rock, no início dos anos 70, seja tocando nos Estados Unidos ou voltando esporadicamente à Inglaterra. Afinal, ele criou e foi o líder da extraordinária The Mahavishnu Orchestra, talvez o principal sinônimo da fusão dos dois gêneros. E tocou ainda com Miles Davis…
“É o maior guitarrista vivo e um dos principais músicos em atividade no mundo”, disse o mago Jeff Beck em uma entrevista em 2007 – isso para não precisar citar aqui as toneladas de prêmios que ganhou, entre eles o Grammy.
Quem teve uma opinião semelhante foram dois gigantes do jazz. O trompetista Miles Davis foi um dos seus admiradores e o convidou para tocar em sua banda por um tempo.
Outro que ficou encantado foi o baterista Tony Williams, que fez questão de ter McLaughlin em sua banda recheada de feras, o Tony William’s Lifetime.
Além da Mahavishnu Orchestra e dos trabalhos solo de extremo bom gosto, o guitarrista inglês também protagonizou um dos grandes momentos da música universal, a série de concertos ao lado de Al DiMeola e Paco de Lucía, os três tocando violões.
O álbum “Friday Night in San Francisco”, lançado em 1981, é um daqueles momentos marcantes em que o tempo para e só você percebe o que acontece – e só você escuta, ou pelo menos é assim que interpretamos.
É o tipo de sensação que muitos, no século XIX, garantem ter sentido no teatro Scala, de Milão, assistindo a óperas de Giuseppe Verdi, ou em Bayreuth, na Alemanha, na execução sinfonias de Richard Wagner.
“Live at Montreux Jazz Festival 2022” foi lançado pela earMUSIC com o áudio da apresentação disponível em vídeo no YouTube. Este álbum ao vivo essencial captura com maestria a sinergia perfeita entre John e sua banda de longa data, The 4th Dimension.
Em 11 de julho de 2022, o guitarrista retornou ao Montreux Jazz Festival com The 4th Dimension e a premiada convidada especial Jany McPherson no piano e vocais. Não poderia haver modo melhor de comemorar os seus 80 anos de vida.
O desfile de clássicos é uma dádiva aos amantes da boa música. É o caso de “Old Bruise”, de New Blues, “El Hombre Que Sabia”, bem como “The Creator Has a Master Plan”, de Pharoah Sanders. ‘Abbaji’, de John McLaughlin, é uma peça profundamente emotiva e nostálgica, dedicada ao maestro de tabla Alla Rakha, também conhecido como ‘Abbaji’.
A música é uma homenagem sincera, refletindo o profundo respeito e admiração de McLaughlin pelas contribuições de Alla Rakha à música e sua influência pessoal em sua jornada musical.
A atmosfera meditativa e os ritmos da faixa trazem uma profunda sensação de nostalgia, tornando-a o primeiro single perfeito para comemorar a apresentação de John no Festival de Jazz de Montreux de 2022.
John McLaughlin revolucionou o jazz, trazendo uma fusão de world music, jazz e blues para o mainstream com sua Mahavishnu Orchestra e gravações com Santana e The Rolling Stones, bem como seus álbuns inovadores “Live in San Francisco” com Ali Di Meola e Paco de Lucia.
Ouvi-lo em sua apresentação no Montreux Jazz Festival é um tributo ao bom gosto e a à música em toda a sua plenitude.