A mulher nua enrolada em um tapete durante uma batida policial em busca de drogas; o famoso guitarrista que teria cheirado as cinzas do pai cremado; o cantor de heavy metal que cheirou uma fileira de formigas; o baterista que comemorou o aniversário jogado um carro de luxo em uma piscina de hotel.
As lendas no rock são tão importantes que se tornaram parte lucrativa do entretenimento, a ponto de gerar livros, roteiros turísticos e milhares de horas de entrevistas dos protagonistas e supostos protagonistas. São verdadeiras? E quem, se importa?
A publicidade adora lendas e vai a fundo quando se trata de vender ou explorar um produto até a exaustão. Portanto, até que demorou para que uma das mais insanas – e falsas – lendas fosse resgatada e se tornasse uma “homenagem”.
A fabricante de carros inglesa RollsRoyce, na celebração de seus 100 anos, criou uma peça publicitária colocando de verdade um carro da marca, um modelo Phantom, 6em uma piscina como forma de lembrar o “episódio” envolvendo Keith Moon, o baterista da banda The Who, morto aos 32 anos em 1978.
Diz a lenda que, durante a turnê americana d banda, em 1967, Moon comemorava o aniversário de 21 anos com sua habitual extravagância. Bêbado, teria entrado em Rolls-Royce no estacionamento e jogado o carro na piscina de um hotel da rede Holiday Inn na cidade de Flint, Michigan.
A história sensacional entrou para a mitologia de todo os tempos e ganhou ares sérios com o surgimento de várias “testemunhas” ao longo do tempo, como Roger Daltrey, vocalista da banda The Who, que garante ter visto o carro na piscina e que a banda teria sido obrigada a pagar US$ 50 mil de indenização.
Keith Moom gostou tanto da história eu a replicou até fim da vida, afirmando que era verdade, amas fazendo uma correção: não era um Rolls-Royce, mas sim um Lincoln Continental, que era maior ainda. E contava a lorota sem nenhum constrangimento.
Muita gente desconfiava da autenticidade da história, por mais que surgissem mais e mais “testemunhas” ao longo dos anos – um fenômeno parecido com aquele que versa sobre o número de pessoas que estiveram na final da Copa do Mundo de 1959, no Maracanã, entre Brasil e Uruguai.
A versão mais aceitável de que é mentira vem do escritor inglês Tony Fletcher, autor da volumosa biografia do baterista Moon. Em rigoros apuração, constatou que nunca houve registro de boletim e ocorrência na policia de Flint. A rede Holiday Inn nunca registrou qualquer incidente parecido, por mais que tivesse problemas com roqueiros.
Os relatos que colheu das supostas testemunhas vivas em 1998 não batem e apresentam discrepâncias absurdas. E ainda tem fato de que Keith Moon não sabia dirigir – ao menos em 1967 -, sendo impossível que ele conduzisse o carro do estacionamento até a piscina.

Seja co,mo for, ainda que tardia, é de se louvar a iniciativa da homenagem feita pela empresa ao baterista relembrando a lenda – que foi parar na capa de um dos álbuns da banda inglesa Oasis, “Be Here Now”.
Infelizmente, a relação de Keith Moon com os automóveis e com o Rolls-Royce foi marcada por uma tragédia bem verdadeira, documentada, que levou o músico a ser processado e, depois, inocentado.
Nos períodos de folga, o baterista e sua mulher, Kim, donos66 de um automóvel, costumavam pular de clube em clube noturno, com o músico tomando todas. Um amigo de Moon se tornou o motorista oficial .
Em 1870, ao sair de um desses clubes, Moon e Kim foram abordados por um bando de garotos revoltados por não terem dinheiro para entrar nas casas noturna. Em um misto de mendicância e protesto, os garotos reconheceram o baterista e gritavam que ele era um ricaço esnobe e miserável.
O casal logo entrou no carro quando os garotos avançaram sem serem contidos pelos seguranças do clube. Tentaram virar o veículo e o motorista de Mon, que fazia também as vezes de segurança particular, dec6idiu sair e afastar alguns dos moleques.
Paranoico e desesperado, Moon pula do banco traseiro e assume o volante sem saber dirigir. De alguma forma, ligou o carro e o colocou em movimento por cerca de 50 metros. Livrou-se dos agressores, mas não percebeu que atropelara e arrastara p amigo e motorista, matando- quase que instantaneamente.
O inquérito aberto no mesmo ano inocentou-o de responsabilidade pelo acidente e processou dois dos jovens que atacaram o carro – foram condenados. Entretanto, Moon nunca se recuperou do acidente e muitos amigos, coo o baixista John Entwistle (1944-2002), companheiro de The Who, acreditam que ele mergulhou cada vez 9mais fundo na bebida por causa do trauma com o acidente.
Keith Mppn foi encontrado morto em 7 de setembro de 1978 em seu apartamento, em Londres. Na noite anterior, tinha ido ao lançamento de um documentário sobre o guitarrista Buddy Holly (1937-1959) produzido por Paul McCartney. O atestado de óbito constatou overdose de um remédio eu ele tomava para amenizar a abstinência de álcool.
A curiosidade mórbida é que a última pessoa a vê-lo com vida (além da namorada, a modelo sueca Anette Larsen-Staxm,que morava com ele) foi p amigo Kenney Jones, baterista das bandas Small Faces e The Faces, quando os dois saíram do evento para irem embora. Meses depois, Jones seria escolhido por The Who para o lugar de Mopn.