Saxon repassa 50 anos de vida em ótimo disco ao vivo

Resiliência e persistência são palavras muito associadas a bandas de rock que atingiram um certo sucesso, mas nunca estouraram de fato. Enquanto muitos ficaram pelo caminho, com reconhecimento parcial, um rapaz já meio passado da idade decidiu que jamais desistir.

Paul Byfford era muito teimoso e resistiu ao máximo trocar o nome de sua banda de rock, Sono of a Bitch (filho da puta, em tradução livre). Fazer som pesado e com esse nome, era claro que as dificuldades seriam imensas.

Com quase 30 anos e com o Saxon, o novo nome do quinteto, batendo sempre na trave, o cantor de voz forte e rasgada vaticinou: “vai dar certo”.

A dura história do Saxon está completando 50 anos como uma das maiores bandas de heavy metal de todos os tempos. Paul “Biff” Byfford deu a volta por cima e está comemorando o cinquentenário da banda com mais um disco ao vivo, desta vez registrado no festival francês Hellfest. O resultado, para variar, é excepcional.

“Eagles Over Hellfest”, uma celebração vibrante da energia e da longevidade de uma das bandas mais icônicas do heavy metal britânico. Gravado durante a apresentação arrebatadora no Hellfest 2024, realizado em Clisson, França, o disco captura a força bruta e a precisão sonora que marcaram o show como um dos mais memoráveis do festival.

O disco apresenta 14 faixas que percorrem a trajetória da banda, incluindo clássicos como ‘Motorcycle Man’, ‘Power and the Glory’, ‘Heavy Metal Thunder’ e ‘Denim and Leather’. A performance também inclui músicas do poderoso e mais recente álbum “Hell, Fire and Damnation”, como ‘Madame Guillotine’, reforçando a conexão entre o passado e o presente da banda.

A formação atual do grupo conta com Biff Byford nos vocais, Doug Scarratt e Brian Tatler nas guitarras, Nibbs Carter no baixo e Nigel Glockler na bateria. O guitarrista Paul Quinn ainda está na banda, mas só participa dos trabalhos em estúdio.

A entrada de Tatler (da banda Diamond Head) trouxe uma nova energia à banda, perceptível nos riffs intensos e na química com Scarratt durante o show. A gravação destaca a potência da dupla de guitarras e a solidez da seção rítmica, com momentos de pura catarse musical.

“Eagles Over Hellfest”, que está saindo em formato físico pela Shinigami Records, não é apenas uma coletânea de sucessos: é um testemunho da vitalidade do Saxon em palco, da conexão com os fãs e da capacidade de transformar festivais em experiências épicas.

A faixa ‘And the Bands Played On’, dedicada ao próprio Hellfest, serve como homenagem à história dos grandes festivais e à própria jornada da banda.

Em declaração à revista Classic Rock, Biff relembrou os duros anos iniciais do Saxon e considera o mais recente álbum ao vivo como o maior símbolo da vitória que a banda teve em 50 anos de existência.

“Não era ódio, era simplesmente desprezo. Achavam que a banda era muito ruim. Se nos detestassem porque incomodávamos de alguma forma talvez não fosse difícil”, diz o cantor. “A concorrência era muito grande no final dos anos 70e muita gente tinha certeza de que não chegaríamos a lugar algum. Olho para trás e fico orgulhoso do que o Saxin fez.”

Em entrevista ao Combate Rock há alguns anos, quando lançou o projeto paralelo Heavy Water com o filho Seb, que é guitarrista, Biff manteve a humildade ao falar da importância da banda, mas ressaltou a qualidade e a inovação que o Saxon levou ao heavy metal.

“Foram quase cinco anos trabalhando duro até que o Saxon conseguisse espaço para o reconhecimento a partir de 1980”, relembrou o cantor. “Nossos ídolos tinham estourado com pouca ideia e nós já éramos considerados ‘velhos’. A bagagem que acumulamos foi fundamental para que, ao lado de Judas Priest e Iron Maiden, fôssemos considerados a linha de frente de um movimento fundamental do rock pesado”

À beira dos 75 anos, Byfford, pode ser considerado dos mais esforçados “operários” da música pop,

 assim como o amigo Lemmy Kilminster (1945-2015), do Motorhead, que só viu a cor do sucesso depois dos 30 anos.

No raiar da década de 1970, o cantor já era uma figura conhecida nas cidades de Sheffield e Leeds, no centro da Inglaterra e batalhou bastante até formar o Son of a Bitch, em 1975. Era a primeira oportunidade clara de impor a sua visão artística dentro do rock;

Já como Saxon, o grupo abraçou o rock pesado a parir de 1977 e o então hard rock/rock “pauleira” começou a ficar mais agressivo e violento, até para se diferenciar do movimento punk.

Trilhando o caminho aberto anos antes pelo Judas Priest, o grupo finalmente chamou a atenção ao liderar com Iron Maiden e Def Leppard a chamada New Wave of British Heavy Metal” (Nova Onda do Heavy Metal britânico”. A partir de 1980.

Os dez anos seguintes foram dourados, com vendas altíssimas e sucessos imensos de álbuns como “Crusader”!, “Power and the Gory”, “Denim and Leather”, Strong Arm of the Law” e Rock the Nations”.

Com muitos altos e baixos nos anos seguinte, o Saxon manteve a integridade e jamais se afastou de suas origens, por mais que tenha abraçado o hard rock americano entre 1985 e 1990. Saxon é a essência do heavy metal tradicional.

“Claro que os números mostraram ao longo do tempo que nossa banda é bem-sucedida, mas houve momentos em que eu tive certeza que vencemos”, afirmou ao Combate Rock. “Foi quando tocamos pela primeira vez no Brasil, em 1997. A devoção que os fãs demonstraram foi tão comovente que nos impedia de sair do palco. Nunca tínhamos feto shows de quase três horas, pelo que eu me lembro. Senti que tudo tinha valido a pena.”

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