Próximo do fim, Golpe de Estado deixa legado gigante

O fim da jornada pode parecer melancólico, mas é grandioso, na verdade. A banda Golpe de Estado, um dos pilares do rock nacional, sobretudo no underground, chega ao fim depois de 40 anos fazendo a melhor música que se pode apreciar dentro de um gênero que sempre teve dificuldades em furar bolhas.

O comunicado emocionado e emocionante publicado nas redes sociais também foi respeitoso com a imensa história da banda e a base igualmente de fãs. O quarteto que segurou a onda após a morte do fundador, o baixista Nelson Brito, em 2024, levou até onde deu a marca pesada e influente, mas entendeu que não faia mais sentido existir.

Entre a decadência de se tornar uma franquia de si mesmo e a perda de relevância no mercado nacional, o Golpe de Estado finalmente aceita que o tempo definiu o seu futuro e que, agora, o grupo é apenas um nome gigante e glorioso do passado do rock nacional.

A agenda, ainda robusta, será cumprida neste ano por conta de vários shows, mas o último tem data: 21 de dezembro em São Paulo, no Carioca Club, um epitáfio adequado para os 40 anos de hard rock por excelência. Um álbum ao vivo deverá ser lançado para coroar a trajetória, provavelmente com uma das últimas performances no palco de Nelson Brito.

Golpe de Estado foi o sonho concretizado de Brito e o guitarrista Helcio Aguirra depois de tentarem fomentar uma cena de hard rock após longa temporada morando na Inglaterra. Com Paulo Zinner na bateria e Catalau nos vocais, a banda demorou a engatar naquele ano mágico de 1985, e então decolou como um nome alternativo, mas pesado e sacana, ao bom mocismo do rock nacional de Paralamas do Sucesso, RPM, Legião Urbana e muitas outras.

A trajetória da banda foi d ascensão até 1994, quando os excessos e desgastes pessoais cobraram o preço, coo sempre acontece no mundo do entretenimento. Catalau, afundado no álcool e nas drogas, saiu da banda parta se curar e virar pastor evangélico.

Abalada, a banda cambaleou por 15 anos e vários vocalistas até se acertar por volta de 2010, mas aí Paulo Zinner briga com Aguirra e Brito e deixa o Golpe, que recruta Roby Pontes e Dino Linardi como vocalista.

Parecia tudo certo e houve o lançamento do ótimo álbum “Direto do Fronte” em 2012, mas a morte de Aguirra em 2014 feriu de morte o grupo. A volta no ano seguinte com Rogério Fernandes e depois João Luiz nos vocais deu fôlego, assim como a chegada do guitarrista Marcelo Schevano, mas o Gole de Estado estava capenga. A chama estava se apagando, mesmo com o bom disco “Caosmópolis” sendo divulgado.

Nelson Brito tentou acabar com a banda quando Aguirra morreu, mas o chamado dos f]as foi mais forte e ele retornou com o grupo em 2015. Sem sua presença, a existência do Golpe de Estado perde o sentido.

O Golpe de Estado se despede com sua missão cumprida e conseguindo o feito que qualquer artista sonha: transformar-se em uma instituição.

Leia o comunicado da banda publicado nas redes sociais: em julho passado

“O ÚLTIMO GOLPE



No final da década de 80 e início dos anos 90, uma banda se destacava na cena nacional e despertava uma grande admiração, não só de nos 4, mas de praticamente toda uma geração de rockeiros brasileiros que viveram para ver o grande Golpe de Estado. O Golpe, para nós, significava amor, liberdade e ousadia.

Ter a experiência de ver Catalau, Nelson, Hélcio e Zinner no mesmo palco era uma aula. E a vida nos deu de presente a grande honra de poder conhece los e conviver com eles tão de perto, tanto como músicos quanto amigos.

Em 2009, Nelson e Hélcio convidavam Roby Pontes para se juntar a eles e gravar o grande álbum chamado “Direto do Fronte”. Foram anos de muito trabalho até que, em 2014, a vida nos pregou um “golpe” que deixou não só a nós, mas a cena musical abalada: perdíamos Hélcio Aguirra.

No ano seguinte, quando a banda completou 30 anos, Nelson resolveu comemorar esse marco, tendo Rogério Fernandes nos vocais, juntamente com Marcelo Schevano nas guitarras e o remanescente Roby Pontes na bateria. Os shows estavam acontecendo acima do esperado e, um ano depois, Rogério decidiu sair e dar lugar a João Luis. Foram centenas de shows, 1 álbum ao vivo ou e 1 de estúdio, “Caosmópolis”.

Em 2024 tudo estava sendo preparado para o lançamento de mais um álbum ao vivo já gravado em comemoração aos 40 anos. Todavia, o baque aí foi grande demais: falecia inesperadamente Nelson Brito, fundador do Golpe de Estado e o verdadeiro motivo de estarmos aqui até hoje. Mesmo com as palavras dele no hospital dizendo “continuem, vocês também são o Golpe”, foi uma pancada terrível, irrecuperável. Fizemos shows em sua homenagem e ao Hélcio, tentamos prolongar até termos o álbum e fazer uma turnê de 40 anos, porém, chegamos até onde deu. O Golpe não existirá mais. Golpe de Estado, seu legado construído nesses 40 anos de existência será eterno.

Sim, assim como Nelson nos pediu, lançaremos o álbum ao vivo e o último registro dele no palco. Foi uma grande festa com a participação de Catalau e outros convidados, e não podia ser deixado de lado. Para encerrar, teremos ainda alguns shows, poucos é verdade, e também aquele que sera o último e já marcado: dia 21/12 no Carioca Club em São Paulo, contando com participações de ex-integrantes. Será uma grande celebração a história do Golpe cuja memória jamais será apagada.



João, Marcelo, Fabio e Roby”

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