Marcelo Moreira
Ninguém representa melhor o seu público no palco do que Ozzy Osbourne. A declaração, em tom do decreto, é de Zakk Wylde, guitarrista da Black Label Society e o que mais tempo tocou com o cantor inglês. Ele tem autoridade para dizer, já que colocou como meta de vida tocar com “papai” Ozzy.
É difícil de medir o fascínio que certos músicos exercem sobre os fãs, mas certamente Ozzy lidera neste quesito. Jimi Hendrix, John Lennon, Miles Davis foram gênios e são venerados, mas sempre pareceram distantes e inatingíveis, assim como Prince e Michael Jackson. Nada mais diferente de um moleque delinquente de Birminghamn que nunca refutou suas deficiências no palco.
Esse era o grande segredo do carisma de Ozzy: bem longe da perfeição artística de um Freddie Mercury (Queen, 1946-1991) e Bruce Dickisnson (Iron Maiden), Ozzy não tinha problemas em admitir que não era um grande cantor e errava bastante, mas o fazia com tal naturalidade e delicadeza que cativava a plateia, que relevava os deslizes.
Ozzy fazia parecer para nós, moleques que amam o rock dsdes os anos 70, o palco do rock não era inatingível – ou seja, se ele conseguiu, eu e qualquer outro poderia conseguir. Essa simplicidade fazia toda a diferença. Ozzy nos representava.
Sua postura e sua presença de palco fazia com que ele estivesse mais próximo de nós, assim como sua rebeldia e suas criancices, presepadas e exageros fora dos palcos. Mesmo no Black Sabbath, o cantor esbanjava e transbordava uma autenticidade raras vezes vista no mundo musical.
Era tudo o que a meninas e meninos rebeldes e contestadores, quase sempre subversivos, ansiavam encontrar em um ídolo de verdade e que não parecesse inatingível. Sua imperfeição descontraída era seu grande trunfo.
Ozzy Osbourne representava um tipo de dignidade que o show business foi extinguindo de forma deliberada ou cooptando. É só observar toda a rebeldia calculada de Axl Rose, dos Guns N’ Roses, nos anos 90, ou as supostas brigas púbicas de Noel e Liam Gallagher nos shows do Oasis.
A morte de Ozzy deixa estéril e vazia essa seara de artistas verdadeiramente autênticos e que despertam o sentimento de pertencimento. Ele nos fazia sentir confortáveis e confiantes de que não era impossível chegar lá.
Nada mal para um garoto delinquente que fingi tomar conta de carros na infância durante os jogos do time do coração, o Aston Villa.