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Galeria do Rock (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Na verdade, quem pede socorro pela Galeria do Rock somos nós, amantes da música e da cultura – e da própria cidade de São Paulo. Ameaçada pela completa descaracterização, agora o ponto turístico sofre com a crise econômica e com o fechamento de lojas.

São tempos difíceis para todos, e a crise se agrava com os alarmantes índices de inflação e de aumento de pessoas em situação. N de fome neste país castigado pela incompetência fascista do governo do nefasto Jair Bolsonaro.

A questão, na Galeria do Rock, é que as consequências desagradáveis estão explícitas nas portas de aço fechadas e das várias placas de aluga-se. Nos nobres primeiro e segundo andares, onde outrora havia muitas e muitas lojas de música, hoje existem ao menos 20 locais fechados. No subsolo e nos terceiro e quarto andares, o número é ainda maior.

Houve tempos em que havia fila de gente querendo alugar. Hoje não aparece ninguém. “Fiquei sabendo de espaços ociosos sem procura há seis meses. Ninguém telefona. Ninguém visita. Nunca vi crise tão grande. Nem nos tempos de Fernando Collor [presidente entre 1990 e 1992, apeado do poder por meio de impeachment])”, diz um comerciante que não quis se identificar.

A preocupação com a “descaracterização” da Galeria, com cada vez menos lojas de música e cada vez mais espaços de venda de camisetas ruins e bugigangas diversas, ficou em segundo plano.

A fuga de comerciantes, abatidos pela crise e pelos aluguéis altos, ameaça tornar o prédio Grandes Galerias, a Galeria do Rock, em mero amontoado de lojinhas de produtos de pouco valor agregado.

“Vendemos cultura e arte. Música é tudo para muita gente, e a aura de shopping musical da galeria se perdeu. Gente que vende qualquer coisa se instalou e despreza esse vasto arcabouço histórico”, lamenta outro lojista que preferiu o anonimato. “Quando lojas importantes como Hellion e Cactus desaparecem é sinal de que as coisas estão ruins.”

A Cactus, especializada em rock progressivo e hard rock setentista, tinha perto de 25 anos de atividade. Derrubada pela pandemia? “Claro que teve impacto, mas vai fazer um ano que retomamos totalmente a atividade e as coisas só pioram. Pequenas empresas não têm acesso a crédito, o poder público não vê a Galeria como ativo cultural e turístico e não encontramos espaço para renegociar valores de aluguéis e condomínio – todo mundo tem seus compromissos”, reclama outro comerciante.

Galeria do Rock (FOTO: REPRODUÇÃO/TV GLOBO)

Este, um pouco mais consciente, percebe que há pouca disposição para que se aborde esses assuntos nas reuniões de condomínio. “Temos de conversar para encontrar soluções criativas de sobrevivência. Estamos em vias de virar corredores de boxes de produtos de procedência duvidosa, como em vários lugares da rua 25 de março. Me incomoda essa inação. Estamos paralisados”, diz este último lojista.

O Instituto Cultural Galeria do Rock existe e segue ativo, mas os comerciantes de música afirmam que a iniciativa poderia ser melhor aproveitada, pois seria uma ferramenta para dar maior visibilidade ao centro comercial e revitalizar o próprio rock no local, que ainda meio caído…

O certo é que a música na Galeria do Rock está morrendo mais depressa, seja pela crise econômica, seja pela descaracterização do lugar com o sumiço de lojas de CDs e DVDs e a proliferação de vendas de badulaques, bonequinhos e canequinhas.

Símbolo mundial, o afundamento do centro comercial parece inexorável diante d conformismo de vário agentes culturais. Em breve será apenas uma lembrança distante.

O Combate Rock tentou entrar em contato com o eterno síndico da Galeria d Rock, Antonio Souza Neto, mas ainda não conseguiu informações sobre as perspectivas do local e sobre a quantidade de unidades para locação non prédio.

Com consolo, que bom que a Galeria Nova Barão, especializada em sebos musicais e equipamentos vintage de som, segue com vitalidade e com aumento de público após a pandemia. O local fica a apenas 100 metros da Galeria do Rock, na rua de trás. O movimento de migração corre há pelo menos 15 anos, mas parece ser definitivo.