Escolha uma Página

O cantor irlandês Bob Geldof suava horrores nos bastidores do estádio de Wembley. Em meio a um surto de ansiedade, teve uma rápida crise de choro. 

Somente ali ele teve consciência do tamanho da enrascada que havia se metido: dois estádios abarrotados por mais de 80 mil espectadores cada um, separados por 6 mil quilômetros, com  mais de 100 artistas mundiais do primeiro escalão em dois megasshows com transmissão ao vivo para 1 bilhão de pessoas.

Geldof tinha certeza que o Live Aid, no dia 13 de julho de 1985, evento beneficente saído de sua cabeça, não ia dar certo. Temia que o som não estivesse bom, que os artistas convidados a tocar de graça não apareceriam, que houvesse alguma tragédia.

Só se deu conta do estrondoso sucesso da empreitada quando foi erguido, ao final do evento, como um herói e ficou nos ombros de ninguém menos do que Paul McCartney e Pete Townshend (The Who). 

Foi saudado como uma das grandes personalidades do nosso tempo,  indicado duas vezes para o prêmio Nobel da Paz. O Live Aid foi tão importante que o 13 de julho se tornou o Dia Internacional do Rock – pelo menos é aqui no Brasil, uma importância que não se vê em outros países.

“O Live Aid pode ter sido a minha grande obra, mas prejudicou totalmente minha carreira, a minha capacidade de fazer o que eu amo. Se não tivesse acontecido, tenho certeza de que eu teria sido capaz de fazer a transição do The Boomtown Rats a uma carreira solo como a do Paul Weller ou Sting”, disse o cantor em entrevista ao site Evening Standard em 2011.

Pode seer despeito, ou mesmo puro rancor. O fato é que os concertos beneficentes mundiais mudaram de patamar e de importância depois do Live Aid – e tudo porque o cantor estava bêbado, o sofá da sala, remoendo o fim dos Boomtown Rats, quando a BBC passou na TV um documentário sobre a fome na Etiópia com images chocantes.

Era um bêbado chato, mas ficou tocado com a tragédia humanitária africana. Começou a disparar telefonemas para os amigos na madrugada e expôs a ideia de algum evento beneficente. Encheu tanto a paciência de alguns que, ela manhã, já havia um esboço de projeto.

O que ele não contava é que não só o concerto beneficente teria a adesão imediata de muita gente como teve de administrar a enxurrada de pedidos dde artistas para participar do evento. Não disse não a ninguém, e assim conseguiu reunir o elenco mais estrelado da história da música e um único evento, que foi dividido entre Londres e Filadélfia, nos Estados Unidos. 

Foi a única vez que integrantes das quatro maiores bandas de todos os tempos – Beatles, Rolling Stones, The Who e Led Zeppelin – estiveram juntos no mesmo evento.

Duas ausências foram sentidas: Pink Floyd, então rachado e à beira da dissolução, e Deep Purple, então recém-reagrupado com a formação clássica, qu oficialmente estava em turnê não conseguiu mudar a data de compromissos. The Clash, estilhaçado, também fez muita falta.

Por outro lado, conseguiu três proezas: reunir o Led Zeppelin, separado desde 1980 e co os bateristas Phil Collins e Chester Thompson, e Black Sabbath com Ozzy Osbourne, rachados desde 1979, e The Who, parado desde 1982.

Entre as bandas que arregaçaram e souberam aproveitar os 15 minutos de palco destacamos Queen, com seu show soberbo, e U2, que consolidou definitivamente seu nome como superbanda. Curiosamente, o mentor, Bob Geldof, não cantou, e nem canja deu…

O Live Aid foi, e ainda é, o maior espetáculoda Terra em termos de concerto musicais.