A capa com uma foto distorcida era o primeiro indício de que os Beatles tinham mudado e continuavam mudando. Meses atrás a banda pedia socorro no álbum e no filme “Help!”. Olhando hoje, em retrospectiva, era um adeus à beatlrmania e a busca por uma evolução artística.
O rompimento com o passado não foi brusco, mas “RubberSoul”, lançado em dezembro de 1065, mostrava claramente uma direção diferente adorada. As canções estavam mais trabalhadas, densas e com letras mas introspectivas e reflexivas.
“Não ficamos imunes á influência de Bob Dylan, principalmente depois que o conhecemos”, comentou em entrevista o guitarrista John Lennon. Ele gostou de brincar com figuras de linguagem como a metáfora em “Norweggian Wood”, uma maneira relativamente sutil de contar um caso extraconjugal.
Os Beatles estavam mais sérios, compenetrados e buscando novas experiências no estúdio – e já gestavam, em segredo, o abandono dos shows ao vivo, como ocorreu a parir de agosto de 1966.
Os sinais de que era necessário mudar já vinham do outro lado do oceano Atlântico, com as experimentações e realizadas pelos Beach Boys no estúdio nas canções magníficas de Brian Wilason. Também havia novidades nos trabalhos de Byrds e Buffalo Springfield.
Em Londres, os Rolling Stones explodiam como força pop, enquanto The Kinks surgiam com letras diferentes e com um conteúdo mais sofisticado. Era necessário romper com om passado para manter a liderança em todos os sentidos. E “Rubber Soul” foi uma pancada que estremeceu o mercado – os quatro de Liverpool estavam afiados e pronto para mudar de patamar.
O rompimento, é verdade, ficaria reforçado no álbum seguinte, “Revolver”, e o álbum do final de 1965 ainda fazia acenos ao passado em Girl”, um,a balada tocante, mas sem grandes inovações de John Lennon. “You Won’t See Me”, de Paul McCartney, tinha uma levada mais simples e ganchuda da beatlemania.
Entretanto, o peso das guitarras em “Drive My Car”, com sua letra bem sacada e exalando insinuações, apontava os novos rumos;. “Norweggian Wood” apresentava novos timbres de guitarra e violões, além do uso de outros instrumentos, como a cítara indiana.
“What Goes On,”, com vocais de Ringo Starr, o baterista, flertava com a cointry music, enquanto “Run For Your Life”, que fecha o trabalho, era acelerada e pesada, de certa forma, com novos sons de guitarra.
“The Word” e “Wait” exploravam novas possibilidades melódicas e recursos de estúdios, além de revelarem temas mais pessoais de John Lennon e Paul McCartney,, assim como “If I Needed Someone”, a melhor canção d George Harrison até então.
Foi também Harrison quem mais ousou em um tema na politizada “Thinf For Yourself”,e Paul chegou perto na dramática “I’m Looking Through You”, que chama atenção pela pesquisa de timbres de guitarra diferentes.
Dos três principais destaques, duas são baladas. “Michelle” retoma alguma coisa do passado, mas é moderna para a época ao utilizar formas diferentes de construção melódica, além de letra em francês em alguns versos. É uma das grandes baladas de todos os tempos, assim como “In My Life”, delicada e sutil.
Se “In My Life” revelava uma certa fragilidade de John Lennon, Nowhere Man, a melhor do álbum, escancarava essa questão, revelando medo e angústias de uma personalidade complexa e fascinante – um dos personagens mais importantes do mundo n época se sentindo inadequado em todos os ambientes, um homem de nenhum lugar.
“Rubber Soul” foi o trampolim para o grande salto artístico de 1966, que produziria “Revolver” e, mais tarde, a obra-prima “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”.
As experiências mais ousadas em estúdio começaram na elaboração deste álbum e abriram caminho para a consolidação da mais famosa banda de rock na melhor de todas, ainda hoje insuperável.
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