Marcelo Moreira
“Não reconheço o país em que nasci e que aprendi a amar. A frase bateu fundo na plateia e enfureceu o presidente americano de inspiração autoritária e quase fascista Donald Trump, dos Estados Unidos. Por causa disso, o cantor e guitarrista Bruce Springsteen virou alvo da administração de seu país.
O cantor protestou contra as políticas de imigração americanas durante shows em Manchester e Liverpool, na Inglaterra, e alertou para a escalada do autoritarismo e da depredação institucional e dos mecanismos de assistência social; “Alguns pilares de sustentação do Estado estão sob ataque, e a perseguição a imigrantes faz parte desse ambiente espantoso”, bradou o cantor.
Com o desmonte da política federal de educação e a perseguição a diversos artistas críticos ao governo, não surpreende que Donald Trump tenha determinado que os Estados Unidos se retirem da Unesco, o órgão da ONU (Organização das Nações Unidas) para a educação e a cultura.
O motivo: o órgão atua de forma ideológica, e de forma muito diferente do que prega a atual política externa américa, seja ela qual for. Ou seja, o governo americano atua como os países autoritários e ditaduras que destroem a liberdade de expressão.
É a repetição de padrões adotados por governos como do ex-presidente Jair Bolsonaro, no Brasil, que elegeu as artes, a cultura e a educação como as inimigas da nação. Como é possível que o berço da democracia moderna ter sido corroída a al ponto?
O cancelamento de vistos de trabalho e estudo, assim com a perseguição arbitrária (na maioria das vezes) aos imigrantes, já afeta a vida de milhares de pessoas em todo o mundo.
Entre brasileiros, músicos e dançarinos perderam o direito de voltar aos Estados Unidos, assim como cientistas que decidiram voltar ao Brasil por causa do ambiente hostil à ciência e perseguições por questões ideológicas.
Todo esse clima pesado é resultado de novas medidas de cunho restritivo à atuação de quem critica ou se opõe a Trump e suas políticas d depredação institucional. Isso significa, por exemplo, que os agentes diplomáticos e de imigração para devassar a vida de solicitantes de vistos, especialmente nas redes sociais
Foi por esse motivo que a banda punk inglesa UK Subs foi impedida de entrar nos Estados Unidos no começo do ano, perdendo a chance de realizar uma turnê. Esse tipo de coisa também ocorre com outras pessoas consideradas “indesejáveis”.
E, quem diria, a corja trumpista impôs censura às universidades ao exigir que as reitorias impeçam manifestações políticas antigovernamentais, contra a imigração ilegal e contra o genocídio praticado contra os palestinos pelo exército israelense. Surpreendentemente, apenas uma universidade, Harvard, não cedeu – por isso, teve corte bilionário de verbas federais.
Quando a maior democracia do mundo resolve relativizar a própria democracia9, o mundo todo fica em perigo. Trump torce e distorce o conceito de liberdade de expressão e corrói a credibilidade da civilização.
Bruce Springsteen, Neil Young e uma série de artistas serão investigados em todos os sentidos pelo governo americano por causa de críticas a Trump; Quando a maior democracia do mundo decide usar o Estado para perseguir artistas críticos é sinal de que o perigo é iminente e que a vida ficará mais difícil no planeta em curto prazo.