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Michael Schenker (FOTO: WIKIPEDIA COMMONS/DIVULGAÇÃO/REPRODUÇÃO/ARQUIVO PESSOAL)

O garoto tinha acabado de completar 17 anos e era um astro local como guitarrista da banda do irmão mais velho, também guitarrista. Abririam um show de uma banda inglesa pouco conhecida, mas arrogante. Não se importaram, e os Scorpions fizeram um bom, show.

O que ninguém contava era que a banda principal, já atrasada, baixaria o topete e pediria “pelamordedeus” para que o garoto guitarrista os ajudasse e substituísse o guitarrista deles: Bernie Marsden perdeu o voo para a Alemanha por problemas de visto (essa é uma das versões) e não apareceu – foi sumariamente demitido.

Michael Schenker pediu 40 minutos para aprender algumas músicas e então o UFO, muito atrasado, fez um show mais ou menos, sendo totalmente ofuscado em sua própria apresentação por um moleque de sorriso sarcástico e que não falava inglês.

O vocalista Phil Mogg e o baixista Pete Way engoliram a empáfia e não perderam tempo: 15 minutos depois do fim do show, encostaram em Rudolf, o irmão mais velho de Michael, e que falava mais ou menos o inglês, e soltaram: queriam o moleque com eles em Londres, como integrante fixo do UFO, então uma promessa do rock pesado inglês que batalhava por espaço, embora tivesse contrato e dois LPs sem muita repercussão.

A história é boa e é contada de várias maneiras e em muitas versões. De forma bizarra, há quase 50 anos, Michael Schenker entrava para o UFO e fazia história ao colocar definitivamente a Alemanha no mapa da música pop. Os Scorpions só começaram efetivamente a ganhar fama internacional a partir de 1975.

Schenker mostrou as suas credenciais imediatamente e se tornou um queridinho do underground londrino com solos incandescentes e riffs encharcados de peso, distorção e feeling – uma perfeita reencarnação de Ritchie Blackmore, então no Deep Purple, só que louro, debochado e bem-humorado – humor que foi se perdendo rapidamente à medida que a quantidade de copos de qualquer coisa alcoólica ia crescendo.

Bebendo hectolitros de qualquer coisa, o então bonachão Schenker começou a se mostrar um belo encrenqueiro e encheu a paciência de todo mundo. Aprendeu inglês e não hesitava em enfrentar Mogg e Way, os donos do grupo. Achou que podia enfrentar o cantor, um ex-boxeador amador. Apanhava com frequência, mas nunca recuava. Cm isso, o UFO deixava para trás The Who, conhecida como uma banda onde os integrantes saíam “no braço” com alguma frequência.

Foram muito os hits com UFO, e muitas as suas confusões dentro e fora da banda. Sua guitarra deu o tom em coisas maravilhosas como “Doctor Doctor”, “Only You Can Rock Me”, “Rock Bottom” e muitas mais.

Com Michael Schenker, o UFO quase atingiu o estrelado pleno entre 1973 e 1978, mas falou um passo seguinte, como na rica história do Thin Lizzy, da mesma época. E o garoto alemão cansou de esperar – e de brigar e de apanhar.

Mogg disse certa vez que Schenker achava que era maior do que o UFO, e o pior é que ele o guitarrista provou que estava parcialmente certo. Depois de rápida colaboração com os Scorpions, foi para os Estados Unidos em 1979 depois de abandonar o UFO e criou o Michael Schenker Group.

Entre 1980 e 1984, foi um dos maiores astros do rock pesado, enquanto o UFO afundava e perdia fãs. Álbuns muito bons como “Assault Attack” e “Rock Will Never Die” eram campeões de venda e o transformaram em mago e referência mundial.

Quando o fôlego parecia no fim, reinventou-se ao lado d cantor irlandês Robin McAuley em 1987 e o MSG (Michael Schenker Group) virou McAuley Schenker Group. O som ficou mais suave, mais hard rock de padrão quase norte-americano, sem o peso de antes. Os puristas reclamaram, mas ele ganhou muitos milhares de outros fãs.

Oficialmente, a parceria durou até 1992, com três álbuns e um ao vivo, mas em 1990 o guitarrista já procurava novos ares. Resgatou a carreira solo e tentou uma volta frustrada ao UFO em 1995 no disco “Walk on Water”, que ficou restrito ao Japão por algum tempo. estouro do grunge frustrou qualquer tentativa e Pearl Jam e Soundgarden soterraram a volta do alemão a um clássico perdido dos anos 70.

Houve outras “voltas” ao UFO nos anos seguintes, mas a falta de interesse do público e as brigas absurdas com Mogg, sempre potencializadas pela bebida, travavam qualquer possibilidade de ascensão do UFO, que teve uma série de guitarristas excelentes ao longo das décadas, mas sem inspiração para compor grandes músicas. Gente com Jeff Kollman e Vinnie More foram alguns dos que ajudaram a manter a chama viva da banda – Moore ainda permanece.

Quanto a Schenker, após várias internações para reabilitação, atingiu a sobriedade. Quando tocou em São Paulo cm sua banda em 2012 esteve sob marcação cerrada da então esposa e do amigo Gary Barden, vocalista que o acompanhava. A inspiração voltou e sentiu um gosto de sucesso com pelo menos dois discos de qualidade.

A partir de 2016, por sugestão de empresários, congelou Michael Schenker Group e inventou dois projetos: Michael Schenker Temple of Rock, uma versão mais hard rock de sua carreira, e o Michael Schenker’s Fest, que reúne vários amigos e ex-integrantes de sua banda ao longo dos anos para um tributo a si mesmo.

Deu tão certo que já são três álbuns de inéditas com Temple e dois com o Fest, este reunindo os vocalostas Gary Barden, Graham Bonnet e Doogie White.

Aos 67 anos, o alemão parece mais manso e tranquilo, embora ainda esteja estremecido com o irmão Rudolf. Nunca mais experimentou o sucesso do UFO setentista e de sua banda oitentista, mas segue admirado e reconhecido a peça que fez o a banda inglesa atingir altos patamares e seus melhores momentos.