Ron Wood e os Rolling Stones: 50 anos de uma grande parceria

Ron Wood (FOTO: DIVULGAÇÃO(

Amigão de todo mundo, o guitarrista Ron Wood era considerado o maior festeiro do rock inglês, principalmente nos anos 70. As festas em sua mansão nos arredores de Londres ficaram famosas por reunir a nata do rock mundial naqueles tempos – era muito fácil ver por ali quase todos os Rolling Stones, pelo menos dois beatles, quase todo o Who, além de David Bowie, Elton John, integrantes de Traffic, Yes e muitos outros.

Irmão mais novo de Art Wood, da banda The Artwoods, desde cedo circulou com propriedade entre a realeza do rock e tanto foi assim que Keith Richards, guitarrista e fundador dos Stones, praticamente se hospedou em sua casa por alguns meses em 1973 – o estúdio caseiro da casa era considerado um dos mais confortáveis e equipados da Inglaterra.

George Harrison, dos Beatles, também costumava visitar Wood com frequência para jogar sinuca e fazer um som. Não foi surpresa, no entanto, que Wood tenha sido chamado para quebrar o galho e substituir Mick Taylor na turnê norte-americana dos Rolling Stones de 1975.

Taylor saíra no final do ano anterior reclamando bastante dos ex-companheiros e Richards nem pestanejou: convidou o então melhor amigo naqueles tempos mesmo sem a aprovação de Mick Jagger – não que houvesse alguma restrição, já que Ronnie estava em boa conta com o vocalista, mas o guitarrista meio que “peitou” o companheiro de liderança nos Stones. A amizade de anos facilitou a convivência e o entrosamento foi quase que imediato, ainda que Jagger fosse reticente quanto á efetivação.

Wood tocou como convidado por um ano e meio, mas a incerteza não o abalou: disse adeus aos Faces no final de 1975, sacramentando a implosão do quinteto então liderado por Rod Stewart – que, diga-se de passagem, mantinha desde 1970 uma bem-sucedida carreira solo paralela.

Há 50 anos, portanto, o bonachão iniciou a sua caminhada para se tornar um stone, ainda que escolhesse receber salário em vez de uma parte dos ganhos da banda O afável e amigão Ronnie Wood não se abalou nem mesmo quando Jagger convenceu o resto dos Stones de que deveriam fazer “testes” para escolher definitivamente o novo guitarrista. Apostou alto na amizade com Richards e no entrosamento com o baixista Bill Wyman e com o baterista Charlie Watts.

Jagger decidiu receber em um estúdio em Munique, na Alemanha, em meados de 1976, alguns amigos e candidatos para jams e testes. Eric Clapton e Jeff Beck passaram por lá, sem saber ao certo se estavam ou não sendo avaliados. Por educação, Ronnie foi convidado também, cruzando com o americano Harvey Mandel, recomendado por empresários e amigos de Jagger.

Em sua autobiografia, Wood conta que conversava durante alguns intervalos dos testes – que marotamente tiveram trechos usados no álbum dos rolling Stones daquele ano, “Black and Blue” – com os amigos Clapton e Jeff Beck.

Em um dado momento, Clapton, consciente de que se tratava de uma “seleção”, disparou: “Não sei se quero, mas me parece claro que eu sou um guitarrista melhor do que você. Não entendo o que ocorre aqui.” Sorrindo, Wood rebateu: “Você é melhor, sem dúvida, mas quem vai ter de aturar Keith [Richards]? Eu aguento na boa, e você? vai conseguir conviver com ele? Quanto tempo dois gênios da música vão ficar juntos?”

Richards nem precisou argumentar muito para impor sua vontade e escolher o chapa Ronnie, companheiro de bebedeiras e de incursões às drogas, entre outras aventuras. Já era um dos auges das disputas de poder entre os líderes dos Stones. Foi a melhor escolha.

Wood como guitarrista solo inicialmente tornou-se o escudeiro ideal para que Richards mantivesse a solidez rítmica da banda. Sem arroubos egomaníacos e nenhuma petulância, o guitarrista narigudo mostrou-se confiável e eloquente, mas sem disputar espaço que jamais seria seu, como, de certa forma, os antecessores Brian Jones e Mick Taylor tentaram.

A amizade falou mais alto, mas o entrosamento musical e uma certa subserviência também contaram, e muito, para a sobrevivência e a longevidade de Wood dentro dos Rolling Stones. São 40 anos bem-sucedidos ao lado da maior banda de rock do mundo. Foi muito mais do que Ronnie poderia esperar. No entanto, fez por merecer e deu uma aula de tenacidade e jogo de cintura. Os Stones acertaram em cheio.

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