U2 chega aos 50 anos entre a rica história e o rock corporativo

U2 (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Garotos raivosos, mas sonhadores, que se reuniram uma apertada cozinha apertada de um sobradinho da periferia de Dublin, na Irla9nda para dominar o mundo e fazer triunfar o bem sobre o mal e disseminar a justiça social. Cinquenta anos depois, são homens de meia-idade que representam a vitória do rock corporativo.

Nada mal para uns moleques mal encarados que diziam punks e que ainda tentavam aprender a tocar e cantar naquela cozinha apertada s casa do baterista. Ali surgia o U2 , com seu discurso enfezado e pronto para virar o mundo de cabeça para baixo=

Os garotos punks que ganharam notoriedade em 1980 viraram estrelas mundiais em 1985 com suas canções engajadas e políticas e se tornaram um símbolo dos importantes e avassaladores anos 90, quando a banda se tornou símbolo de uma era de consolidação do mercado musical e de entretenimento.

Quando foi que o U2 largou a atitude rock and roll para se tornar a vitrine sonora e artística do mundo yuppie e das altas rodas com sua pretensa arte sofisticada, que servia apenas para travestir a música de elevador que passaram a fazer?

Nestes tempos difíceis de avanço do autoritarismo e fascismo pelo mundo, o ditado político de antes está cadfa vez mais em voga: o conservador protofascista de hoje é um frustrado e ressentido comunista de ontem. Seria essa chaga a acometer o U2 50 anos depois de sua criação em uma modesta cozinha d sobrado irlandês?

O quarteto mudou radicalmente quando aderiu à música eletr|ônica no álbum “Achtung, Baby”, de 1991, ampliando seu público e se tornando a maior banda do mundo, rivalizando com os Rolling Stones em quase tudo, mas pincipalmente nos negócios. Saíram o rock e o protesto e vieram a música comercial e as letras de autoajuda.

Não pode ser coincidência que a banda tenha lançado álbuns e EPs com nomes como “Pop” e “Discothéque nos anos 90, o auge da dominação mundial” do U2.

Com a chegada do novo século e próximo da meia-idade, o enfastiado e acomodado U2 estava na encruzilhada: para onde seguir? O que fazer?

Parece que os quatro músicos não viram alternativa a não ser assumir o rock corporativo e abastecer o mercado com um punhado de música e álbuns pouco inspirados.

Celebridades mundiais, com agendas lotadas por causas sociopolíticas protocolares, seus integrantes parecem não ter tempo ou se interessar por música.

U2 en ‘980 (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Bono Vox, o vocalista, é eterno candidato a prêmio Nobel da Paz, passa mis tempo despachando com presidentes e chefes de Estado do que em estúdioo com os colegas.

Como escreveu em seu livro autobiográfico há alguns anos, assumiu que precisa salvar o mundo e essa seria a justificativa para ficar mais tempo em jantares e em propriedades milionárias de amigos bilionários do que nos estúdios e palcos.

O ativismo de gabinete permanece, e isso não pode ser desprezado, mas é frustrante e decepcionante observar a banda que despontava como a mais combativa e politizada de sua geração abandonar algumas de suas premissas para ceder aos encantos corporativos de uma indústria jamas priorizou os artistas.

As canções com letras emocionantes sobre Martin Luher King, as mães argentinas da Plaza de Mayo (que protestavam contra o desaparecimento de seus filhos na ditadura militar) ou sobre as cidades japonesas devastadas por bombas atômicas foram trocadas por músicas dançantes que versavam sobre sentimentos mundanos e mergulhos em comportamentos hedonistas.

No primeiro álbum ao vivo da banda, “Under a Blood Red Sky” (sob um céu vermelho de sangue, em tradução livre, versos da canção “New Year’s Day”), de 1983, o U2 registrou a versão mais pesada de seu maior sucesso, Sunday Bloody Sunday”, que relembrava o assassinato de 12 manifestantes católicos por soldados britânicos em Derry, na Irlanda do Norte, em 30 de janeiro de 1972.

Ao anunciar a canção, um jovem Bono Box diz que aquela não era uma canção rebelde para evitar represália. Era óbvio, no entanto, que era uma canção rebelde e de protesto, subversiva que apontava o do para os poderosos e senhores da guerra – todos eles. O ativismo de gabinete parece ter apagado episódios como esse da memória coletiva do U2.

A simplicidade de canções como “Two Hearts Beat As One” e a sofisticação estética de Elvis Presley and America” “The Unforgettable Fire” deram lugar a hits radiofônicos como “Vertigo”, canção que tem cara de ter saído de uma linha de montagem. Em relação a músicas mais recentes, a comparação é ainda mais desigual. O álbum “Songs of Innocence”, por exemplo, não produziu uma única canção a ser considerada candidata a hit.

Talvez seja exagero afirmar que o U2 abandonou seu legado de rock aguerrido e engajado, mas o grupo certamente é outro neste século. Se os Rolling Stones são a maior corporação de todas no rock, ainda consegue manter a aura de rock nd roll e uma imagem de de integridade que acompanha outras do mesmo tamanho, como The Who. Por que com o U2 é diferente?

Uma explicação pode seer a postura da banda fora dos palcos, co, o excesso de atividades extras foram dos palcos e as mudanças de direcionamento musical, algo que é complicado na análise – para alguns, mudanças soam como ousadia e modernidade; para outros, pretensão e arrogância. O U2 paga um certo preço pela ousadia, mas também por pretensão e, mais tarde, pelo comodismo.

A banda irlandesa chega aos 50 anos com uma história pesada e grandiosa, mas que suscita questionamentos por conta de várias decisões artísticas dos últimos 25 anos. Infelizmente, o rótulo de rock corporativo está se sobressaindo no começo das celebrações.

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