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Paul McCartney no Allianz Parque (Foto: Divulgação/Marcos Hermes)

Em primeiro lugar, a música. Em segundo, Paul McCartney e seu caminhão de grandes canções. Em terceiro, os músicos, a banda. Assim que pode se encarar a apresentação de um dos maiores compositores da história em São Paulo, na última quinta-feira.

Durante duas horas e meia, o que os 48 mil presentes puderam assistir foi um espetáculo em que tudo se resolvia ali, entre os músicos, em cima do palco. O repertório do show é muito semelhante com o da última passagem do ex-Beatle pelo país. A rigor, também não é muito diferente do que foi apresentado em 2011. Mas para quem estava no Allianz Parque, isso estava longe de ser problema. Do primeiro ao último acorde, havia uma platéia com vontade de curtir cada minuto do show, mesmo com um roteiro bem engessado, em que todas as falas de Paul McCartney eram lidas, em seu tempo certo. Mas longe de ser um problema, isso o transformava em um personagem mais simpático.

A presença do trio de metais Hot City Horns também acrescentou um tempero especial em cada intervenção. Em uma delas, “Got To Get You Into My Life”, acabou sendo a senha para que os cannabis afetivos acendessem seus cigarros e curtissem a noite.

Embora, em alguns momentos, a voz de McCartney, aos 81, tenha apresentado dificuldades em canções com notas muito altas, como “She’s a Woman” e na parte final de “Band on The Run”, todo mundo deu de barato. Alguns ouvidos mais atentos também notaram que o violão trastejava, mas nada disso é falha ou defeito – é característica. Falha ou defeito nós apontamos nos desafetos. Com quem temos carinho, tudo vira “característica”.

Em um dos momentos solo, Paul McCartney faz sua homenagem a John Lennon, cantando “Here Today” e, mais tarde, com um ukulele, homenageia George Harrison, cantando “Something”. Confesso que gostaria também de uma homenagem a Ringo Starr. Se “Obla-di Obla-da” faz parte do repertório do show (uma música que não contava com a simpatia dos demais beatles), por que não cantar “Octopus’s Garden”, creditada ao baterista?

No bis, um momento de comoção: John Lennon surge no telão, cantando a sua parte em “I’ve Got A Feeling”, graças a Peter Jackson. Dali pra frente, tudo foi pé embaixo, com “Birthday”, “Helter Skelter” e a parte final de “Abbey Road”, com o épico verso de “The End”: “E no fim, o amor que você leva é igual ao amor que você deixa”.

Ao fim e ao cabo, o saldo é mais do que positivo. Em tempos que muitos artistas se preocupam mais com likes no instagram, em polêmicas baratas e uma série de coisas em que a arte vira um item secundário, em que shows viram trending topics por conta de discussões em redes sociais entre fanbase e haters, em que nos importamos mais com trocas de roupas, efeitos especiais e outros penduricalhos, o que vemos é um show em que a música está em primeiro lugar. Tem cenografia, tem efeitos especiais, tem músicos afiadíssimos, todos a serviço da música. É assim que é, é assim que deveria ser.