Escolha uma Página

 Uma banda de blues suja de boteco. Paul McCarntey não errou quando provocou recentemente os Rolling Stone em uma entrevista numa emissora de TV. O cantor dos Stones, Mick Jagger, levou na brincadeira porque é a ,ais absoluta verdade. É só escutar o primeiro álbum da banda, lançado há 60 anos.

Surgida pela junção de três moleques de 18 anos em 1961, os Rolling Stones suaram muito em espeluncas de toda a Grã-Bretanha por três anos até que pudessem entra em um estúdio levados pela Decca – aquela que recusou os Beatles – e registrassem, de forma crua e pegajosa o seu primeiro trabalho completo.

Ouvir “The Rolling Stones”, mais tarde conhecido como “The Rolling Stones Nº 1”, é uma delícia pela constatação de que era uma época de certa ingenuidade e pireza, mesmo que a beatlemania você predominante e estabelecesse novos padrões de gravação e produção.

Recheado de versões de muitos clássicos do blues e rhythm and blues dos Estados Unidos. o disco transpira urgência e descontração. É mais interessante do que os primeiros singles/compactos – “Com On”, de Chuck Berry, e “I Wanna Be Your Man”, de John Lennon e Paul McCartney, também registrada pelos Beatles.

Das 12 faixas, apenas “uma” era uma composição autoral da banda, “Tell Me” (bem, não foi necessariamente assim), justamente a mais fraquinha, a primeira coisa escrita por Micdk Jagger e o guitarrista kKith Richards.

A vantagem que bandas como Stones, Beatles, The Who, The Kinks e outras que suavam os pubs ingleses é que entravam no estúdio superafiadas – até porque gravar era caro e o tempo de estúdio, muito curto,.

O disco não fez sucesso, mas estabeleceu alguns padrões que foram seguidos por Who e Kinks, por exemplo. Tocando praticamente ao vivo e com muita vontade, as versões clássicas soas frescas e poderosas, mas um tanto sem lapidação. 

Tirando a canção autoral, nada ali era novidade, ou grande novidade. Eram grandes canções dos anos 50 e comecinho dos anos 60 e base do repertório de quase todas as bandas de blues e blues rock da Inglaterra. No entanto, foram os Stones, e depois os Kinks, primeiros a resgatar essas canções quase esquecidas nos Estados Unidos.

Muita gente, então, travou conhecimento  pela primeira vez com o blues raiz dos americanos em LP. Era o caso dde “Route 66”, que abre o disco, em uma versão deliciosa, assim como a pesada “I Just Wanna Make Love to You”, de Willie Dixon, e a urgente “Honest I Do”, de Jimmy Reed;

Rolling Stones em 1965: Brian Jones é o primeiro da esquerda pra a direita (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Tem também uma pungente versão de “Mona (I Need You Baby)”, de Bo Diddley, e os rocks viscerais d” I’m a King Bee”, de Slim Harpo, e “Carol”, de Chuck Berry, que frequentou o repertório dos shows até 1970. E i que dizer da maliciosa versão de “Walking the Dog”, de Rufus Thomas?

Por algum tempo, duas boas canções creditada a Nanker Phelge ficaram envoltas em um grande enigma: quem era esse bluesman americano que ninguém conhecia? 

Muito tempo depois, quando o álbum “The Rollong Stones N} 2” estava nas lojas, é que o segredo surgiu: era o pseudônimo de Jagger, Richards e o produtor/empresário Andrew Loog-Oldham. Ou seja, o álbum que “oficialmente” tem apenas uma canção autoral da banda, na verdade tem três.

Essas duas canções de Namker Phelge são a singela “Now I’ve Got a Witness” e “little by Little”, em parceria com produtor americano Phil Spector. O pseudônimo foi adotado para que se pudesse atestar a qualidade do material sem correr o risco de “queimar” os autores originais – uma ideia estapafúrdia que saiu da cabeça lunática de Oldham.  Spector e o produtor Gene Pitney contribuíram muito para as sessões de gravação e são referidos como “Uncle Phil and Uncle Gene” no subtítulo da instrumental de Nanker Phelge “Now I’ve Got a Witness”.

Gravado no “Regent Sound Studios”, em Londres, em cinco dias em janeiro e fevereiro de 1964, o álbum, como afirmou Richards em 2003: em uma entrevista:  “O repertório refletia o que costumávamos tocar no Crawdaddy Club- uma dieta regular de Jimmy Reed, Muddy Waters, Bo Diddley, com alguma coisa de Slim Harpo. O disco era o melhor do set! Nós o gravamos em um quarto cheio de caixas de ovos, usando um Revox de dois canais. O único profissionalismo que tinha era que o gravador ficava pendurado na parede;.”

O álbum foi produzido por Oldham e Eric Easton, que ajudava o primeiro na administração da banda,  e tendo Bill Farley como engenheiro de som; É considerado um marco no rock britânico, por mais que tenha sido ofuscado pela avassaladora beatlemania. 

Também serviu de cartão de visitas da banda e foi uma estreia vigorosa que ajudou a sedimentar o nome Rolling Stones no mar de artistas que surgiram com a explosão dos beatles.