O som do ódio que ajuda a financiar o extremismo

A expressão cunhada por uma reportagem da TV Globo colou imediatamente: o som do ódio associado a movimentos político-ideológicos extremistas.

O black metal, não é de hoje, é a trilha sonora dos grupos neonazistas na Europa e na América do Sul, em uma apropriação espúria que desvirtua os reais significados das manifestações culturais.

A Polícia Federal brasileira monitora ao menos de bandas de heavy metal que frequentam de forma assídua eventos ligados ao extremismo e ao neonazismo nos estados do Paraná e Santa Catarina, que concentram o maior número de investigações sobre extremistas.

Os responsáveis pelas células extremistas aprenderam rapidamente com os equivalentes europeus que o black metal é um grande chamariz para uma juventude revoltada e desnorteada, incapaz de avaliar riscos de ideologias enviesadas e eu fomentam o ódio pelo ódio, pelo menos em sua superfície e nos estágios iniciais.

O black metal substituiu o o futebol como vitrine do extremismo e se tornou o som do ódio. O nacionalismo de cunho fascista que predominava nos estádios europeus virou alvo dois serviços de segurança e inteligência dos países europeus e a perseguição a grupos organizados desbaratou temporariamente os grupos neonazistas.

Na América do Sul, principalmente no Brasil, as torcidas organizadas foram invadidas e cooptadas pelo crime organizado, que baniu o extremismo político. Para muitos estudiosos, a migração para segmentos mais underground da cultura foi um movimento natural.

Pesquisas de institutos internacionais e de veículos de imprensa detectaram a presença d mais de 35 mil brasileiros em fóruns e grupos na plataforma de troca de mensagens Telegram participando de células e agremiações neonazistas, uma quantidade considerada surpreendente e assustadora. Quase todos os grupos e células estão associados a a alguma banda de black metal.

Se na Europa essa associação é quase sempre escamoteada ou bastante discreta, na América do Sul esse cuidado é bem menor. A divulgação de eventos não é massiva, mas está longe de qualquer discrição, por mais que se saiba que existem forças-tarefas das Polícias Civis de Rio Grande do Sul e Santa Catarina investigando e monitorando os eventos.

“De forma simplista, a questão é financeira”, disse um investigador gaúcho ao portal de notícias G1. “Os extremistas descobriram que o rock pesado atraía público e que permitia a arrecadação de recursos de forma mais eficiente para manter os negócios escusos e as atividades extremistas.

Não dá para dizer que é surpreendente a associação. A própria cena, em vários locais, contribuiu e estimulou a apropriação cultural por movimentos de ideologias xtremistas – até hoje black metal é associado à violência em países nórdicos.

A expressão surgiu em Newcastle, na Inglaterra, por vota de 1980. O trio Venom se propôs a fazer o som mais brutal e agressivo que pudesse, com letras ofensivas e ultrajantes, indo além do que os punls estavam fazendo. Gravaram um álbum chamado “Black Metal”, violento e elegendo a religião e o sistema político como inimigos.

Dez anos depois, grupos radicais escandinavos adotaram o black netal como trilha sonora para ideias nacionalistas e racistas, em uma espécie de valorização da cultura nórdica em contraposição ao cristianismo que teria “contaminado a pureza dos povos do norte”.

A ideia era agravar uma espécie de guerra cultural de modo a guerra algum tipo de convulsão social e política. Grupelhos de imbecis levaram a sério a insanidade e partiram para o terrorismo, praticando crimes como depredação, vandalismo, xenofobia, agressão e, por fim, assassinatos.

A música extrema do black metal era o elo que conectava os grupelhos anticlericais, nacionalistas e racistas, chegando ao neonazismo exacerbado.

O extremismo ameaçou sair do controle na Noruega no começo dos anos 90, onde várias igrejas cristãs, muitas de enorme valor histórico, foram queimadas.

Era a senha para conectar definitivamente o extremismo político de cunho fascista com o black metal. Apesar de pequeno e incipiente na Escandinávia, a “ideia” se espalhou por Alemanha, Holanda, Bélgica e Polônia, que registraram crescimento do número e de atividades de células extremistas de vários matizes, mas sempre associadas a bandas de black metal ou hardcore crossver.

Na Noruega, o movimento implodiu devido a disputas internas, culminando em assassinatos de líderes e brigas de gangues, e também pela ação eficiente de repressão e desmobilização empreendidos pelos órgãos de segurança, com prisões e condenações pesadas. O msmo ocorreu na vizinha Suécia.

Décadas depois, torcidas organizadas de futebol em toda a Europa ganharam relevância sempre se associando a movimentos de extrema-direita e adotaram, em parte, o black metal como trilha sonora. Foram obrigadas a recuar diante da ação policial coordenada.

Desamparadas, as bandas extremas se voltaram para o radicalismo político a partir de 2010 com a ascensão da extrema-direita em todo o coninente europeu.

Os radicais políticos e neonazistas perceberam rapidamente o potencial alto de atração da juventude desiludida e abandonada, que estava sedenta de ódio. O black metal atraía esse público e ajudava a arrecadas fundos para manter as atividas políticas dos extremistas.

Se o rap e as canções de protesto árabes se tornaram a trilha dos jovens pobres e imigrantes discriminados na França, o black metal e o hardcore crossover extremo eram a música dos radicais de direita, recrutados em uma classe média baixa – incluindo não só os brancos, mas asiáticos e turcos, no caso da Alemanha – contaminados com a falsa ideia de que todos os males do mundo eram culá de judeus e imigrantes europeus.

A existência desse tipo de ideia já é estapafúrdia na Europa, e soa ainda mais idiota e absurda na América do Sul. De forma burra e acrítica, os movimentos extremistas de nosso contente importaram tais ideais e conseguiram cativar uma massa ainda mais burra.

O black metal se tornou o som do ódio em muitos lugares. Parecia improvável que isso ocorresse no Brasil, mas a realidade estapeou acara dos incrédulos. É difícil saber a extensão dessa contaminação e se ela poderá ser estancada,

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