Metallica e o sucesso que gera inconformismo e ressentimento

Imagem publicitária do álbum '72 Seasons' (foto: divulgação)

O aniversário de 40 anos de Pete Townshend, guitarrista de The Who, foi repleto de boas notícias e novos projetos. Estava em estúdio gravando o que viria a ser o disco solo “White City”, tinha renovado o contrato com sua gravadora e iniciado a carreira de escritor e editor associado de uma famosa editora de livros.

Era 1985 e The Who tinha acabado. E então o artista foi surpreendido por um questionamento de um diretor da gravadora: “Por que você não compõe mais algo como ‘My Generation’ (o maior sucesso do Who, lançado em 1965)?”

Irritado, Townshend disparou sem pensar: “Tenho 49 anos de idade. Creio que aprendi bastante e cresci. Logo, não penso mais como um rapaz de 20 anos. Existem outros tipos de raiva e maneiras diversas de me expressar.”

Esse tipo de evolução e crescimento faz parte da vida, por mais que haja resistência de “supostos puristas” ou críticos cínicos prontos para apontar o dedo para hipocrisias alheias por puro ressentimento ou inconformismo prlo gato de o mundo dar voltar e as pessoas ficarem mais maduras e serenas.

O sucesso do Metallica costuma suscitar e exacerbar esse tipo de inconformismo e uma série de ressentimentos. Tem gente que está mumificada de tal forma no underground que projeta frustrações em torrentes de críticas e comentários depreciativos encharcados de despeio.

O Metallica superou o Iron Maiden como a maior banda de metal de todos os tempos. É a que mais fatura, mais vende e atrai mais atenção. Há quem arrisque dizer que a banda está no mesmo patamar de importância que Rolling Stones e U2, ao menos em, temos de densa de ingressos. Isso algo inimaginável quando se fala em uma banda agressiva de metal.

À beira dos 45 anos de existência, o Metallica é rock clássico, mas ainda assim tem, gente que ainda espera que a banda lance coisas iguais a “máster of Puppets” ou “Kill’Em All”, repetindo comportamentos jurássicos tão criticados pelos mesmos detratores em relação a outras bandas.

Parafraseando Robert Fripp, do King Crimson (“fazemos música para a cabeça, não para os pés”), o Metallica passou a fazer também metal para o cérebro e não somente para os berros e ranger dos dentes – a mesma coisa pode ser dita do Iron Maiden..

Metallica (foto: divulgação)

Gravando e lançando menos álbuns, o Metallica redirecionou suas composições e expandiu o espectro de temas a serem abordados. Em “Hardwire”, de 2016, o amadurecimento e as dificuldades de envelhecer em um mundo veloz e mais perigosos foram temas de álbum, as músicas.

No mais recente, “72 Seasons”, de 2023, a reflexão é sobre as várias fases da vida e de como é rio ter estofo e repertório emociona para enfrenta-las – é um Metalliica mais reflexivo e, por que não, mais sofisticado, mas ainda conservando um som pesado.

Relacionar evolução e mudança com perda de c9ntendência e relevância é apenas uma muleta mal ajambrada de gente ressentida e inconformada com o sucesso imenso de um artista do qual não gosta.

Dizer que se tornou inofensiva como um “metal de condomínio” é tão raso e raquítico que demonstra um conhecimento parco daa. São críticas muito parecidas com aquelas que sempre vaticinaram a morte dos Rolling os um disco mais fraco nos anos 70 e 80 – para depois eles ressurgirem com bons trabalhos que realçaram a sua relevância.

É o tipo de despeito bastante recorrente nos anos 90 entre pessoinhas que queriam ser do contra e bradar isso para todo mundo – aquele tipo de cidadão que adorava se mostrar “antenado” por gostar de um artista que ninguém conhecia e, depois, desprezá-lo quando ganhava alguma fama. E que adorava rotular de dinossauro e jurássico tudo o que tinha mais de dez anos de mercado, como se isso fosse pecado.

Essa gente que se dizia indie, de independente, adorava desancar Stones. Led Zeppelin, Queen e tudo o que e rock clássico e incensar as porcarias que ouviam e que jamais saíam do porão e do underground. Esse comportamento doente era estimulando por um certo programa de rádio tido como “alternativo” nas madrugadas de uma emissora paulista.

De vez em quando essa doença ainda se manifesta em pleno século XXI como uma forma de se mostrar “diferente” e “alternativo” – ou apenas como uma maneira d chamar a atenção para atrações fracas, insípidas e inodoras que logo afundarão em alguma fossa qualquer.

Em tempos de rock em baixa, longe das paradas de sucesso e soterrados por gêneros musicais abomináveis, como o sertanejo e o funk de variante carioca, é curioso saber que Metallica, rock clássico e rock progressiva ainda incomoda pessoas em certos círculos.

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