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Boas novas para o rock mais pesado feito pelas mulheres na Europa. Três expoentes na nova geração, ok, nem tão nova assim – estão com ótimos trabalhos nas plataformas digitais e renovando um estilo que parecia estar encalacrado na banda sueca Blues Pills e ma suíça Burning Witches.

A cantora Tania Kikidi era um talento esplendoroso restrito ao mercado grego até que um amigo, o workaholic Stavros Papadopoulos, guitarrista e produtor,m a convenceu a cantar em inglês. Contou com o assédio vigoroso da gravadora americana Grooveyard Records, na qual lança seus álbuns, e então Tania decolou. 

O hard rock presente em “Rock’n’ Roll Paradise”, de 2019 , indicava que a talentosa cantora tinha um futuro brilhante, mas ainda faltava um toque mais pesado e letras menos clichês. E então Stavros acertou a mão nas composições e na produção de “Wings of Freedom” o trabalho mais recente, que entrou na lista dos melhores do ano do Combate Rock em 2023.

Com interpretações marcantes, incandescentes e um timbre de voz com uma leve rouquidão, Tania Kikidi logo remete a divas como Pat Benatar, Alannah Myles  e Ann Wilson (Heart) na fase mais gard de sua banda. Ela não economiza no feeling, como se não tivesse nascido em uma ilha pequena da Grécia, e sim em Atlanta ou Nova Orleans.A parceria com Stavros Papadopoulos foi certeira. O produtor é o responsável por criar uma das melhores bandas de rock da Grécia, a Super Vintage, ainda em atividade, e também pela ótima vanda Freerock Saints, em que toca com outra ótima cantora grega, Arreti Valavanopoulou; No entanto, algo indica que o trabalho com Tania tem algo de muito especial.

À primeira vista a canção forte “Rise” parece um stoner rock, mas na verdade é um autêntico hard rock poderoso movido a guitarras incendiárias.  A voz dela é forte, com dramaticidade e intensidade, mas sem precisar gritar – a voz é forte mesmo, encharcada de feeling.

A abertura tá a deixa para a avalanche de peso e blues rock que aparecem em  “Wings of Freedom” e “Loud and Proud”, com as guitarras na cara e ótimos solos que fariam muito sucesso em qualquer reunião de motociclistas. A faixa-título é uma das melhores, com seu refrão contagiante e riffs bem construídos.

A melhor delas “Heart Painted Blues”, com seu acento bluesy e ótimo trabalho de guitarras, que também são destaque em “Foolish” e na divertida “Breaking It Down”. Como bom disco de hard, tem de ter um tema épico, “Sea of Tears”, grandioso mesmo em versão acústica, que fecha o disco. Tania Kikidi é uma ótima notícia vinda Europa.

Da Suécia reaparece a pesada banda Lucifer com seu occult rock . Em franca ascnsão, o grupo mostrou que estava maduro em “IV”, de 2022, balanceando o hard rock e o stoner e forma a não se atiar definitivamente no heavy metal.

“V”, o quinto álbum, chega ao mercado mantendo as mesmas características – muitas das canções foram compostas e lapidadas nas mesas sessões de gravação – e colocam a banda em destaque no cenário europeu novamente.

Qyem domina as ações é o casal Johanna Sadonis, a vocalista e letrista, e o guitarrista Nicke Andersson, que também toca no Hellacopters e em mais um monte de outras bandas, incluindo a bateria.

Perfeito em criar a ambientação claustrofóbica e pesada das bandas de hard rock europeias dos anos 70, o Lucifer refinou o que estava bem feito em “IV” e aprimorou o trabalho de guitarras, variando a timbragem para deixar o som mais pesado em canções ótima como “Fallen Angel” e Nothing Left to Lose”.

Para escapar da repetição riffs e temas, a sacada de Andersson foi beber nas guitarras de Mick Box, do Uriah Heep, de Michael Schenker de sua fase no UFO e em Rory Gallagher, o mestre irlandês do bues rock. Adicione um pouco de peso e psicodelia e o hard rock ganha estofo nas músicas “The Dead Poet Speak” e “maculate Heart”. O clima pesadão dá uma anuviada em “Strange Sister” e seus riffs rápidos 

DE todas as bandas europeias que têm mulheres nos vocais, o Lucifer, com alemã Sadonis liderando, é a que mais se aproxima de fazer frente a outra banda sueca, o Blues Pills, uma das melhores de blues e hard rock que surgiram neste século.

Lucifer (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Também da Suécia surge a novíssima The Gems, surgida  das cinzas de mais um desmoronamento da banda excelente Thundermother. O quarteto chamou a atenção pela última vez na ótima canção “Dogs As Hell”, de 20222 e parecia com a formação estabilizada. Só que não…
A guitarrista e líder Filippa Nassil celebrava quase dois anos de uma formação estável, com a potima Guernica Mancini nos vocais, mas um desentendimento com a baixista Mona Lindgren implodiu tudo. Vocalista, baixista e a baterista Emlee Johansson não pensaram duas vezes e saíram como Mona para formar a nova banda, que ainda nãp tm guitarrista fixo.

O racha na Thundermother ocorreu no final de 2022 e dois meses depois The Gems tinha dois singles gravados e lançados, “Like a Phoenix” e “Send Me to the Wolves”, mostrando que o trio estava com a faca nos dentes.

Para desespero de Nassil, o som da nova banda é calcado no que a Thundermother faz desde 2015, um hard rock vigoroso com os dois pés na sonoridade do AC/DC das inglesas do Grilschool, misturando uma cento mais pop, como em “Like a Phoenix”, e a agressividade, como “Send Me to the Wolvers. 

E que vocalista estupenda é Guernica Mancini, com sua versatilidade e potência, levando à frente e a outros patamares o que tinha sido um padrão hard rock com Elin Larsson, do Blues Pills.

Na ânsia de se estabelecer rapidamente no mercado, “Fruits of My Labor”, um EP, foi lançado no final de 2023 e traz “Like a Phoenix” e mais quatro canções  que ainda trazem muito da banda Thundermother, como uma espécie de prospecção de mercado .O destaque é a quase punk “P.S.Y;C.H.O”, acelerada e que lembra um pouco Motorhead.

O álbum recém-lançado é “Phoenix”, que inclui as cinco canções do EP, o single “Send Me top the Wolves” e mais uma versão acústica de “Like a Phoenix”, a principal canção da banda até agora,

Sem demonstrar a mesma pressa, as versões do álbum estão mais bem produzidas, com as guitarras mais nítidas e os vocais mais poderosos e bem trabalhados. É um senhor disco de hard rock, mas sem excessos característicos do hard americano. 

Muitas das canções, como  “Queens”, “Domino” e “Silver Tongue”, bebem na mesma fonte da pesada banda norte-americana Nashville Pussy, que é um cruzamento de Motorhead e AC/DC.

Divertido e encantador em aluns momentos, “Phoenix” projeta um futuro bem promissor para The Gems.

Quanto a Thundermother, para não ficar para trás, a banda acaba de soltar o segundo single com a nova formação, “Speaking in the Devil”, que surpreende pela força e potência do tema. É quase tão boa quanto a excelente “Dog As Hell”.

O primeiro single foi lançado em dezembro e se chama “I Left My Locense in the Future”. A nova formação tem Filippa Nassil nas guitarras, Linnea Vikstrom Egg nos vocais, Majsan Lindberg no baixo e Jaan massing na bateria,

A holandesa Sonia Anubis (que também é conhecida como Sonia Nusselder, seu nome verdadeiro) também é uma instrumentista precoce e chamou a atenção muito cedo no cenário de seu país. Era conhecida por fazer uma mistura estimulante de Yngwie Malmsteen e Ritchie Blackmore (ex- Deep Purple).

Com 18 anos foi tocar com a banda suíça Burning Witches, formada apenas por mulheres, mas não chegou a fazer grandes coisas, pois pouco tempo depois aceitou o convite, em 2020, para inniciar os trabalhos da banda brasileira Crypta.

Dezoito meses depois, anunciou a sua saída para focar na banda holandesa Cobra Spell, que ea tinha fundado antes de ir para a Suíça e que mantinha como projeto paralelo. Reformulou a formação e 2022, tornando-a um quinteto feminino para lançar “666”.

Com muita maturidade, Sonia Anubis deixou o metal extremo para conduzir o hard rock classudo e exuberante de inspiração californiana, bem ao gosto dela, uma fã de W.A.S.P. e Kiss. Muito bem produzido e com musicistas talentosas, o Cobra Spell fez uma “reestreia” de respeito, embora sem um pingo de ousadia.

Aos 24 anos de idade, Sonia desfila riffs em profusão e solos criativos, mas ainda deixa a inovação de lado. É hard rock para as massas, para as festas e baladas regadas a muita cerveja e azaração. Esse era o objetivo principal.

“Bad Girl Crew” é a mais emblemática das músicas, um hard típico dde Los Angeles regado a riffs ganchudos e solos incandescentes. Na mesma linha seguem “S.E.X.” e “Satan Is a Woman”, que apresentam boas ideias e soluções melódicas, mas sem o vigor a primeira.

A banda deu de ombros quando foi acusada de reforçar os estereótipos do hard rock machista americano dos anos 80, ainda que as letras, obviamente, tenham o ponto de vista das mulheres.

Cobra Spell (FOTO: DIVULGAÇÃO)

As críticas têm a razão de ser, pois o som da Cobra Spell repete todos os clichês oitentistas possíveis, tanto no om como nas letras. parece que as garotas quiseram apenas virar do avesso alguns clássicos de Poison, Motley Crue e Cinderella, em alguns momentos. 

São os casos das canções encharcadas de clichês “The Devil Inside Me”, “Love = Love’ e “Love Crime”. Portanto, não espere algo novo e diferente.

Sendo assim, ao menos a balada hard soa bacana em “Fly Away”, com um trabalho ótimo de guitarras , com óbvia influências de heart, Pat Benatar e Fleetwood Mac. É mais comercial do álbum.

Com tão pouca idade, mas muita experiência de mercado, Sonia Anubis regeu a confecção de “666” e mostra credenciais ara voos mais altos com sua banda. Entretanto, precisará deixar, ainda que gradualmente, as tão amadas paixões por bandas de hard rock dos anos 80.