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Eram garotos que, como alguns, amavam o Iron Maiden e Helloween e que sonharam que poderiam, um dia, também chegar lá. E então resolveram cometer um álbum sensacional de power metal – ou metal melódico -e provar que era possível fazer coisa de qualidade no rock pesado na periferia do mundo.

A banda paulistana Viper foi tão pioneira no Brasil quanto o Sepultura. Sua música chamou a atenção no exterior na mesma época, na segunda metade dos anos 80 do século passado, e deixou os japoneses malucos quando estes souberam que os músicos por trás do LP “Soldiers of Sunrise”, de 1986, eram adolescentes de 16 e 17 amos.

Então, dois anos depois, surgiu o clássico “Theatre of Fate”, disco cultuado até hoje e uma evolução nítida em relação ao trabalho anterior. Era um álbum de “gente grande” e sem a ingenuidade dos primeiros tempos. Tornou-se um marco na história do heavy metal, al´md e revelar o cantor andré Matos (1971-2019), que depois cantaria no Angra, Shaman e em vários projetos internacionais.

Celebrando os 35 anos de lançamento de “Theatre of Fate”, a Fuzz On Discos, união dos selos AMM (All Music Matters), Melômano Discos e Neves Records, relança o segundo álbum do Viper, que atualmente promove o álbum “Timeless” (2023). 

Limitada em 500 cópias, a edição comemorativa de 35 anos vem com capa dupla e está disponível nas versões vinil splatter azul, preto e picture LP.

”Theatre of Fate”, o sucessor de “Soldiers of Sunrise” (1987), trouxe a primeira incursão do saudoso vocalista e tecladista Andre Matos pela música clássica com “Moonlight”, baseada Sonata Op. 27 n. 2, de Beethoven. 

“‘Moonlight’ foi meu primeiro flerte com a música clássica misturada com o rock pesado. Foi um grande laboratório para o que viria a seguir”, contou certa vez Matos à revista Roadie Crew em relação à sequência de carreira.

O guitarrista Felipe Machado, que hoje também atua como jornalista, comemora os lançamentos. “É uma marca importante e remete a uma época maravilhosa do Viper. Nosso último trabalho, ‘Timeless’, também sairá em vinil, e tinha de estar nesse formato. Teremos finalmente o nosso primeiro ‘picture disc’, o que ´um sonho para um garoto se tornou músico.”

“Theatre of Fate” abre com a ‘intro’ “Illusions”, sugerida pelo produtor inglês Roy Rowland, que havia trabalhado com Blind Fury, Kreator, Testament e Satan, entre outros. 

O hit eternizado do repertório, “Living for the Night”, inicialmente não tinha a introdução pela qual ficou famosa. “Era rápida do início ao fim. Nunca imaginaríamos que viria a se tornar a nossa música mais conhecida”, relevou Machado.

A formação da banda havia mudado em relação à estreia. Na foto de contracapa e nas promocionais quem aparece é o baterista Guilherme Martin, que vinha do Megaton e hoje brilha também no Viper e no Zumbis do Espaço.

Porém, quem registrou a bateria foi Sergio Facci (Vodu, Volkana), que apontou outra clássica, “A Cry from the Edge”, como a mais difícil para gravar. “Naquela época, quando não acertava tinha que voltar do começo; não existia Pro Tools”, lembrou Facci, que estava substituindo Val Santos, trocado por sugestão de Rowland. “Val foi responsável por muitos dos arranjos da batida. Ele participou de todo o processo de ensaios”, salientou Machado.

“At Least a Chance”, que inicialmente tinha “At Least the Time” como título, mostrou a ambição dos jovens – Matos tinha 17 anos de idade; Machado, 18; Yves Passarell, 19; e Pit Passarell, 20. “Ela trazia riffs inspirados por melodias típicas da música erudita. Esses elementos foram trazidos pelo Pit, não pelo Andre Matos”, explicou Machado.

Outras com títulos alterados foram “To Live Again”, que atendia por “Vanguard”; “Prelude to Oblivion” era “Prelude to Nowhere”; e a faixa-título se chamava “End of a Fate”. 

O “teatro do destino” não só manteve o Viper em evidência como comprovou a evolução musical dos chamados “Menudos do Metal”, um time obstinado em criar algo diferente. É um álbum poderoso, que definitivamente colocou o Viper no mapa internacional da música pesada.

A lamentar sobre esse período, a saída de matos do grupo, que tinha sido comunicada à banda ainda nos estúdios, durante as gravações. Ele pretendia se dedicar aos estudos de regência, em nível de ensino superior, o que de fato fez, mas tempos depois aceitou a proposta de entrar para o Angra, que estava sendo criado pelo guitarrista Rafael Bittencourt. Isso foi em 1991.

O Viper continuou como quarteto, com o baixista Pit Passarell assumindo os vocais; A troca trouxe uma quebrada rito de ascensão, mas a banda ainda teve ótimos momentos na d[ecada de 1990 com os álbuns “Evolution” e “Coma Rage”, que foram embalados por turnês pelo japão e Europa. 

O som mudou um pouco, ficou mais moderno para a época, quase grunge, além de uma guinada sonora que incluiu a gravação de um álbum em português. marcou também a saída de Yes Passarell, que foi para o Capital Inicial;