Para curtir o melhor dde Ozzy Osbourne

Capa do álbum 'Speak of the Devil'

Marcelo Moreira

O príncipe das trevas era apaixonado por Beatles e música pop, Ozzy Oabourne, que morreu os 76 anos nesta semana, era uma contradição musical em todos os sentidos e adorava brincar com isso a ponto de explicitar tal coisa ao gravar um álbum de versões para clássicos atemporais, e não só de rock.

Ele foi a voz do heavy metal ao liderar o Black Sabbath, uma banda de blues pesado em sua essência que tocava rápido e muito alto para atrapalhar os bebuns em pub que insistiam em bater papo e ignorar o grupo.

Era o único sem uma formação musical formal – os outros três tinham as mãos encharcadas de blues, jazz e rockabilly. Ozzy caiu de cabeça na música pop das rádios e se apaixonou logo pelas brlas melodias de Beatles e The Kinks. Não é por outro motivo que canta com delicadeza as baladas importantes do Black Sabbath, como “Changes” e “She’s Gone, esta obviamente inspirada em “She’s Leaving Home”, que os Beatles gravaram em “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”.

Para entender a importância de Ozzy no rock e atestar a qualidade de seu trabalho, mesamo estando longe de ser o melhor dos cantores e dos múisicos, é bom ouvir os cinco primeiros discos do Black Sabbath, o três iniciais de sua carreira solo, uma caixa fenomenal dos anos 2000e dois álbuns ao vivo6m

Com o Black Sabbath:

– “Black Sabbath” (1970) – Disco de baixíssimo orçamento e gravado em horas, apresentou ao mundo o se convencionou dizer a respeito do estilo criado: rock pesado, muito pesado e perigoso, a gênese do heavy metal. A faixa-título é um aterrorizante conto de terror; outras canções eram piadas jocosas misturadas om satanismo infantil, como “N.I.B.” A voz estridente e soando do fundo da garganta faria Ozzy estabelecer um padrão diferente de vocais. “Behnd the Wall of Sleep” é a canção maisn interessante e variada, onde o vocalista mostrou a sua melhor versão.

– “Paranoid” (1970
) -Mesmo sem dinheiro e ainda sofrendo para conseguir tocar em locais decentes, a banda evoluiu muito e Ozzy, mais and. Este álbum colocou a banda definitivamente no mapa do rock britânico e atraiu a ira da crítica: como uma banda “tão ruim” conseguia captar a atenção da molecada – garotos cansados das mentiras e pataquadas do mundo hippie? Black Sabbath era incômodo, ofensivo, perigoso e contestador além de sujo e ultrajante, ou sejam, tudo o que o rock já tinha sido noinício0o. “Paranoid”, veloz e urgente, virou hino, cantado por um noivo herói, que cantava sobre a indestrutibilidade de outros heróis em “Iron Man”, clássico monstruoso, além de flertar com certo realismo fantástico, como “Fairies Wear Booots”. E tem o showvocal em “War Pigs”, um marco entre as músicas de protesto contra guerras e a destruição do planeta.

– “Master of Reality” (1971) – A banda pisa no acelerador e faz turnês incansáveis pela Europa e pelos Estados Unidos, arranjando tempo para compor outro grande álbum em meio a exageros de todos os tipos. Ozzy Osbourne está mais maduro e consciente de sua importância e colabora cada vez mais com o processo de criação. O nível foi mantido e os temas começa a ficar mais sofisticados, com om uso de metáforas para louvar as drogas, como em “Sweet Leaf”, e abordar temas mais abstratos, como em “After Forever” e as desgraças humanas provocadas pela política, como “Children of the Grave”, com seu maravilhoso riff inicial. E ainda tem a extraordinária “Into the Void”..

– “Volume 4” (1972) – O cansaço era evidente e s tensões internas já começavam a causar inquietações. Fazia apenas dois anos que estavam curtindo o sucesso, mas pareciam que tinham dez anos de carreira devido à falta de tempo. Ainda assim é um dos álbuns mais queridos pelo público. Tem a delicada balada “Changes”, mas os pilares são canções fenomenais como “Tomorrow’s Dream” e “Supenaut”, sombrias e tensas. Snowblind” mais uma ode às drogas, se tornou clássico absoluto, roubando o lugar da ótima “Wheels of Confusion”. As 5críticas de que Ozzy cantava mal cessaram com esse disco.

– “Sabbath Bloody Sabbath” (1973) – Considerado o último grande disco da banda com Ozzy nos vocais, é resultado de uma imensa crise criativa que quase encerrou as atividades do quarteto. A combinação de exaustão física e mental com mergulho profundo nas drogas estagnou o Black Sabbath, que rodou por estúdios e ambientes dos dois lados do Atlântico em busca da inspiração. Tudo começava com o guitarrista Tony Iommi, que aparecia com riffs e sequências que eram completadas pelo restante. Demorou, mas os riffs reapareceram e a banda gravou seu melhor álbum, embora não tenha produzido um hit exponencial. É um disco orgânico, homogêneo e sem canções fracas. A faixa-título é uma das coisas mais arrepiante e pesadas do metal, enquanto que “Sabra Cadabra” e “Spiral Architect” capricham nas metáforas e nas ironias. “The National Acrobat” era até então a canção mais ambiciosa do quarteto, quase progressiva, enquanto Ozzy se supera nas mais pesadas “Killing Yourself to Live” e “Who Are You?”.

Na carreira solo:

– “Blizzard of Ozz” (1980) – O Black Sabbath perdia fôlego na segunda metade dos anos 70, mesmo tendo um bom disco, “Sabotage”, de 1975, para oferecer. Só que os dois seguintes, “Technical Ecstasy” (1976) e “Never Say Die” (1978) não venderam o esperado e não renderam hits. Os caras não se suportavam mais e Ozzy decidiu sair em 1978. Spo que se arrependeu meses depois e voltou, mas tudo tinha mudado. Os companheiros torceram o nariz e as brigas ficaram ainda piore. Foi demitido em meados do ano seguinte. Sem emprego. Sem banda e sem amigos, e sem o pai, que morreu naquele ano, o cantor se enfiou em um hotel de beira de estrada nos Estados Unidos e tentou beber até morrer. Foi salvo pela empresária Sharon Arden, inglesa filha de um barão inglês do entretenimento, Don Arden, que também era empresário do Black Sabbath. Sharon o resgatou da fossa, arrumou uma banda para ele e lhe deu uma carreira solo em 1980. Dois anos depois, tornou-se sua esposa. Foi ela também que ajudou a descobrir Randy Rhoads, um jovem genozinho da guitarra californiano que formatou som que transformou “Blizzard of Ozz” em uma das mais imponentes estreias solo dentro do heavy metal. Oxxy estava revgoirado e produziu um grande disco para concorrer com o ótimo “Heaven annd Hell”, o primeiro do Black Sabbath com Ronnie James Dio nos vocais. O álbum é quase uma coletânea de tanta música boa – abre com “I Don’t Know” tem ainda o hino máximo “Mr. Ccrowley”, a bela “Suicide Solution”, o hit “Crazy Train”, a pesada “No Bone Movies” e a clássica baladaGoodbye to Romance”. O Príncipe das Trevas estava de volta.


– “Diary of a Madman” (1981) – Quase quebrado e endividado, Ozzy foi resgatado, mas precisava trabalhar em dobro para voltar ao topo. O segundo disco solo também é muito bom, mas sem o mesmo impacto fulminante do primeiro trabalho. A banda estava redondinha e Rhoads tinha virado o maior nome da guitarra moderna depois de Eddie Van Halen (1955-2020). É um disco bem feito e mais pesado em alguns momentos, com seu lado A do LP contendo as melhores canções – o hit “Over the Mountain”, o clássico “Flying High Again”, a forte “You Can’t Kill ?Rock and Roll” e a tensa e dramática “Believer. Foi último com Randy Rhoads, que morreria em um acidente áereo aos 25 anos durante a turnê do álbum, em 1982.

– “Bark at the Moon” (1983) – ÉÉ um disco importante na carreira de Ozzy por ser uma transição e um momento, mais, um, em que ee precisaria recomeçar. Sem Rhoads, praticamente o seu braço direito musical, correu atrás para recrutar outro talento e chegou Brad Gillis, que tinha um jeito mais bluey, mas ficou pouco tempo. O cetro ficou para outro às do instrumento, um jovem talentoso mas meio encrenqueiro, Jake E. Lee. Excelente instrumentista, faltava-lhe o carisma de Rhoads, além de ainda não ter chegado a um estilo próprio na época. O álbum é inferior aos dois anteriores, mas segurou a onda das mudanças e vendeu bem, mantendo o nome de Ozzy em alta. Houve mudanças na produção, que tornou o som mais saturado e grandioso, tendência que dominaria o hard rock californiano dos anos seguintes. A  faixa-título é i grande hit, e “Rock’n’Roll Rebel” e “Slow Down”  são bem interessantes.

– “Prince of Darkness” (2005) – Caixa com quatro CDs que comemorava os 25 anos de carreira solo do cantor. Os dois primeiros trazem material d carreira solo, as melhores canções e os maiores sucessos. O terceiro CD compilava canções de outros artistas com a participação de Ozzy ou vice-versa. Tem boas curiosidades ali, como o dueto com a filha Kelly em “Changes”, do Black Sabbath. O quarto CD reúne versões de Ozzy para clássicos do rock, interpretando Beatles, Mountain e outros grandes artistas. É interessante porque mostra a versatilidade de Ozzy, até hoje tido por alguns como um cantor limitado.

– “Speak of the Devil” e “Tribute
” – Os dois álbuns duplos ao vivo do anos 80 são símbolos da redenção de Ozzy como artista relevante do rock. Se ele tinha deixado a impressão de ser um vocalista desleixado seu tempos finais de Black Sabbath, isso mudou com “Speak of the Devil”, com repertório de canções do Black Sabbath e Brad Gillis fazendo um bom trabalho nas guitarras. “Tribute” fo lançado cinco ano após a morte de Randy Rhoads e traz este tocando maravilhosamente nas turnês de 1981 e 1982. Tanto ele como Ozzy estavam, com sangue nos olhos” e capricharam nas interpretações.

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