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Quem começou o rock pesado no Brasil? A banda paraense Stress? Os cariocas do Dorsal Atlântica? Os mineiros do Sarcófago? Os paulistas do Genocídio? Cada um puxa para o seu lado, mas não tenho dúvidas em dizer que o pioneiro não foi uma banda, mas uma loja-gravadora, a mineira Cogumelo Records.

São 40 anos de existência e de incentivo ao rock pesado. No último dia 16 de outubro, a gravadora reuniu o que tinha de melhor em seu elenco de artistas e realizou um show comemorativo, algo notável em um meio tão instável e tão sem apoio como o heavy metal brasileiro.

Poucos sabem que foi a Cogumelo Records que lançou as bandas Sepultura e Overdose. Em 1985, cada uma foi responsável por um lado do EP-split “Bestial Devastation/Século XX”. 

Na época, meados dos anos 80, era comum que gravadoras pequenas, sem verbas, fizessem o famosos “bem bolado”, com cada banda gravando metade de um LP ou metade de um compacto duplo – o chamado split no exterior.

Se não bastasse o apoio à maior banda de rock do Brasil, a gravadora mineira ainda teve papel decisivo nas carreiras de Sarcófago, Chakal, Mutilator e Holocausto, que figuraram na coletânea Warfare Noise, além de Sextrash, Witchhammer, Vulcano e muitas outras.

“Conseguimos sobreviver por causa da dinâmica da loja, apoiada na produtora de shows, na gravadora e editora…’, explica João Eduardo Faria, proprietário da Cogumelo, em entrevista ao jornalista Eduardo Tristão Girão, do site Divirta-se (portal mineiro Uai).

“Quando a gente produz um disco, já sabe que vai trocá-lo por outros com gravadoras de outros estados e países. Esse material é vendido aqui também. Existe um esquema de intercâmbio e parceria muito forte no mundo do heavy metal que não sei se existe em outros segmentos. Essa rede ajuda a vender produtos e mantém a cena forte. Além disso, o heavy metal, como estilo, nunca passou”, afirmou Faria.

Assim como as gravadoras paulistas Hellion, Die Hard, Laser Company e as lojas Aqualung e Baratos Afins, a Cogumelo fez muito pela existência do rock no Brasil. Ajudou a criar uma cena fantástica, a fomentar a cultura e a moldar um estilo de vida e de cultura até então inexistentes.

Esse grupo de empreendedores conseguiu mostrar que o Brasil tinha uma cena maravilhosa de rock e heavy metal, sem que tivesse de apelar ao comercialismo e à baixa qualidade de parte do chamado rock brasileiro da época, com coisas como Blitz, Legião Urbana, João Penca e seus Miquinhos Amestrados, RPM…

Foram esse empreendedores e muitos outros que deram suporte para que Sepultura, Angra, Viper, Harppia, Dr. Sin, Wander Taffo, Kavla, Wizards, Korzus, Genocídio, Torture Squad e outros fantásticos grupos nacionais pudessem tocar no exterior e conquistar uma carreira internacional até então impensável para qualquer roqueiro brasileiro.

Que os 40 anos da Cogumelo incentivem mais e mais pequenos empreendedores a investir em cultura e em rock pesado em tempos de mp3 e downloads ilegais. Os ouvintes de bom gosto vão agradecer eternamente.